4 de agosto de 2014

Amor Adolescente sz

        Ontem minha irmã veio perguntar o que eu achava dela tatuar a frase Amor Adolescente no braço. Claro que minha resposta seria algo como: ficou maluca! Vai riscar seu corpo para mais tarde quando estiver com a pele flácida e olhar para aquele tomate estragado escrito no seu braço você se arrepender? Mas não. Não foi essa a resposta provável. Aliás... levei bem uns 30s para pensar o que dizer. Embora eu tenha minhas razões de falar o que deveria... aquela frase era diferente... Não sei se poderia encarar a atitude dela em riscar no corpo uma frase daquela como um ato imaturo ou pensado no calor da emoção. Amor Adolescente não seria só uma frase. Seria, sim, uma frase... cheia de significado. Mas como pode duas palavras fazerem tanta expressão assim? Naqueles eternos 30s permaneci calado. O lapso entre ela e eu era formado por um nostálgico silêncio. Ela me olhando com uma cara de que porra é essa! Claro, a frase era o significado de quem ela era. Que para eu significa o que um dia fui. Porque ao ouvi-la, pela minha rasa memória, embarquei-me numa rápida viagem. Lembrei de coisas que tem a impressão que não vivi, ou perdi sem aproveitar, pelo caminho. Não é nada disso eu sei. É que o tempo nos toma todo o instante que dura. Na adolescência você faz o que hoje você ridiculariza. Quem tem mais que trinta anos não reconhece aquela fase porque a partir dessa idade, principalmente o homem, quer nem pensar nas merdas que fez. Quer se livrar de tudo o que não prestou e sabe que o que fez foi o que acarretou o que hoje ele é. Tanto que aos maiores de trinta a vontade de voltar no passado e refazer tudo é tão intensa quando em qualquer fase da sua vida. Só é possível imaginar a adolescência enquanto se é um adolescente. Depois disso tudo o que te resta é se frustrar ou se arrepender. De ter vivido o q não deveria ou de não ter vivido o que poderia. O amor adolescente não tem preconceito. Você não tem preguiça de acordar cedo para fazer algo com o outro quanto tudo foi combinado. Às vezes é recíproco levantar depois do meio dia. Cara, você fica paralisado! Não há oportunidade de pensar em algo até porque você não quer pensar senão no que mais lhe interessa (o outro). A todo o momento escuta lhe dizerem “acorda!”. E você fica assim, viajando o dia todo. Não vê a hora de chegar o dia seguinte. Cedo ou tarde, que seja. Você quer acordar e se algo não estiver em sincronia você não entende e cai em confusão, já que não tem a mínima ideia do que é ser ou não ser correspondido. Do que é ser entendido. Mas que se dane! Tudo vale! E se não valesse já teria então acabado. Não tem graça pensar nos porquês. Não tem graça se houver timidez de se atirar no assento do metrô ou sentar bruscamente na calçada de uma praça. Falar alto só para provar sua coragem, sua disposição em gostar, em curtir, em viver! Nada precisa ser comprovado diante do estar junto e tudo o que vier a te incomodar você de imediato jamais ira compreender. O não-entendimento o destrói por dentro e sem parâmetro sobre como pensar ou entender você se afoga em si mesmo na melhor das intenções. Uma vontade louca de sumir. De evaporar. Nada quando não se encaixa se acomoda. Mas quando se acomoda tudo se encaixa. As exigências são os prazeres e os prazeres são as exigências. Coisas como a música mutuamente compartilhada. Aquela roupa que embora a troque todos os dias todos os dias você enxerga sempre a mesma. A piada de sempre! Coisa de adolescente! Coisa que “se não fosse isso e era menos, não fosse tanto e era quase - Paulo Leminski”. 

       Irma. Faz sim... antes que você fique velha e não veja mais graça.