Se autossustentar é um desafio que o coloca a beira do desconhecido. Você não sabe o que fará caso perca o emprego. Não saberá o que fazer caso fique doente. Mal enxerga o ano passar. As doces e encantadoras expressões da vida são sutilezas que passam despercebidas aos seus sentidos. Como um animal, você só pensa em sobreviver. Quase todas as notícias são assustadoras. Os edifícios altos, as construções deslumbrantes, os espaços vazios, inclusive o céu, são objetos de cobiça para sua autopreservação.
Autonomia e poder de pagar em todas as manhas um café com pão na chapa é ariscado tanto quanto seguro. Uma confiança que não se pode confiar. Segurança completamente insegura. Um problema que também é uma solução. A experiência é a única ferramenta que modela o sujeito a ter condições de suportar a incerteza. Você precisa passar pela situação para no futuro saber evitar ou amenizar. Enfrentar a primeira vez de algo é enfrentar uma grande piscina, funda e de água gelada. Azul porque é irônica. Como um sorriso malicioso. Um carinho violento. Ora, a incerteza esconde algo que pode ser bom, ou, ruim.
Andar pelas ruas com os ombros erguidos. Rir sozinho. Conversar com estranho como se o conhecesse, e ser correspondido. Estar alegre e ter a tranquila lembrança de que tudo está no lugar. Como colocou, como deve ser. Situações de vida que não é fácil conquistar só. É como segurar seu próprio corpo sobre um precipício. Ter responsabilidade de se responsabilizar por si é a evolução que cedo ou tarde o homem deverá se submeter, ou, será submetido.
A vida de alguém se passa em etapas. Algumas destas perduram por períodos maiores. Começar as coisas mais cedo pode resultar em terminar mais cedo. A fadiga de ser responsável por si é rigorosa, mas não é mais que ser responsável por um filho. Fico imaginando como reagirei ao receber uma notícia de que serei pai....?!?!