16 de outubro de 2014

Intimidade é uma joia frágil.

         Intimidade é uma joia frágil. Uma obra de arte que iniciamos sua composição sem conhecimento algum. Que fazemos da sua dificuldade a sua beleza, como na primeira vez em que desenhamos a nossa própria imagem. A intimidade, em sua raridade, é única e especial, pois não cabe a mais ninguém. Ela é dona dos seus cuidados e como um tesouro todos se veem a cobiçar, mas quem a tiver nunca a terá como em você ela se faz. Exclusiva em sua magnitude. De um aroma que só se exala em teu corpo. De uma cor que só se reflete em tua pele. A intimidade que você tem, igual ninguém terá. Ninguém conhece como essa foi lapidada. Ninguém conhece as delicadezas da sua manutenção. Ninguém conhece o seu valor. Nem você mesmo, pelo momento. O valor dessa joia muda conforme o seu carinho. A cor dessa joia se altera pelo reflexo de onde você estiver. Muda a aparência dependendo do tempo que não a polir. Ela rapidamente se desgasta se você a perfeccionar. Ela se quebra dependendo de como deixá-la cair. Ela se racha pela sua euforia em apertar, mas, de outro modo, ela pode resistir ao dobro do que você possa oferecer. Quem sabe você nunca consiga ter força alguma em alterá-la. Tudo depende da maneira como vai usar para que ela seja mais do que você possa imaginar, mais do que esperava, mais do que você. As vezes ninguém repara no que somos e sim no que com nossa intimidade fazemos. A intimidade como uma joia desperta inveja. Pode surpreender. Pode machucar. Pode iludir pelo próprio olhar. Pois a beleza dessa joia está na preciosidade do seu silêncio. Não é preciso muito esforço em cuidar da intimidade, já que tudo o que faz resulta em sua diferença. Já que não se sente vergonha de ser em detrimento de como ela está. Uma joia! Sem explicação. Sem dúvida. Compartilhada entre você. Apaziguadora. Salutar. Habitual. Corriqueira em sua vida. Vive com a gente. Toda a joia tem uma história. Toda a joia tem seu valor. Se descoberto quando não faz mais sentindo, geralmente foi por que era inevitável. Como aquela obra de arte que as vezes você começa e não termina. Embora seja extasiante, não é sempre que queremos uma joia. Não é sempre que teremos tempo para deslumbrá-la, principalmente depois que adquirimos. Porque já é nossa. Nós a conhecemos para além de sua intimidade. Já a lemos pelos olhos, os lábios e as mãos de quem ela é. Mais do que repartir o seu endereço, é repartir um projeto de vida em carregá-la. Não basta estar disponível, não basta apoiar decisões, não basta levá-la no cinema: intimidade é não precisar ser acionado, pois já se está mentalmente a postos pela vontade. Intimidade é não ter vergonha de ser o que a gente é, não precisar explicar coisa alguma, ser compreendido e brigar sabendo que nada irá se romper. Intimidade é não precisar andar na ponta dos pés pelos corredores de uma vida repartida entre você e a beleza de que juntos se fazem. Intimidade é uma joia de luxo que vira rotina. É estar junto, mas sozinho por ser um só. É ter em sua vida um símbolo de algo que te suporta, que te tolera. Uma preciosidade que só é bonita por que te aceita. Por que combina contigo. Mas como todo o cuidado é pouco, um desleixo é irreparável. Qual a joia de uma intimidade você já teve que ao se descuidar continuou sendo com o mesmo brilho de antes? E sabe quando é que descobrimos o seu valor? Quando depois do costume se negligenciou. Por um vacilo, não se conserta a vivacidade de um amor por esta joia, mas quem sabe mostre a importância e a sua estima incalculável. Só quem despedaçou uma joia sabe o risco de mantê-la novamente em outra oportunidade. Que se estraçalha por vezes isenta da nossa vontade. Tão sutil, tão frágil, que se despedaça, por mais incrível e inimaginavelmente que pareça, sozinha.