é muito fácil reclamar. é muito fácil se desesperar. fiquei aqui agora no metrô pensando no amor. na paixão, que parece tudo muito bonito. na paixão a gente é tolerante. compreensivo. temos vontade de explicar. a gente quer explicar. incrível isso. quer ouvir. faz perguntas. questiona. está tudo bem... quer falar alguma coisa... repete e não fica irritado. não censura. não somos, de maneira alguma, totalitários. somos capazes de mudar de opinião. tudo, tudo para agradar. a gente quer agradar. a separação, a separação parece impossível. mas, de repente, como sempre, de repente, na hora que a gente ama, a gente não percebe. perde o encanto. por que o amor é assim. tudo é irritante. só há reclamação e aquilo que era ótimo, passa a ser massante. o prolema do amor é que nos torna exigentes, insaciáveis. e o pior não é só isso. o amor é egoísta. não aceita amizade. ou é a gente que não sabe se encerrar. que injustiça é o amor. não é democrático. não é de bom senso. é totalitário na negociação, embora perdoe algumas coisas em se corromper. amor... amor.... amor pedirá exclusividade. vida secreta. pacto de sangue ou quem sabe, que bom seria, se esconder dentro do quarto. largará tudo quando ouvir vem, tá na hora! não importa a escrivania. não importa os relatórios. o artigo cientifico. o filme ou programa de tv. sem reclamar. sem mais um minutinho. já é tarde, te espero? o quanto isso é difícil. manter a gentileza mesmo depois do amor. mas só por que a paixão é descoberta, tudo no outro é novo e nos agrada. vive-se uma tolerância exacerbada, perguntamos mais vezes, aceitamos o que é estranho, mergulhamos numa fase didática do corpo e da personalidade. mas entre a paixão e o amor, melhor que se sentir inédito é não se sentir estranho. melhor que o receio de questionar é ter intimidade pra discutir. melhor que se enganar é se confrontar. bater no peito chorando é perguntar pela sinceridade por que você fez isso comigo? e responder, com todas as letras que é por que se desencantou. pelo menos assim você saberá que foi tudo por amor, porque amor é assim, injusto.