27 de abril de 2018

Promiscuidade

A presença do mal é essencial ao nosso desenvolvimento como pessoa.

O que achamos ser o certo não necessariamente significa ser o bem.

O mal é justamente isso, o oposto do desejo.

O mal é a controvérsia, é a lágrima de uma paixão.

O mal é a luta pelos nossos direitos.

O mal é a busca desenfreada pelo amor, ou por um, sublime e coerente.

O mal também é o sucesso em detrimento de alguém.

Para ser bom é preciso não respirar, não se defender e nem de longe atacar.

Para ser bom é preciso ser nada e ninguém.

Para ser bom é preciso ficar inerte, imóvel, quieto, derramado em ossos velhos e empoeirado.

Para ser bom só sendo palavras.

O cadáver é a fantasia do bem e o bem é a alma do cadáver.

Sofremos para sermos bons.

Choramos para fazemos rir.

Sorrimos para fazermos gritar e o grito mais alto é a bandeira mais extensa do que poderia representar uma explicação para a paz de alguns, mas não de todos.

A inveja desperta o medo, mas não há amor maior do aquele que temos por aquilo que não possuímos.

Ser bom é não ser. 
Ser bom é não amar. 
Ser bom é não viver. 
Ser bom e feliz é ser sozinho num deserto invisível.

Não dá para querer ser certo o tempo todo.

Posso caminhar pelas areias frente ao mar e não servir bem aos olhos de quem não me perceba além do próprio corpo.

Posso cuspir em minhas mãos e cantar sorridente esperando alguém me aplaudir.

Posso me jogar de um edifício e causar dores ou alegrias com a explosão da consciência.

Podemos dormir e acordar eternamente, sem perceber quase nada, se foi um sonho o que era real ou real o que de fato é real.

Se não for certo, talvez seja gostoso.

Submissão

            A falta de liberdade não consiste em tão somente estar censurado ou constrangido, e sim em estar desregrado, em não se encaixar no tempo do que é o amor. Pois entre ele e o ódio encontram-se os prazeres da carne que no fim apunhalam o coração. Nasce de lá e daqui a mais pura vingança de um amor não correspondido. O tempo passa, o espaço aumenta, tudo fica frio pois a alma desacelera. O que antes era empolgação agora tira o sono; o que antes brilhava agora queima de tão gélido e pálido ficou. Duro é desistir, partir e não se enganar outra vez. Mas o amor é assim, é sempre pelo que é oferecido. O encantamento é assim, sempre pelo que foi demonstrado e interpretado, muitas vezes, equivocadamente. Tarde demais. Impossível retroceder, o presente é quem diz. Dormir agarrada e se sentir confiante é o espaço da alma no tempo, e o que para muitos seria nojento, para outros se torna excitante. Não se espera o fim, não se espera a verdade, aqui o que se quer é ser desejada. Fácil, rápido, caiu para dentro e deu gargalhada. Bebeu, fumou, estimulou o momento no vácuo. Que idade chegamos? É preciso se corromper para ser feliz. Que espaço é este? Se é criativo como luzes vermelhas no céu ou manchas douradas são rasgos feridos viajando agressivamente na velocidade da luz. Todos os dias promessas são quebras, isto é de tempos em tempos revivemos as dores comuns, mas que desejamos parar e aceitar ficarmos talvez congelados. Se fôssemos rápidos, se fizéssemos tudo com pressa, a vida seria mais lenta. A vida só é duradoura para alguns porque é intensa, frenética, logo, viciante. Quem vive assim não quer menos, quer mais. Custe o que custar, jamais ficar para trás. E penso, será que no cosmos é assim? Constelações de machos e fêmeas disputando igualdade? Ou somos diferentes, pois somos os únicos que amamos? Somos os únicos que sonhamos e por isso é que avançamos, perseguindo objetivos. O tempo é ansioso, pois ele não para. Somos ansiosos porque não paramos e por amor nos submetemos a tudo. O ódio é exatamente o amor demais. Perceber nos faz pensar e a temperatura cair. Um passo ao tempo de amar incondicionalmente.


O Destino da Morte

        A vida só tende a piorar, sempre. Não é só pessimismo, também é probabilidade. Se fosse para ser melhor nem criança deixaríamos de ser. Se fosse para ser melhor nem do útero teríamos saído. A vida já começa fracassando, e até os mais sábios sofrem inúmeras atribulações. Podemos pensar diferente, acreditar e manter a fé. Esperança também é remédio e remédio também é droga. Os doces são remédios e o otimismo talvez o mais natural quando original de nossas emoções, mas no fim a morte é o que conta na soma de quem somos. Vale muito o que fazemos, vale demais amar então, já que o fim é inerente. Vejo a luta dos outros por amor como lutas praticamente vitoriosas. Lutas que serão consagradas e condecoradas em prêmios de paz, após tantas transformações. Já fui assim e sei bem como é ser alguém que já tanto amou, somos aqueles sem medo de morrer, pois morrer não será o foco, morrer se quer estará a vista. Só quem está mal na paixão é quem pensa na morte e enxerga seu destino de encontro com ela.

A Alma e o Sexo

          De várias maneiras poderia iniciar minhas palavras acerca deste título. De diversas maneiras a alma se uni a outra no holocausto da paixão. Quando o prazer se troca ou se iguala, a alma sente a diferença, a alma muda, se transforma, evolui, mas quando não combina, cai como de um abismo na ilusão do que não era amor para os românticos ou tentação para os devassos. Quando não há afetos maiores que os desejos. Quando os desejos não são piores que os afetos. Quando o prazer se torna tudo, até motivo de continuar ou de se arrepender. Quando o prazer é objeto e poderá salvar ou arruinar a união. Então os fetiches decoram as exigências, fantasiando promessas de um futuro melhor. Nos entregamos e nos permitimos. Algumas coisas que são novidades se tornam hábitos e outras ocupações, muitas delas só para agradar ou ser agradado. Submissão, mas não amor, e o respeito é só em público. O respeito é só por negação e esconderijo. O respeito é apenas não assumir a falcatrua e rejeitar toda verdade e sacanagem. Ninguém quer vestir a camisa dos prazeres da carne por uma razão muito cristã e muito hipócrita até então. Mas ninguém quer. Servirá só para dormir e para enxugar as lágrimas talvez de tanto desgosto. Um sempre sofrerá mais que o outro quando existe alma e sexo. Mas quando só existe isso e isso por si só é o que se uni e se move, sem a supervisão e o cuidado do coração mas apenas vontades reprimidas, o prazer além de prazer se torna pranto. As noites se tornam dias. As explicações e exigências acumulam e transbordam as expectativas do que seria bom. A alma sente cada pedaço e cada desatino da traição. A alma sente cada mentira e cada exagero à satisfação de um outro ego. Não se pode perder a criatividade e nem a transparência por ele. Não dá para ficar calado ou gemer em silêncio já que quer ouvir e se tranquilizar. A intimidade vira ruínas como os cabelos desajeitados plena madrugada, e o amigo querido deitado na cama bêbado sem ouvir os desabafos da alma estilhaçada pela falta de independência é o protagonista da alucinação. A noite que era para ser uma noite feliz foi desvinculada e dela cobrada os feitos mais absurdos e eróticos de uma imaginação sádica, enredo da beleza de uma obra pornográfica que para prevenção ou sorte da alma o sexo não aconteceu, as imagens não foram capturadas e nem as vozes ouvidas. Um não sentiu o alívio da tensão e o outro lutou para proteger os seus próprios afetos forçados também a própria corrupção. Pois entre a alma e o sexo, quando não há a leveza do carinho há a vingança do prazer. Existem várias formas de não sofrer, uma delas é transformando o outro em objeto para alma não sentir e só o sexo permanecer como poço ou refúgio, um para quem ainda tem alma e o outro para quem praticamente a perdeu de tanto a esconder.