25 de agosto de 2013

Você sempre será bela

        A beleza do rosto está na juventude da vida? Seria possível adivinhar qual sua idade? Assim, nessa fase entre uma e outra. Assim, ao te olhar de repente. E te encarar como um cientista encara um problema. Portanto eu te analisei quando veio me chamar. Disse o que queria dizer sem ao menos notar. Quanto eu a reparei. Vi uma menina parda de dúvida. Com um tocante brilho nos olhos e as ideias ainda cheias de esperança. Eu vi um sorriso largo e sem curvas. Uma gargalhada aguda e sincera. Eu vi o que se foi e que não voltará.

        Tratei de reparar dentro do espaço daqueles ligeiros segundos as cintilantes expressões do seu rosto. As enigmáticas feições que lhe davam por parte de mim o benefício da dúvida. Sobre sua mocidade. Sobre sua simplicidade. Afinal quem é você. Quem você foi. O que você viveu. E será que tudo foi o bastante. Será que algo de lá para cá a transformou em alguém melhor. Ou você melhor foi quando hoje não é mais. Está mais bela. Ou será que foi tanto quanto.

        Como acreditar no que vejo apenas por que o que vejo me encanta. Deixa-me sem fala. Fazendo-me pensar no inevitável. Na degradação fatal e desautorizada. Na sua decepção de se ver e não se reconhecer. Confiante de que o tempo tarda. De que ainda há muito que aproveitar. Pois ainda é tempo de se divertir. É tempo de viajar, inclusive ao passado. Pensando no que deixou de fazer e se ainda há oportunidade.

        Mas vamos então. Quantas vezes já não fez as unhas. Quantas vezes já não se desapontou. Já não chorou de raiva. Viu o dia em que nasceu como um dia arrepiante e cheio de verdades das quais você recusa aceitar. Porque embora você ainda ache estar bela, não significa que esteja jovem. Que é o que mata. O que silencia. Fazendo-te elaborar uma estratégia. Arquitetar um plano. Que não te ajudará por toda a vida, mas você sabe que ao menos disfarçará as impressões.

        Você precisa de alivio para o sufoco intenso que seu reflexo te dá, colocando-a entre o adolescente passado e encanecido futuro. Entre a alegria que não sabia e o sentimento que também não saberá. Você poderá até achar injusto, pois eu também achei. Quando refleti nos detalhes da sua face. No amarelado dos seus dentes. Nas linhas envoltas a sua boca. Na flacidez do seu corpo. Naquilo que te consome. Que te faz tornar o que não quer.

        Mas acho que você é tão bela que nem o tempo poderá mudar, até porque a nossa percepção, assim como nosso rosto, por conta do tempo também muda.
Bela por quanto tempo?

24 de agosto de 2013

Nada pior

             Que sempre correr e nunca alcançar. Ser achado ao se esconder. Gritar e ninguém escutar. Procurar e não encontrar. Criar e não ser reconhecido. Respeitar e ser mal tratado. Que se sentir feio. Rejeitado. Que acordar segunda-feira. Ou contemplar aos domingos o rápido pôr do sol. Ouvir a verdade e até ser obrigado a dizê-la. Lutar e não vencer. Ser corrigido. Mudar bruscamente de rotina. Depender dos outros. Se esforçar em vão. Errar mais de uma vez. Trabalhar de graça. Despertar de um lindo sonho. Chorar e ninguém se comover. Se arrepender e ninguém perdoar. Merecer e não ganhar. Não existe nada pior que sentir saudades. Ou vergonha. Ser mal entendido. No momento em que finalmente avança, ser barrado. Ser roubado. Ser humilhado. Acordar depois do ponto. Esquecer justo quando deveria lembrar. Ninguém com quem confiar. Não há nada pior que uma ressaca. Não há nada pior que se sentir solitário. Fazer parte de um acidente. Romper um relacionamento. O primeiro instante ao saber que será pai. O primeiro instante ao ser informado que alguém querido se foi. Nada, nada pior que ser agredido injustamente. Ser expulso sem razão. Dormir com remorso. Ser acusado. Ser excluído. Perder. Dever. Não existe nada pior do que querer e não poder ter. Do que ser enganado. Ou traído. Sentir inveja. Sentir raiva. Sentir medo. Não saber o que fazer. Não há nada, absolutamente nada, pior que saber que independente de como for tudo ainda pode piorar. 

                                                                                                   São Paulo dia 19 de Agosto de 2013
Escrevi este texto em sala aula após ouvir uma colega dizer que não há nada pior que escrever.