22 de janeiro de 2015





      Ouvir dizer que somos uma cabeça engatada num corpo que apodrece; que todo o próximo dia será o primeiro dia de nossas vidas, mas ainda insisto em fazer cara feia. Mas ainda insisto em contar vantagens. Ainda aproveito-me das opções para elevar meu ego. Alegro-me da situação ruim de quem um dia achou que eu não me daria bem. Ainda insisto em dobrar meu pensamento no pensamento do outro. Ainda insisto gastar energia para se apresentar o melhor que eu possa ser. Com minha imaginação sórdida faço loucuras. Produzo pelo raciocínio um doce veneno: às vezes experimento, para testar se ficou bom.

      A insignificância da vida diante da morte é o que nos motiva a busca pelo sucesso. Se gabar é um mal necessário. Todo mundo uma vez ao menos na vida já se orgulhou de si. Felicidade boa é se sentir bem consigo mesmo. Cuspir para o alto acreditando ser brincadeira de infância. Humilhar sem perceber ou perceber para humilhar. Amar pouco sem se contentar com o pouco do amor, para ter certeza que de onde o amor vem, vem completo. Ganância não é simplesmente exagero, ganância é sobrevivência. Querer para se sentir seguro. A única segurança dessa vida é saber que não temos nada a perder perante o próprio corpo que nos abandona e que só restará a consciência perdida e imobilizada pelas consequências inexplicáveis da natureza.



Meu amor

              Irei deixar a maior cicatriz em seu coração. Irei acabar com suas esperanças. Irei de deixar perdida sem ideia de como depois recomeçar. Eu irei te convencer de que valerá a pena ser humildade até depois do fim. Você será infectada pela maior saudade dessa vida. Você será constrangida pelos seus próprios desejos e se envergonhará pelos seus próprios impulsos. Você será forçada a me procurar. Mas quando esse dia chegar falarei em seu ouvido que nada do que faz é motivo de embaraço. Que não é humilhação correr atrás de mim, ao mandar mensagens e insistir, tentar, nem que seja a última vez. Você só se humilhará se estiver mentindo. Quem fala a verdade está em paz. Você só se humilhará se oferecer o que não pode dar. Falsas promessas não duram uma semana. Você só se humilhará ao perceber que está perdendo espaço. Amar é dar espaço. Você só se humilhará quando não souber o que está fazendo. Quem faz o que deseja não tem motivos de se sentir na dúvida nem envergonhado. Você só se humilhará se não tiver coragem de agradecer, mas no momento derradeiro, pedir desculpas, porque pedir desculpas é mais fácil, é agi conforme nosso desespero. Você só se humilhará se acreditar que não há mais vida, não há mais ânimo, não há mais força. Amar é ser fraco, mas ser fraco juntos. Amar é sofrer e ser feliz tudo ao mesmo tempo: a felicidade traz o esquecimento e o sofrimento deve criar coragem, mas não desanimar. Só desanima quem nunca quis. É por isso que eu quero por antecipação. Não se assuste com os meus planos. Significa que não terei vergonha do que penso e me entregarei por inteiro.



Incongruências do amor

         Sentimento cruel é o amor. O amor das nossas vidas. Até o amor que vem da família. Todo o amor herdado dos céus. Onde fica a fonte verdadeira dessa incoerência? Para no presente amar sem remediar e no futuro não se arrepender. O amor que amamos, para fazer o amor acontecer, não possui limites. Já perdemos todo o controle apenas por tentar controlar esses impulsos de amar. Não há regras no amor. Nem adianta dizer que irá ficar solteira para o resto da vida por conta de desentendimentos do passado. Nem adianta se perder pelo amor de amar porque o amor é a surpresa que odiamos e ao odiar tomamos juízo de que amor maior não há. Odiar é amar a si mesmo pelo desencontro de interesses, já que amor é interesse, senão, sobrevivência. Engano aceitar o amor como a sensação misteriosa que faz mais o coração pulsar, dilatando nossa memória. Mas não é simplesmente isso as coisas do amor, aparentemente a nos libertar à prisão que ele nos constrói. Sentir o peito crescer de lembranças e abraçar o corpo por tanta saudade. Chorar pelo passado errado, na tristeza de não ter dado certo e não prosseguir como o amor prometeu. O amor nos salienta pela nossa própria esperança, se aproveitando dos nossos próprios desejos. O amor, sublime amor. É composto por faces, dividido por episódios, cada qual uma reação diferente. O amor, involuntário, ardil e horrendo ao óleo negro em branco leite. O amor que alimenta a perspectiva de inventar e ser criativo a cada amanhecer. O amor, que também magoa, mas além disso elimina a vontade de acordar e quem sabe matar o sofrimento junto com a gente. Daí sobrevivemos, todos as vezes, recuando com a experiência de aprender que amar não é se encontrar, mas se perder. Abriremos mão da falsa alegria, assim, se sentindo seguro e protegido pela conveniente inteligência. De repente estamos amando, novamente, invadidos sem querer. Damos mais uma chance ao desconhecido, fazendo do próximo o analgésico da dor de cabeça anterior. Aproveitando da vontade do outro para realizar a vontade nossa. Fazendo do amor apenas uma obra aparente de se ver a justificar o tempo perdido. Se aproveitar da carne para enganar a consciência, negando o receio de retomar a solidão incompreensível. Essa é a sina do coração. Lutar, viver, dando significado as lagrimas da paixão. Por que o amor é viciante? Porque o amor é assim, tão incongruente? Por que o amor é assim, tão desairoso? Por que o amor contamina a perspectiva da dor. Por que o amor nos desmonta em mentiras? Por que o amor nos faz sorrir sozinho como louco e chorar pela multidão como criança? O encontro de duas vergonhas, mas o arremate de duas audácias. Os vários palavrões misturados ao prazer sem pudor, para na ausência de interesse a timidez de pedir desculpas e o cerceamento do ânimo de abraçar outra vez. Por que o amor é assim, triste mas alegre? Cheio de vitorias entre tantos fracassos. Por que o amor é assim, infestado de tentativas e não-acertos, mais a ilusão de acreditar, porque o amor é acreditar, mas acreditar desconfiando. Por quê? Por que o amor é o amor e não a certeza? Por que o amor não é como a luz do dia e o escuro da noite; o início da vida e o fim com a morte? Por que o amor é como é e não como sonhamos, pior, as vezes se assemelha ao susto como um pesadelo.


Tristezas do mundo

           O problema é que eu falo. Minha verdade. Cada qual como pode. Cada qual como quer. Como sente. Sentir é o que se sente, o tempo todo. Para. Pensa. Deseja. Mas não fala. A mente não deixa. Junto, a experiência. Da derrota. De tentar. Se frustrar. Não falamos. Uma questão de vergonha. Mas se você se constringir e se rebelar, prova de que é você quem errou. Só faz barraco quem errou. Quem não erra se amedronta. Desiste. Uma questão de injustiça. O problema é que eu falo. Eu falo o que penso. Alguns não teriam essa coragem. A dor da solidão os impendem. O pânico da represaria os limitam. Nossa consciência não tem culpa. Me ajude a chorar. Não entendo as tristezas do mundo. Claro que cada um faz o que pode. Claro que cada um tem seus defeitos. Claro que por conta de te amar eu sofro. Como a menina ao lembrar do garoto de olhos claros no fundo da sala. O desgosto de vê-lo correr pelo pátio sem percebe-la. O pai que sai do caixa eletrônico com salário no bolso e é surpreendido com um tiro no peito. Quem falará por ele senão talvez os céus retribuindo com lagrima fria, bate na pele e sente na carne. Sentir é o que se sente, o tempo todo. Ódio. Soberba, até mesmo estando errado. Não é fácil errar. Desonra quem achávamos que éramos. Se flagrado na cama com outra e continuar amando, amar mais. Amar melhor e se arrepender do que foi bom. Liberdade ou Justiça?



Uma casinha velha

          Sempre haverá uma casa favorita em nossa imaginação. Sempre haverá a lembrança do lugar por onde um dia se passou. Sempre haverá nos olhos o cheiro daquele quintal misterioso. Na menina dos sonhos dependurada a faixada do velho portão. A garagem suja de folhas secas. O pó contaminou o brilho. Mas os dois ou três passarinhos restantes preservam a memória do conforto. A tranquilidade só alcançada naquele lugar. Naquele casa sozinha e abandonada. Naquele jardim descuidado repleto de bichos conversando entre si. Dentro da casa reina o silêncio dos fantasmas, mas diante do dia ensolarado a luz renasce a esperança da limpeza. A vontade de misturar água ao sabão e fazer a casa se embriagar de espuma. A vontade de se viciar no látex branco pra fazer companhia a paredes maltratadas. Brincar com argamassa como se brinca com argila, tapando os buracos da história. A placa de vende manteve a cor original castigada pelo tempo. Da dó de injetar óleo nas dobradiças enferrujadas da portinhola. O barulho assombroso é a campainha silenciosa. A sujeira da janela decora com horror a visão exterior, mas por trás do circulo limpo com álcool se encantar com a beleza dos outros vizinhos. A rua é onde se compõe o desejo de quem procura paz. Um silêncio absurdo. Uma tranquilidade paranóica. Os vizinhos, durante a semana, são indiferente, estariam muito ocupados. Desejará folgar na semana. Mas curioso, final de semana talvez escutará um bom dia apressado, um coral de saudações, a família partindo para um lugar que possivelmente seja tão bom quanto aquele, todos com cara de que estariam prestes a aprontar algo de errado. Despertará um inconveniente curiosidade. Passar o domingo na cadeira de balanço e não fazer questão de procurar outra diversão. A casa é um arco íris de comodidades. Depois de tudo, dos ligeiros assaltos a geladeira, depois dos chutes na bola pelo corredor, depois de lavar o carro e escorregar no chão molhado. Depois de cozinhar, comer, largar a lousa sujar, mais tarde sentir remorso e lavá-la, ir ao super mercado, ligar o ar condicionado e botar um ótimo som, ainda haverá o quarto e o imenso colchão pronto para absorver o choro de alegria. As vezes o tédio é felicidade, mas a gente não percebe.



Deuses: grandes negócios $



            Uma vez me disseram que o início de uma discussão religiosa só seria bem aceito se fosse com a fé compartilhada, se os princípios e ideais fossem iguais e se não houvesse discriminação entre as crenças.  Isso desmonta qualquer vontade de quebrar paradigmas, de surpreender com novas teorias ou de provar a existências de seres extraterrestres por exemplo.  KKKKK Diz que prefere preservar-se no silêncio a lutar pelas próprias convicções. Não dispõe de interesse em defender seu dogma, mas de difundir sua alegria. Não entra em guerra pelo que acredita; faz da sua crença o princípio da paz.  Bom seria assim, o homem capaz de acreditar no que quer sem criar preconceitos. Mas não, claro que não! Tanto prova que religião nunca deixou de ser uma forma de disputa, de conflito e de grandes negócios.   Ah não? Então pare e pense... conflito árabe-israelense.  Falo das tensões entre judeus e árabes que começaram a emergir a partir da década de 1880 do século XIX, quando judeus provenientes da Europa começaram a emigrar, formando e aumentando comunidades judaicas na Palestina, quer por compra de terras aos otomanos, quer por compra direta a árabes proprietários de terrenos. Estabeleceram-se assim comunidades agrícolas nas terras históricas da Judeia e de Israel, que eram então parte do Império Otomano. Historicamente, os antigos judeus desde os tempos bíblicos chamaram sua terra de Israel, Canaã, Judeia, Samaria, Galileia e outros nomes há muito tempo. Judeus modernos, e alguns cristãos, acreditam que, de acordo com a Bíblia e a Torá, Deus deu esta terra para os antigos judeus (também conhecido como hebreus ou israelitas), liderada por homens como Abraão, Moisés, David, e outros.  Cerca de 2.000 anos atrás, o Império Romano dominou esta área, e, ao suprimir várias rebeliões judaicas, destruiu o templo judaico na cidade de Jerusalém, matou um grande número de judeus e forçou muitos outros a deixar sua terra natal em um êxodo chamado diáspora.  Nesta ocasião, o Império Romano mudou o nome da Terra de Israel para Palestina. Alguns judeus permaneceram na área, mas um grande número desses não retornou até os séculos XIX e XX. No século VII, os árabes muçulmanos invadiram a Palestina, e por ai vai...  Mas resumindo: religião e negócio se confundem.     Igrejas como “Bola de Neve Church” e “Batista do Povo” possuem sistema de maquininhas para cartões de débito e credito.    Existem lanchonetes dentro das igrejas, vendas de livros, roupas e ingressos para Shows e eventos organizados pela própria ou em parcerias com músicos e artistas.  A Igreja já não sobrevive mais apenas ditando versículos bíblicos.        Se faz necessário músicos, bandas, palco, luzes, cores, teatro e inúmeras produções artísticas.       Se faz necessário comédia, drama, improviso diante do público religioso. Em cima do altar é preciso ser dançarino, cantor, ilusionista e ator. Em religião, como qualquer negócio, há concorrentes.     Emoticon like   





Levando um papo com Deus

       Senhor meu Deus, mano, preciso de um favor. Aliás, preciso de vários. Não repare no meu jeito de falar, acho que o Senhor já está acostumado. Ando carente de tanta coisa meu Deus, exemplo: carro, casa, férias, inverno. Nossa Pai, já não suporto mais esse calor que o Senhor criou, que por sinal, qual foi a necessidade? Meu Deus, me chama no chat eu lhe imploro. Ficar rezando não está adiantando, o senhor não me atende. Já fui à igreja procurar-te e não o encontrei. Dizem que precisamos ter paciência. Olha, desculpa a sinceridade, mas aqui na terra as coisas são bem diferentes: pai que faz filho, some, e não paga pensão, vai pra cadeia. O senhor tem muita sorte de não morar aqui conosco sabia. Aqui não é por que tu é Deus que está imune a assalto, a acidente. Teu filho sabe bem disso. Mas aí também vai depende claro: se o senhor descer com dinheiro sua vida será tranquila, garanto. Tudo bem que o senhor nos deixou um planeta inteiro para ir se virando, e até que era o suficiente, mas não se esqueça que tudo o que o Senhor criou também foi sempre para ter um propósito, com início, meio e fim. Poxa, já me considero no fim das esperanças, pois volto do trabalho todo dolorido, chego em casa não vejo água, vou ao mercado e me falta recursos para as compras. Isso sem falar desse objetivo mais tarado que já vi em minha vida, por acaso o Senhor é ninfomaníaco? Oras, criou uma raça humana inteira com a principal finalidade de reproduzir? Fora os animais né, Deus, quanta criatividade. Aposto que o Senhor deve ficar morrendo de rir quando vê dois cachorros do mesmo sexo fazendo amor no meio da rua. Tudo bem que não é legal só reclamar, mas para o Senhor é fácil, está ai tranquilo no paraíso, na sombra e a base de água fresca; mas e eu? Deus? O Senhor está me ouvindo? Deve estar no Facebook. ¬¬ Não sei se sabe, mas teu nome tem sido usado para ganhos de curtidas em vários sites. É o senhor que anda deixando isso acontecer? Faça mil favores né! Ai Deus, nem vou te contar dos babados desse mundo, não estou a fim de lhe trazer problemas, já deve bastar os do Senhor. Mas acho que não seria sobrecarregá-lo se lhe trouxesse tão somente os meus. Sou egoísta, confesso. O Senhor me fez assim, com essa química louca de emoções. O que me consola é pelo menos ser a sua imagem e semelhança. Conforta-me a ideia de me parecer com meu criador. Mas as vezes me pergunto, com quem que o Senhor se parece? Enfim, Senhor meu Deus, não te pediria de imediato nada extravagante, exceto uma coisa tão simples e que tem feito tanta falta: me passa seu whats, por favor. Estou sem credito, mas wi-fi está tendo. Bom, mas qualquer coisa te ligo a cobrar, pode ser? O Senhor não fará caso por conta disso né? Daí, depois, gostaria de conversar pessoalmente com o Senhor. Preciso te conhecer meu Pai. Nunca te vi. Vejo sim fotos suas por ai. Me parece estar idoso. Às vezes fico pensando se não estaria precisando de ajuda, porque será que não estaria doente, ou invalido, não sei? O Senhor não aparece, não dá as caras, largou o mundo que criou assim como um rapaz abandona sua namorada sem nunca mais dar notícias. A menina ainda tem a sorte de outro amor; mas e eu? Fora esse teu inimigo que antes era teu amigo. Anda fazendo a farra aqui, e a polícia não dá conta, bem como os antibióticos, os tratamentos clínicos, as tecnologias, nem mesmo todo corpo de bombeiros, nem mesmo todo o exército do mundo, nem mesmo a ONU, nem mesmo outros Deus, de outros espectros, de outras dimensões. Todo mundo anda tendo problemas com os Deuses de suas religiões. O Senhor e essa cambada de aposentados devem estar tudo em alguma espécie de asilo ou SUS ai no céu. A gente reclama daqui, mas vai saber se aí as coisas não estão piores. Vou rezar pelo Senhor, meu Deus.