27 de abril de 2018

Submissão

            A falta de liberdade não consiste em tão somente estar censurado ou constrangido, e sim em estar desregrado, em não se encaixar no tempo do que é o amor. Pois entre ele e o ódio encontram-se os prazeres da carne que no fim apunhalam o coração. Nasce de lá e daqui a mais pura vingança de um amor não correspondido. O tempo passa, o espaço aumenta, tudo fica frio pois a alma desacelera. O que antes era empolgação agora tira o sono; o que antes brilhava agora queima de tão gélido e pálido ficou. Duro é desistir, partir e não se enganar outra vez. Mas o amor é assim, é sempre pelo que é oferecido. O encantamento é assim, sempre pelo que foi demonstrado e interpretado, muitas vezes, equivocadamente. Tarde demais. Impossível retroceder, o presente é quem diz. Dormir agarrada e se sentir confiante é o espaço da alma no tempo, e o que para muitos seria nojento, para outros se torna excitante. Não se espera o fim, não se espera a verdade, aqui o que se quer é ser desejada. Fácil, rápido, caiu para dentro e deu gargalhada. Bebeu, fumou, estimulou o momento no vácuo. Que idade chegamos? É preciso se corromper para ser feliz. Que espaço é este? Se é criativo como luzes vermelhas no céu ou manchas douradas são rasgos feridos viajando agressivamente na velocidade da luz. Todos os dias promessas são quebras, isto é de tempos em tempos revivemos as dores comuns, mas que desejamos parar e aceitar ficarmos talvez congelados. Se fôssemos rápidos, se fizéssemos tudo com pressa, a vida seria mais lenta. A vida só é duradoura para alguns porque é intensa, frenética, logo, viciante. Quem vive assim não quer menos, quer mais. Custe o que custar, jamais ficar para trás. E penso, será que no cosmos é assim? Constelações de machos e fêmeas disputando igualdade? Ou somos diferentes, pois somos os únicos que amamos? Somos os únicos que sonhamos e por isso é que avançamos, perseguindo objetivos. O tempo é ansioso, pois ele não para. Somos ansiosos porque não paramos e por amor nos submetemos a tudo. O ódio é exatamente o amor demais. Perceber nos faz pensar e a temperatura cair. Um passo ao tempo de amar incondicionalmente.