8 de setembro de 2018

Sórdida Eternidade

     O mapa é o coração. Os caminhos, marcados pela história, quebram entre rios e lagos, às lágrimas do planeta. Entre a vida e a morte os laços e fios que tecem nossa existência revelam a incontrolável situação de existir. Viver começa ficar fácil no ponto mais absurdo ou cômico da existência. Tão fácil a ponto de nos impormos referências do que vale ou não investir, se vale ou não continuar. A vida começa a parecer meramente um jogo de escolhas, de opções, de interesses. Você a sente quando você finalmente decide dançar sem hora, sem motivo. Você a sente quando compreende seus pais, quando respeita os mais velhos. Você a sente quando acorda dos seus sonhos vivo, embora a certeza absoluta de ter explodido no tempo. Você a sente quando sente que machucou alguém, que perdoou alguém, que deu abraços sentindo enorme saudade. Você começa a viver quando percebe que não sabe quando nasceu e desconfia se um dia morrerá. Você sabe que vive quando você tem trocados para dar ao pedinte, mas entre as janelas dos olhos, as camadas de vidro e os papéis da esmola você pensa no futuro das coisas. As fotográficas de uma noite molhada e as reflexas da vida marginal giram em sua mente o colocando em consciência reciproca com a miséria do mundo. Você percebe que vive quando os fatos se repetem cada vez menos enigmáticos, porém ainda mais sórdidos. Você descobre que vive quando desconfia que morra. Guimarães Rosa já dizia que “a gente morre é para provar que viveu”. Eu reforço dizendo que a gente vive é para provar que não morre. Morre quem desisti, mas o problema é que no fundo sempre queremos recomeçar, então não haveria morte, mas eternidade e a alma seria perene nesse desasseado mistério de existir.