24 de agosto de 2013

Nada pior

             Que sempre correr e nunca alcançar. Ser achado ao se esconder. Gritar e ninguém escutar. Procurar e não encontrar. Criar e não ser reconhecido. Respeitar e ser mal tratado. Que se sentir feio. Rejeitado. Que acordar segunda-feira. Ou contemplar aos domingos o rápido pôr do sol. Ouvir a verdade e até ser obrigado a dizê-la. Lutar e não vencer. Ser corrigido. Mudar bruscamente de rotina. Depender dos outros. Se esforçar em vão. Errar mais de uma vez. Trabalhar de graça. Despertar de um lindo sonho. Chorar e ninguém se comover. Se arrepender e ninguém perdoar. Merecer e não ganhar. Não existe nada pior que sentir saudades. Ou vergonha. Ser mal entendido. No momento em que finalmente avança, ser barrado. Ser roubado. Ser humilhado. Acordar depois do ponto. Esquecer justo quando deveria lembrar. Ninguém com quem confiar. Não há nada pior que uma ressaca. Não há nada pior que se sentir solitário. Fazer parte de um acidente. Romper um relacionamento. O primeiro instante ao saber que será pai. O primeiro instante ao ser informado que alguém querido se foi. Nada, nada pior que ser agredido injustamente. Ser expulso sem razão. Dormir com remorso. Ser acusado. Ser excluído. Perder. Dever. Não existe nada pior do que querer e não poder ter. Do que ser enganado. Ou traído. Sentir inveja. Sentir raiva. Sentir medo. Não saber o que fazer. Não há nada, absolutamente nada, pior que saber que independente de como for tudo ainda pode piorar. 

                                                                                                   São Paulo dia 19 de Agosto de 2013
Escrevi este texto em sala aula após ouvir uma colega dizer que não há nada pior que escrever.