Quem se imaginaria amando sem vontade? Quais os requisitos para acontecer tal desejo indesejável? Que caminhos percorridos a fim dessa jornada inexplicável e aparentemente eloquente? Quem desejaria conviver por essas emoções tão infringentes. Emoções que desequilibram nossas verdades até aqui. Quando pensávamos que nada mais seria possível surpreender, surge aí então uma nova empreitada doentia. Surge aí uma luz forte e temerosa por todos vistos pela sua generalista incompreensão. Surge ai à principio o esclarecimento das almas a serem veneradas por suas conquistas e superações, respeitadas por suas dores e seus mistérios. Luz que organiza uma vida anteriormente vadia e moribunda. Luz, aquela responsável por dar forma e materializar, tornando possível a manifestação de planejamentos reais e anseios palpáveis. Luz brilhante o bastante para orientar meios para o seu próprio desatino e para além de confundir nossas certezas, confundir se a sua saída é de fato a melhor solução. A luz insistente de um amor rejeitado, que reflete as observações das melhores maneiras de se comportar, de perceber, de tolerar. Somos por ela guiados ou perseguidos, mas que através dessa labuta diária dos esforços desse amor, vamos desprendendo de condicionamentos ancestrais, para se tornar um ser individual e consciente do exercício de nossa missão pessoal, livrando-nos de amarras e culpas. O amor fracassado emite uma luz de desespero em busca do preenchimento de lacunas, que anteriormente teriam sido supostamente negadas pela vida e pelos progenitores. Diante desse amor, não se sabe se o melhor seria se entregar ou se fugir. Encantadora, a luz do tanto querer sem remediar guia nossos caminhos pela sensibilidade da compaixão. Quem já teve o amor rejeitado sabe o que significado ser condenado pelo próprio amor que sentiu, mas incomensuravelmente angustiante é ser amado e não corresponder. Ser amado e não retribuir. Quando amamos não escutamos o fora. Não escutamos que ela ou ele não nos deseja de verdade. Mas quando não amamos quem nos ama estamos ferrados! Ela vai persegui-lo por um bom tempo. Talvez toda a vida. Você pode avisá-la que não tem chances, que não adianta insistir, que não é por mal. Ela ficará ainda mais encantada com a dificuldade, a ponto de encher sua caixa de mensagens com frases românticas de superação, tipo: “Não sabendo que era impossível, foi lá e fez”. Você não atende mais nenhuma ligação dela. Nenhuma das vinte. Primeiro, deixa tocar; depois, põe no silêncio; em seguida, desliga na cara. Ela dirá que está ocupado, e que compreende o excesso de trabalho. Você desmarca cinco vezes um encontro. Ela irá concluir que foi coincidência. Você decide ser mais contundente e passa a ser grosseiro, ofender, falar baixarias. Ela fará interpretações terapêuticas, explicando que você está com raiva, e quem tem raiva ama. Você pode barrá-la em tudo. Ela tratará de dizer que é medo de um relacionamento sério. Você pode mudar de estratégia e ser educado, explicar uma por uma de suas razões com toda a paciência. Ela entenderá que sua calma é um sinal de que finalmente vem aceitando a paixão. Você declara que só quer ser amigo dela. Ela é capaz de rir e acreditar que já é um começo. Não existe escapatória. Quem ama entende o que quer e faz o que quer. Inventa desculpas no nosso lugar, cria desculpas para continuar amando até convencer de que outra luz jamais será igual e que a indiferença só nos trará a dor de não sentir.