15 de agosto de 2017

Sânie

Hoje não é meu dia.
Sofrendo excessos de saudade.

Lembrei-me de uma ficante que adorava uma droga. Lindíssima. Coberta por tatuagens aparentemente sem noção. Tinha um cabelo ruivo enorme. Parecia uma diaba. A experiência dela me faz falta. Gostaria tanto de saber o que tem usado. Como têm se satisfeito ultimamente. O mundo alucinógeno de prazeres é um mundo de consumo como qualquer outro. Situações de surpresas, de descobertas, de paranoias, de vício, de rotina e de arrependimentos, de aprendizagem e de desmistificação.

Quando ela me contava suas histórias urbanas, ficava eu sem reação alguma. Imaginava-me pendurado nos muros dos prédios públicos e privado pichando palavras de ódio, marcas de dor, traços do descontentamento. O bom é que embora o álcool consumisse seus órgãos e ideias, sua beleza permanecia intacta e sua memória viva como hoje. É que se hoje você a encontrar por aí, verá o ontem vivo e atuante, como se ela não mudasse, como se ela não parasse, como se ela não dormisse e nunca saísse da ressaca.

Sua estagnação nos hábitos era sua evolução nos pensamentos. Ela se desenvolvia por dentro. Não terceirizava seus defeitos. Não deixava jamais de ser o que era, de continuar a ser o que foi. Aprendeu assim e assim aprenderá dentro do que aprendeu sem deixar de aprender mais sobre as coisas que não quer esquecer. Alguém que ama o que faz é ela que ama virar o copo quando vira a cabeça olhando o céu. Era diferente essa menina. Nunca disse querer parar. Nunca reclamou dos seus costumes. Nunca se viu prejudicada pelos excessos.

Saia sozinha, sem combinar de se encontrar com alguém. Gostava de achar por ai o que não tivesse dono, para poder voltar quando quiser ou ficar até decidir fugir. Só ela é quem poderia me explicar como é tomar do próprio vomito. Nunca a vi contar sobre seus fantasmas. Nunca a vi demonstrar ter esperança. Não havia mistérios nessa mulher, era só revolta.