Tenho uma preferência curiosa quando começo a escrever: penso num título e depois desenvolvo o enredo. E isso vale para tudo. Pensar no fim, e ir aos poucos planejando o desfecho. Pensar no inicio e com calma desenhar trechos do caminho. Pensar na janta enquanto queimo o almoço. Pensar na carreira me qualificando com outra coisa. Enfim, pela conclusão que chegamos à introdução. Há quem fuça toda a vida para chegar em um lugar, enquanto poderia fuçar qualquer lugar para chegar a uma vida. Há quem acorda querendo dormir. Há quem dorme querendo acordar. Há quem morre para depois sobreviver.
O outro lado parece ser amar todas as coisas. Aceitar o tempo, seja ele curto ou infinito. Chegar no meio termo com freio, com fôlego, com sangue e dignidade. Narrar todo um contexto e num momento qualquer corrigir todos os pontos. Não há paciência para revisão. Queremos acertar sempre. Buscamos ter certeza, pois a dúvida incomoda. Quando somos convidados e convidamos alguém, o que queremos são garantias de que nada irá constranger. Desejamos prestígios quase que como buscamos seguranças. O desconhecido nos assombra. Toda novidade apavora. O que não é inveja é ciúmes. A vida poderia ser um texto, e o título um final. A vida poderia ser um convite, e a morte uma festa. Mas o convite que é a morte, é só nosso, de mais ninguém. Sinta-se a vontade, apesar da solidão, a festa é única.