6 de maio de 2015

ninguém é de ninguém

        Na academia ela aventava a beleza do relacionamento: ir de bicicleta para adiantar as pernas. Não era isso o fruto do desentendimento. Eu não poderia saber, falavam mais baixo que o coração. Não era o estilo deles levantar suspeita. Quem me disse foram as cores em desenhos nas pernas, para trocar com os braços. Nele um tribal sério, nela um céu desorganizado por pássaros. Se eu pudesse ao menos interrompê-los para dizer que ninguém é de ninguém. Se eu pudesse avisar que toda a alegria é a alegria de viver. Se eu pudesse, antes mesmo que um deles almejasse sair sem dizer tchau.

        O amor cuspiu em mim a verdade que a vida inteira procurei. Como doía meus olhos ver a dor de suas mãos. Tremulas, já não tinha mais vontade de se definir. O peso era sobrenatural que seu corpo pudesse sustentar. Por isso ele parou como uma estátua em frente ao a puxador. Agora detalhista, nunca tinha reparado que um lado da corda era menor. Nunca tinha atendido que o terceiro peso da máquina estava trincado. Sem palavras. Sem reação. Ela se foi. Sem ao menos dar tchau. Abandonou a dieta. Abandonou a malhação. Quem há de negar queria o melhor para si?

        Vai saber se não era ele quem mais exigia. Vai saber se não era ela quem mais se despreocupava. Na cabeça de ambos o amor então me disse... faço histórias e crio esperanças, comigo tudo é divertido como um jogo. O amor é assim. Só estabelece interesse. Que seja bonita, que seja dedicado, que seja atenciosa, que seja carinhoso. O amor é assim. Parece com a sorte. Mesmo que tudo esteja bem. Mesmo que os veja hoje disputando a esteira, pensarei: cuidado, isso é perigoso!

        -mas só estamos brincando.

        -toda brincadeira é um jogo.