Ouvir dizer que somos uma cabeça engatada num corpo que apodrece; que todo o próximo dia será o primeiro dia de nossas vidas, mas ainda insisto em fazer cara feia. Mas ainda insisto em contar vantagens. Ainda aproveito-me das opções para elevar meu ego. Alegro-me da situação ruim de quem um dia achou que eu não me daria bem. Ainda insisto em dobrar meu pensamento no pensamento do outro. Ainda insisto gastar energia para se apresentar o melhor que eu possa ser. Com minha imaginação sórdida faço a loucura de produzir, pelo raciocínio, um doce veneno que às vezes experimento para testar se ficou bom.
A insignificância da vida diante da morte nos pesa a consciência pela buscar desenfreada de sucesso imediato. Se gabar é um mal necessário. Todo mundo uma vez ao menos na vida já se orgulhou de si em detrimento do outro. Felicidade boa é se sentir bem consigo mesmo ao passo que nem todos estarão. Cuspir para o alto acreditando ser brincadeira de infância. Humilhar sem perceber ou perceber para humilhar. Amar pouco sem se contentar com o pouco do amor, para ter certeza que de onde o amor vem, vem completo. Ganância não é simplesmente exagero, ganância é uma forma de expôr nossa sobrevivência para provar que existimos. Querer para se sentir seguro. Mas infelizmente a única segurança dessa vida é saber que não temos nada a perder perante o próprio corpo que nos abandona e que só restará a consciência perdida e imobilizada pelas consequências inexplicáveis da natureza.