Por que não ter recomeçado. Mudado as mobilhas de lugar. Passado a medir, de lá para cá, as decisões ponderadamente. Pois por mais que a chance não existisse mais em si mesma, existia na memória. Hoje muita coisa mudou: diferenciadamente de quando eu era um menino. Agora insisto acreditar que me tornei algo melhor do que fui antes, despercebendo os males que causei. Um tanto rebelde não sei por que. Incompreensível além da conta. Exagerado de ambição e antipatia. Mas a consciência agora é outra. A percepção se converteu como se alguém de algum lugar tivesse dito chega! E é o tempo, o mesmo que eu não respeitava, que tem consumido minhas esperanças. O tempo tem mostrado que tudo é uma questão de paciência. Que não há motivo para correr e dificilmente haverá para ficar parado. Com o tempo esclarecemos nossas duvidas, mas logo em seguida, depois de um tempo, deparamo-nos com outras mais. Eu vivo na escuridão da minha imaginação. Cego de um mundo de acontecimentos que não vejo e de um transcorrer de tempo que não alcanço. Um mundo de coisas que operam através do tempo e espaço somente imaginável para mim como um voo de fantasia. O que é a vida que atrevemos a imaginar, mas que tememos aceitar? Que atividades escusas ocorrem ao nosso redor, ocultamente, por forças que não sei, mas, por algum motivo, anseio acreditar. Nada sei sobre o amanhã, e ainda que o ontem me sirva para algo, não posso mudá-lo. A passagem do tempo nos aprisiona não apenas em uma forçada cena de dias a dias, mas em momentos de esperanças frustradas e tragédias inevitáveis. Como seria preciosa a chance de voltar só para descobrir que ao enfrentar o passado você é obrigado a se encarar. É inevitável, pois de um jeito ou de outro o que tivermos que fazer faremos. A saída da prisão do tempo não liberta da prisão do seu próprio caráter, do qual não há escapatória.