Pensamos, como é de costume, por que e como o outro ainda nós aguenta. Ou poderia ser o inverso? Como ainda é possível existir carinho? Não por algo grave que tenha ocorrido entre nós ao ponto de prejudicar essa oportunidade, mas o simples descuidado rotineiro acaba por favorecer essa interrogação. Longe de ser inconscientemente um desejo, mas uma culpa que demanda castigo. São grandes as chances de nos sentirmos mal quando percebemos termos feito algo ruim sem depois ser represado, porque quando sabemos que não erramos não nos calamos diante das falsas acusações e nem nós contentamos com frias desculpas. Mas quando foi injusto é possível e às vezes necessário receber do mesmo para nos sentirmos curados. Que gentil adoecer quando se errou, mancar, ganhando frouxidão. Lava-se a alma ao viver e pestanejar até que algo igual ou semelhante aconteça para punir e cobrar, removendo-se de nós a sensação de devedor. Se fosse diferente, talvez não houvesse tanta vingança. Se fosse diferente, talvez não machucasse tanto no outro dia. Pois se preocupar demais com o que fazemos implica muito na responsabilidade que demandamos. Se peço desculpas rapidamente, não entenderei quando me fizerem mal e demorarem a se arrepender. Quando me fizerem o bem acharei pouco, isso se chegar a perceber seu valor. Parece caro demais a nossa alegria. Parece exigente demais a nossa esperança. Parece infindável demais as nossas expectativas. Assim como no amor, se não for mais uma faceta do amor, definimos como ingratidão qualquer indiferença.