21 de julho de 2013

Avon

        A tristeza apertou meu coração fragilizado que hoje à tarde parecia se partir em mil pedaços. Seu conteúdo escorrido entre promessas quebradas, nos lugares vazios que meu amor costumava preencher. Apoiei o rosto na vitrine molhada e aquele olhar pálido, como um tempo nublado, deslizou lentamente acompanhando o agonizante poente do sol. Como poderia eu saber se esta dor um dia iria terminar? Aquele amor, ao contrário da matéria ou da energia, era uma fonte infindável no universo. Ali sentando eu me transbordei. Que loucura foi acreditar poder obter o que não era meu. Que frio profundo são estes dias de saudade. Da falta que me faz aquele sorriso soltos em momentos que ainda guardo como recordação.


        Um sentimento que crescia a partir do nada. Que não podia ser erradicado nem mesmo do mais negro coração, protegido por um peito machucado. E eu que deveria evitar, porque infelizmente já não há mais tanto folego assim. Se eu soubesse disto, e quem diria que eu iria acreditar? Que antes de uma verdade há sempre outra verdade. Não teria nem uma chance de permanecer no triste banco tomando chocolate até àquela hora. Para que eu não tivesse que saber a segunda verdade antes da primeira; que sentir amor era carregar uma linda xícara que podia se perder ou ser quebrada. Pior, derramar sangue vermelho pelo chão e que o amor não era imutável. Ele pode se transformar em ódio como o dia se transforma em noite e como a vida se transforma em morte. 


12 de julho de 2013

Suco ou semente

        Ter amigos é realmente ter tudo. Em contra partida, essa afirmação é um paradoxo, pois as ligações que se estabelecem entre amizade e apoio são como uma via de mão dupla. A amizade, por mais importante que seja, nos aprisiona na atividade de dar é receber. E a esperança, nesse processo, age como um vício que proporciona a ligeira segurança de existir uma saída para os momentos de aflição.

        Quando se está em família, por exemplo, há a preocupação constante em tirar notas boas; de chegar cedo; de ponderar nas amizades; nos hábitos; nos relacionamentos; de calibrar momentos de ócio, lazer, dialogo, educação e trabalho. Se algo sair do lugar, será motivo de questionamentos e indiretas. Não trazer resultado significa maior cobrança e não muito diferente que um trabalho, as metas devem ser sempre superadas.

        Quando se está entre amigos haverá sempre a questão de confiar ou não. De ter certeza que poderá contar quando precisar, que nem sempre se tem. E não dá para negar que ao ser ajudado se aludi um leve sentimento de vergonha e que às vezes é interpretado por quem ajudou como ingratidão. A realidade é que a última coisa que queremos é precisar da ajuda de alguém. Até porque, ser ajudado pode demonstrar sentimento de compaixão e simbolizar fragilidade do ajudado em não poder ele mesmo se ajudar.

        A contradição está, então, ai. Não é possível afirmar que não ter amigos é não ter nada. Ao invés disso, contar com outros é, em muitos momentos, se escorar nos muros da sorte alheia. A amizade é uma barganha. Uma prisão de afetos. Momentos de dedicação infindável e forte apego pelo receio de um dia se desapegar. São precavidas atitudes e delicados cuidados que nutrem a partilha da qual nos cercam e nos limitam. 

        Ter amigos é ter algo a se prender, que para muitos não deixa de ser uma forma de liberdade. Porém, a liberdade genuína é a liberdade de se estar livre. No mundo das relações sociais o poder está na autonomia e a estratégia na união de interesses. Quanto menos você depender das pessoas, mais livre você se tornará. Isso é mais uma escolha. Desfrutar do refrescante suco transgênico da independência ou cultivar com paciência as sementes da amizade.