Os erros são doenças, como tumores, alguns inclusive incuráveis. Diante do erro deseja-se ou fugir ou reparar. Embora uma das opções sirva como livramento, o que se esquece é de como tudo começou. Impossível tratar uma doença sem saber a sua causa. Mesmo que não aja cura, é provável que aja aprendizado. As doenças são traumas da carne e dos afetos. São dores acumuladas por eras dentro do nosso próprio espaço corporal nas agruras do tempo da mente.
No amor é assim, seja ele correspondente ou correspondido, sofre quem mais desejou. No entanto, não é só a vontade de obter que nos destrói, mas também de não desejar coisa alguma. Quando somos muito jovens não percebemos muito isso, mas a experiência nos revela os perigos do que nossas aparências podem demonstrar. Às vezes não era amor que sentíamos e ainda mais improvável que fosse ódio. Nossas atitudes talvez eram as mais nobres e gentis, sem ambições, sem retorno em troca, sem interesses, com o simples olhar para o outro. Quando finalmente aprendemos a importância de agradar, queremos agradar a todo mundo. Quando finalmente reconhecemos o valor do bem querer, vamos em busca de tempos mortos na esperança de fazê-los reviver. Além da nossa cruz, querer carregar as dos outros. Criar pontes, fazer amizades, priorizar os afetos.
O amor então nasce sem cuidados e sem restrições, levanta voo sem direção e pelo jardim cresce até onde o sol não alcança mais. O amor transborda além do copo, por toda a casa e preenche todo ar. O amor liberta as amarras da dúvida e encanta o novo caminho nunca descoberto. Uma novela nova se inicia, escrita com as lições da dor e do desamparo, pois foi assim que se aprendeu. Demoramos a acreditar e a reconhecer que somos todos iguais ao querermos o mesmo descanso. Abraços e olhares sobrecarregam a própria estima e quando não se vê o amor já consumiu. Você irá dizer que só quis ajudar, que só quis resolver e não percebeu como tudo começou. Não são todas as pessoas que precisam de ajuda, algumas não querem, outras não merecem e haverá as que não somos capazes de se quer estender a mão. Faremos alguém se apaixonar indevidamente. Faremos alguém nos desejar como última saída. Faremos alguém acreditar que seremos o único futuro. Seremos os enviados por Deus e na verdade de Deus não teremos nem mesmo o reconhecimento por tentar fazer nossa parte. Não somos nós quem sabemos exatamente o que fazer. As necessidades estão nas pessoas. Praticamente quase nada temos a oferecer, senão nossa capacidade de se adaptar e interagir. Essas são nossas escolhas.
Dizer não também é se adaptar, dizer não também é se interagir, dizer não também é salvação. Quando descobrimos a importância de se colocar no lugar do outro, descobrimos até onde vão nossos limites na própria relação. É quando nem todas mais são belas, nem todas mais são gostosas, nem todas mais são atraentes. Não iremos mais querer tantos amigos, porque nem todos são tolerantes, nem todos terão sensatez, nem todos serão o que são e nem todos irão de fato querer nossa amizade. Só podemos ajudar quem pede a nossa ajuda. A próxima etapa será ser seletivo e numa outra oportunidade, ou quem sabe numa nova dimensão, poder a todos fazer o bem sem olhar a quem.