22 de janeiro de 2015

Uma casinha velha

          Sempre haverá uma casa favorita em nossa imaginação. Sempre haverá a lembrança do lugar por onde um dia se passou. Sempre haverá nos olhos o cheiro daquele quintal misterioso. Na menina dos sonhos dependurada a faixada do velho portão. A garagem suja de folhas secas. O pó contaminou o brilho. Mas os dois ou três passarinhos restantes preservam a memória do conforto. A tranquilidade só alcançada naquele lugar. Naquele casa sozinha e abandonada. Naquele jardim descuidado repleto de bichos conversando entre si. Dentro da casa reina o silêncio dos fantasmas, mas diante do dia ensolarado a luz renasce a esperança da limpeza. A vontade de misturar água ao sabão e fazer a casa se embriagar de espuma. A vontade de se viciar no látex branco pra fazer companhia a paredes maltratadas. Brincar com argamassa como se brinca com argila, tapando os buracos da história. A placa de vende manteve a cor original castigada pelo tempo. Da dó de injetar óleo nas dobradiças enferrujadas da portinhola. O barulho assombroso é a campainha silenciosa. A sujeira da janela decora com horror a visão exterior, mas por trás do circulo limpo com álcool se encantar com a beleza dos outros vizinhos. A rua é onde se compõe o desejo de quem procura paz. Um silêncio absurdo. Uma tranquilidade paranóica. Os vizinhos, durante a semana, são indiferente, estariam muito ocupados. Desejará folgar na semana. Mas curioso, final de semana talvez escutará um bom dia apressado, um coral de saudações, a família partindo para um lugar que possivelmente seja tão bom quanto aquele, todos com cara de que estariam prestes a aprontar algo de errado. Despertará um inconveniente curiosidade. Passar o domingo na cadeira de balanço e não fazer questão de procurar outra diversão. A casa é um arco íris de comodidades. Depois de tudo, dos ligeiros assaltos a geladeira, depois dos chutes na bola pelo corredor, depois de lavar o carro e escorregar no chão molhado. Depois de cozinhar, comer, largar a lousa sujar, mais tarde sentir remorso e lavá-la, ir ao super mercado, ligar o ar condicionado e botar um ótimo som, ainda haverá o quarto e o imenso colchão pronto para absorver o choro de alegria. As vezes o tédio é felicidade, mas a gente não percebe.