22 de janeiro de 2015

Incongruências do amor

         Sentimento cruel é o amor. O amor das nossas vidas. Até o amor que vem da família. Todo o amor herdado dos céus. Onde fica a fonte verdadeira dessa incoerência? Para no presente amar sem remediar e no futuro não se arrepender. O amor que amamos, para fazer o amor acontecer, não possui limites. Já perdemos todo o controle apenas por tentar controlar esses impulsos de amar. Não há regras no amor. Nem adianta dizer que irá ficar solteira para o resto da vida por conta de desentendimentos do passado. Nem adianta se perder pelo amor de amar porque o amor é a surpresa que odiamos e ao odiar tomamos juízo de que amor maior não há. Odiar é amar a si mesmo pelo desencontro de interesses, já que amor é interesse, senão, sobrevivência. Engano aceitar o amor como a sensação misteriosa que faz mais o coração pulsar, dilatando nossa memória. Mas não é simplesmente isso as coisas do amor, aparentemente a nos libertar à prisão que ele nos constrói. Sentir o peito crescer de lembranças e abraçar o corpo por tanta saudade. Chorar pelo passado errado, na tristeza de não ter dado certo e não prosseguir como o amor prometeu. O amor nos salienta pela nossa própria esperança, se aproveitando dos nossos próprios desejos. O amor, sublime amor. É composto por faces, dividido por episódios, cada qual uma reação diferente. O amor, involuntário, ardil e horrendo ao óleo negro em branco leite. O amor que alimenta a perspectiva de inventar e ser criativo a cada amanhecer. O amor, que também magoa, mas além disso elimina a vontade de acordar e quem sabe matar o sofrimento junto com a gente. Daí sobrevivemos, todos as vezes, recuando com a experiência de aprender que amar não é se encontrar, mas se perder. Abriremos mão da falsa alegria, assim, se sentindo seguro e protegido pela conveniente inteligência. De repente estamos amando, novamente, invadidos sem querer. Damos mais uma chance ao desconhecido, fazendo do próximo o analgésico da dor de cabeça anterior. Aproveitando da vontade do outro para realizar a vontade nossa. Fazendo do amor apenas uma obra aparente de se ver a justificar o tempo perdido. Se aproveitar da carne para enganar a consciência, negando o receio de retomar a solidão incompreensível. Essa é a sina do coração. Lutar, viver, dando significado as lagrimas da paixão. Por que o amor é viciante? Porque o amor é assim, tão incongruente? Por que o amor é assim, tão desairoso? Por que o amor contamina a perspectiva da dor. Por que o amor nos desmonta em mentiras? Por que o amor nos faz sorrir sozinho como louco e chorar pela multidão como criança? O encontro de duas vergonhas, mas o arremate de duas audácias. Os vários palavrões misturados ao prazer sem pudor, para na ausência de interesse a timidez de pedir desculpas e o cerceamento do ânimo de abraçar outra vez. Por que o amor é assim, triste mas alegre? Cheio de vitorias entre tantos fracassos. Por que o amor é assim, infestado de tentativas e não-acertos, mais a ilusão de acreditar, porque o amor é acreditar, mas acreditar desconfiando. Por quê? Por que o amor é o amor e não a certeza? Por que o amor não é como a luz do dia e o escuro da noite; o início da vida e o fim com a morte? Por que o amor é como é e não como sonhamos, pior, as vezes se assemelha ao susto como um pesadelo.