Descobri que durante a separação, ninguém aceita ressalva e exame de consciência. A separação é soberba, escandalosa, arrogante. Todos gritam e espalham os motivos da discórdia. Já a reconciliação é humilde, ouvinte, discreta. Os amantes cochicham juras e esquecem as falhas. Deve ou deveria ser um amor maduro, um amor que ressuscitou, um amor que desistiu de brigar por besteiras e intrigas. Momentos após a reconciliação se dormir ou pegar no sono pode ser que ainda restaram resquícios de certos preconceitos ou inseguranças, e aquele amor não padronizadamente reviveu, mas se transformou em um monstro, um pesadelo, um Frankenstein, a aberração da duvida, a dúvida da própria dúvida. Sem que se torne um discurso de ódio, de pessimismo, de tolices, eu só acho que caso alguém tenha dormido assim de repente é por alguma razão agonizante ou entediante, algum medo, algum remorso, sei lá, sei que não é mesmo simples viver um luto e de repente depois de um tempo se deparar com o defunto sorrindo.. .
A gente custa aceitar o fim depois custa mais ainda aceitar que nunca houve um fim, que tudo era um teatro de orgulho e tragédia, que a gente chorou à toa, que a gente sofreu em vão, que algumas possibilidade, algumas flores em meio ao lixo não serão mais colhidas porque o lixo rapidamente foi retirado; a limpeza, a higiene e a organização voltaram, a rotina volto, os desaforos voltaram, as explicações voltaram , as exigências voltaram , os confrontos voltaram , os contrapontos voltaram, os nervos, os medos, os sustos, voltaram... Quando finalmente aquela ideia de fim tornava-se recomeço, que aquela sensação de vazio aos poucos se preenchia com vontade de viver e esquecer, quando a vontade de se ter o esclarecimento da última dúvida, a última palavra, o último NÃO; quando você só queria ouvir ou ler que realmente tudo acabou e que não há mais esperança você recebe um sim! , eu aceito sair e tentar se entender! Afinal, lá no fundo, a outra pessoa sofre tanto quanto e aguarda esse momento com carinho... Fracassando com sua raiva e cede por vingança... Fracassando como verdadeiro destruidor de emoções, como o matemático, o racional, o pontual, o juiz, o severo, honesto, íntegro, que deveria encerrar com os últimos argumentos irrefutáveis, indiscutíveis, determinantes... Percebe que é melhor ser inexato do que inexistente. Fracassando em suas convicções e se entregando ao amor que nunca deveria ter se tornado ódio, mas que permaneceu por um tempo assim, que machucou por um tempo, que o silenciou por um tempo e que se não fosse por mais um tempinho ali atuando em seus corações não teriam de longe a oportunidade de dizer o quanto é difícil suportar um corpo apaixonado que renasce das cinzas.
É legítimo, pela ausência de voz, de palavras, de ideias - na paralisia do próprio amor - dormir, pegar no sono. Sim, há uma razão. Reconciliar não é meramente reconciliar: recomeçar com toda a sorte do mundo. Reconciliar é aceitar novamente os defeitos: seus e do outro. Não estarão simplesmente a recuperar o namoro, estarão novamente a unir Fulano e Beltrano, com todas as suas nuanças, suas falhas, seus pecados... Mas, se nada disso intimidar e toda a analogia forem um tremendo delírio, que tudo foi apenas um inofensivo descuido, um cansaço inexplicável, um ingênuo fechar dos olhos desobrigado, então esqueça tudo e aproveite a vida! Aceite o “bom dia” e abandone as magoas. Você não tem tanto a perder, já aprendeu que não vale apena se matar por uma idealização e que não existe demônio ou santo no amor. Não existe certo ou errado, existe o amor e ponto.