21 de junho de 2017

Colapso

     Pensamos, como é de costume, por que e como o outro ainda nós aguenta. Ou poderia ser o inverso? Como ainda é possível existir carinho? Não por algo grave que tenha ocorrido entre nós ao ponto de prejudicar essa oportunidade, mas o simples descuidado rotineiro acaba por favorecer essa interrogação. Longe de ser inconscientemente um desejo, mas uma culpa que demanda castigo. São grandes as chances de nos sentirmos mal quando percebemos termos feito algo ruim sem depois ser represado, porque quando sabemos que não erramos não nos calamos diante das falsas acusações e nem nós contentamos com frias desculpas. Mas quando foi injusto é possível e às vezes necessário receber do mesmo para nos sentirmos curados. Que gentil adoecer quando se errou, mancar, ganhando frouxidão. Lava-se a alma ao viver e pestanejar até que algo igual ou semelhante aconteça para punir e cobrar, removendo-se de nós a sensação de devedor. Se fosse diferente, talvez não houvesse tanta vingança. Se fosse diferente, talvez não machucasse tanto no outro dia. Pois se preocupar demais com o que fazemos implica muito na responsabilidade que demandamos. Se peço desculpas rapidamente, não entenderei quando me fizerem mal e demorarem a se arrepender. Quando me fizerem o bem acharei pouco, isso se chegar a perceber seu valor. Parece caro demais a nossa alegria. Parece exigente demais a nossa esperança. Parece infindável demais as nossas expectativas. Assim como no amor, se não for mais uma faceta do amor, definimos como ingratidão qualquer indiferença. 

20 de junho de 2017

Av. da Liberdade, 32

    Será sempre possível entender alguma coisa. Finalmente haverá de se conseguir perceber o quanto dói e o quanto há de dor a nossa volta. Por todos os lados há quem padeça. O espaço é frio, por isso o espaço aqui é frio. Os corredores são vazios mesmo depois com a luz do sol, mesmo que além disso os pássaros cantem, ainda que com medo dos espantalhos que se escondem por aqui. Os primeiros raios da manhã não merecem refletir em nossos olhos pelas janelas sujas desse edifício baldio. Durante às tardes, tensões correntes por esses andares fazem as moribundas salas sem luzes se entupirem com papéis de histórias tristes. Não é possível, além de tudo isso, tolerar mais dor. Não é possível mais frieza decorrente de fatos, por mais que sejam reais. Não dá para suporta por que naturalmente já é insuportável. Ainda se fosse ficção; ainda se fosse por conta de um imprevisto, ou uma fase, mas sempre não! Todos os dias não! Entre rir e brigar; entre fechar e sorrir, o conflito é quase um suicídio. A intransigência de querer justiça nas relações de trabalho, onde não há mais potência de reivindicar ajuste de comportamento, apenas devora as gotas do que resta de prazer. É por que faliram as vontades. É por que o ego aqui morreu. É por que a felicidade aqui é só um fantasma. A vida, a vida que vale a pena está lá fora, independente se aqui há ou não um problema possível de ser resolvido. Resolver mais problemas aqui é ser ignorante e tentar novamente se matar. Descobri, a vida está lá fora! Fora daqui! Longe daqui. O que está aqui são nossos ossos e máquinas! Pelas ruas ao redor andam ossos e máquinas! A vida está longe, dentro de cada um, individualizada, protegida, prioritária. É por isso que ninguém implica com o outro. Não há tempo para reparar se outro se atrasou ou não. Não há tempo para brigar pelo outro que trabalhou ou não. O tempo aqui deve ser aproveitado com objetividade, já que ao chegar nos deparamos com a mesa cheia por inúmeros processo problemáticos. O trabalho em si é resolver conflitos e curar feridas. É por isso que ninguém repara no outro. É por isso que ninguém reclama do outro. É por isso que todos se evitam. É por isso que todos se ignoram. É por isso que se afastam tanto uns dos outros. É por isso que não ficam por muito tempo num mesmo espeço. Não permanecem juntos para além das poucas frases e do ligeiro diálogo. É por isso que não há cobranças. É por isso que entre nós não devem haver problemas. Na verdade a maior expectativa é que não surjam mais problemas. Na busca dedicada de entender é que será possível sim acreditar numa outra verdade: de que os problemas estão em quem os veem.