Ontem, ao voltar da academia, um senhor passou por mim. Tinha um defeito físico, não enxergava de um olho, mas andava em cima de uma bicicleta. Eu o vi diretamente pelo lado em que ele não pode retribuir o contato. Desviou-se de mim como um miserável feliz e no segundo poste disse: olá! Era para duas moradoras de rua, provavelmente suas amigas. Resmungaram da falta de água no córrego que costumavam se banhar. Sua amiga, sentada ao seu lado, indagou até quando continuaria, pois assim, ofereceria outra alternativa lastimosa. As duas malcheirosas dividiam a amizade. Então me olharam juntas como o que você quer ou o que teria para nos oferecer. Talvez um milagre, que não fosse meu, cair da moto do menino entregador de pão. Elas correram como se estivesse no horário de almoço, quente e na mesa. O menino parou logo mais a diante e avaliou o prejuízo ofendendo as mazelentas esfomeadas. Não é a primeira vez que o vejo vacilar na curva com a comida. Pilota de chinelo e com a segurança do veículo irregular. Já entregou pão a um vizinho do meu quintal. Esse, que trabalha vendendo milho cozido com manteiga em frente à estação, nunca o vi folgar ou folga quando geralmente estou trabalhando. Todas as vezes que me vê reclama do tento úmido do seu quarto. Penso se é o melhor que pode fazer. Por que temos dois olhos?