6 de maio de 2015

Maioridade penal

   Sinceramente, não me interessa se o adolescente ira ser acolhido por facções após ser mantido recluso em penitenciárias. Nunca foram e nunca serão os jovens origem do sucesso de organizações criminosas. Não me interessa se o adolescente já é punido a partir dos 12 pelo estatuto da infância e juventude. Esse discurso só vejo sair da boca de burguês que nunca morou e nem estudou na quebrada, desconhece o que a molecada fala e pensa. Não me interessa ressocializar dentro de instituições ou presídios tanto adolescentes quanto vagabundo adulto. Ressocialização pra mim deveria ser trabalho, se possível, escravo! Não me interessa como os outros países encaram a questão, nem as estatísticas de quantos adotam a sistemática penal. O maior tribunal do mundo está aqui, então nada mais coerente do que pensamos em especifico, termos nossa nossa personalidade, medidas e procedimentos, não das nações unidas.
    Sinceramente, o que me interessa é saber quando será preso ou morto, de forma legal, o parlamentar que negocia entrada de armamentos pelas fronteiras. O que me interessa é saber quando será pego o parlamentar que negocia o tráfico de drogas, propina, suborno. O que me interessa é saber quando será investigado por uma justiça eficaz as razões da educação no Brasil ser tão desprezada, mascarada e subestimada. O que me interessa é saber quando intelectuais de comissões de ética farão algo além de ética. O que me interessa é saber quando o dinheiro público será integralmente usado ao bem da coletividade. Não sou a favor da maioridade penal não pelos motivos que a ignorância brasileira indica, nada disso me interessa. O que me interessa é ter a consciência de que não importará à redução da violência se o infrator já for detido aos 16 ou 17, porque a origem real da violência não começa no triste coração do adolescente, mas sim na astuta cabeça do político.


Na concha da mão

        Diferente do filho que passou a infância inteira apenas ao lado do pai, eu dividi meu tempo entre as gavetas da casa e minha mãe. Ela odiava quando bagunçava os armários. Fui muitas vezes apreciado com cascudos pela inconveniência. Como em outras épocas, não fui aquele tipo de garoto companhia na pesca, ajudante na caça; não fiquei exclusivo a sair em busca de água ou à procura de lenha. Também parei na beira do fogão e assistir o gás acabar. Não tive culpa se as paredes com azulejo me atraiam mais que as com cal. Não tive culpa se minha mãe produzia aromas comestíveis e me fazia sinais de fumaça através da janela. Ele é uma dona de casa gentil, do tipo que prova a comida na colcha da mão. Seu modo de preparo ainda não se concluiu na minha cabeça. Aprendi toda a rotina, só não o talento: dizem que se nasce com ele. Primeiro a panela ao fogo; óleo e alho indispensáveis. Vai torrar o arroz enquanto frita a carne para mais tarde lançar porções de água e molho entre um e outro que não consigo decorar. Lembro que chegava da escola correndo, abria o portão, fechava o portão. Afugentava o cachorro. Abria a porta, fechava a porta. Lançava um olhar panorâmico na sala amarelada pela luz incandescente e sugava aquele cheiro quente de feijão cozido. O barulho do bico da tampa despertava ainda mais meu apetite. Era impossível esperar diante do movimento da colher de madeira sobre a panela, só aguardava um vacilo para experimentar o gosto do sal: arroz cru não tem sabor! Foi ai que disse a minha mãe: por que não faz o arroz com manteiga veia? Não sei por que as mães depois de um tempo não pedem mais de duas vezes. Pediu-me para lavar a louça dias atrás, prometi que iria e quando decidi a encontrei secando a pia. Ou ela é rápida demais ou eu demoro muito. Na verdade, ela é rápida demais e eu demoro. É ressabiada, precavida, preocupada. Tem sempre de bate e pronto um guarda-chuva e uma linha enfiada na agulha. Minha mãe mora a mais de 30 anos em São Paulo, mas não abandonou os 20 que viveu na roça, assim como não abandonei meus 22 que viajei dentro de casa. E agora, diante do passado vejo minhas imperfeições do cotidiano que não sei dizer se são péssimas ou apenas ruins em virtude do caos social em que estou inserido. É verdade que há homens que conhecem a cozinha mais do que a sala e, embora independentes, se sentem grandes idiotas ainda perdidos no ventre de sua mãe.


Cansei sabe!

          Hoje senti vontade de ir à igreja, mas o problema era escolher qual. Quando decido algo religioso o motivo é sempre caracterizado por um convite. Sobre as coisas da fé nunca tive autonomia. Era minha mãe que na infância me levar para igrejas evangélicas; foram meus avós severamente católicos que iniciaram meu batismo; foi um amigo e sua família a me inserir numa longa temporada no universo pentecostal; foram meus antigos mestres de artes marciais que me apresentaram toda a cultura oriental incluindo o budismo, foi minha falecida tia o candomblé e alguns costumes baianos e uma ex-amiga de trabalho o espiritismo, trocávamos filmes e livros de Chico Xavier. De moro geral ninguém nasce conceituado sobre no que ter fé: historia da carochinha é que vai sendo passada de geração em geração. Já meu caso é complicado porque diante de tudo às vezes me sinto perdido por não saber se sou um sujeito sem fé ou se tenho fé sobre todas as coisas. A única coisa que posso afirmar é que me preocupo com o fim da vida, e todas as religiões pregam algo bom e ruim após a morte. Seja lá em qual eu esteja, anseio pelo que há de melhor a me oferecer. Alias, sinto não estar sozinho, que o maior objetivo se todas as pessoas, independente de sua religião, é garantir uma vaguinha tranquila para a alma, quando já não tiver mais o corpo. Entre a carne e o espirito, o medo da morte é quem causa às varias versões da carochinha.
           Pensei direito e desisti. Liguei o pc e fui pesquisar. Pelo menos isso me fez ficar mais calmo, eu não poderia continuar confuso depois de baixar um catálogo com centenas e centenas de religiões brasileiras. Acho que o problema não vem de mim. Religião é algo muito banal cara. Cada uma defende seu ponto de vista de acordo com a cultura, condições climáticas e ambientais do lugar. Não foi novidade descobrir que a população brasileira é majoritariamente cristã, sendo sua maior parte católica, herança da colonização portuguesa, Interessante foi saber que o catolicismo era a religião oficial do estado até a constituição republicana de 1891, que instituiu o estado laico, sim, claro, por que o estado definitivamente tirou o poder das mãos da igreja. Fora isso estão presentes os movimentos básicos do protestantismo: adventismo, batistas, evangelicalismo, luteranos, metodismo e presbiterianismo. As pentecostais, episcopais, restauracionistas, e mais uma pancada incluindo os espíritas ou kardecistas. As divisões do candomblé, umbanda, esoterismo, santo daime e tradições indígenas tem nome, que eu nem fazia ideia, de animismo. Até descobri que sou alguém no meio dessa bagunça, faço parte dos 8% da população perdida. Cara, é triste isso. Carregar conosco tantas possiblidades, morrer e herdar o reúno dos céus ou queimar no inferno; quem sabe ressuscitar em outra dimensão ou permanecer aqui sob nova reencarnação. Antes Platão e companhia não tivesse inventado essa merda de existir um único Deus. A mitologia grega era tão bonitinha, com Afrodite, deusa da beleza; Apolo, deus do Sol; Ares, deus da guerra; Atena, deusa da sabedoria; Poseidon, deus dos mares; Zeus e tanto outros... Cansei sabe! Está decidido. Criarei minha religião e um livro sobre ela. Por ser o criador terei plena garantia de prosperidade e aquele que for desobediente a doutrina passará a eternidade pelado no gelo, já sobre o lado bom vou fazer como a maioria das religiões brasileiras fazem, copia o paraíso, porque voltar para esse planeta incerto, sinceramente, não está com nada.  ‪#‎cancela‬

Florzinha

         Hoje sai pra vender florzinha com minha mãe. Ela é uma artista de rua que ninguém sabe: decora arranjos que ninguém reconhece, porque não é simples prestigiar algo que nasce do lixo; da bagunça que floresce a beleza. Uma arte suja, embora digna. Mas faço o favor de ajudar calado. Não é gay vender flores, gay é comprar flores, disse uma Mãe ao seu filho o vendo chorar pela vontade de levar um bocado das rosas. O menino as olhava como um dia olhei para os livros do Where's Wally e meu pai àquelas carretas de brinquedo vendidas nas beiras das estradas. O menino era atraído pelo perfume das cores; as cores atraída pela harmônia dos tons; verde e vermelho a paixão, marrom e dourado a solidão, de inverno a outono à madeira do vaso. O menino de hoje será o homem de amanhã. Chora ao desejar, chora como uma mulher. Sensível e derramado, vai falar perfumado. Pelos tradicionais será visto como gay, por ele um elogio. Já não se importará em ser confundido. O mundo é outro. Se sentirá ampliado, se sentirá favorecido. Terá o dom de conquistar as melhores garotas graças ao sorriso que aprendeu com as flores. O menino, quando for homem, saberá traduzir o desaforo. Não se sentirá diminuído, não se sentirá incomodado. Podem chamá-lo de mulher, saberá que está sendo chamado de inteligente. Saberá que sua conversa tem assunto. Saberá que seu diálogo tem conteúdo. Gosto de flores assim como esse menino. São pelas flores que guardamos segredos. São pelas flores que nos importamos com o que ainda não foi dito. São pelas flores que obtemos senso de humor. Somos carentes pelo futuro. Aprendemos a escolher as roupas. A cuidar do corpo e a afinar as cordas da atenção sem deixar passar batidos o esmalte dela nos dedos. É o esmalte não o dedo. Meus amigos dobram a toalha da mesa e ajeitam o vaso no centro. Alguns já são os homens mulheres da casa e não descobriram. Amanhã esse menino terá se aberto e se livrado do preconceito. Andará de mãos dadas com os anéis e assistirá filmes para se organizar no escuro. Será o melhor amigo da mulher e o maior inimigo do macho tímido e grosso diante da irreverência dos logos cílios e carnudos lábios. Todo homem é mulher no amor. Chamará um taxi com gritos. Fará escândalos nos aeroportos, estenderá os braços e as pernas por um atendimento de qualidade. Se importará mais com o sofrimento do outro, com a rejeição, o medo do isolamento. Sentirá a dó de uma criança. Sem orgulho, sem rancor, desabafar sentimentos diante de um copo de vinho. Quem é visto como gay hoje, será tratado como homem amanhã. Um homem que não economiza elogios e coleciona sapatos. Um homem que será educado sem ser taxado. Será espontâneo sem causar nenhum incômodo. A fragilidade de uma flor nasce da força entre a raiz da semente a porosidade da terra.




Querer

Podemos ser muito mais do que somos, sabemos disso. Podemos ser se quisermos, sabemos que só basta querer, ou ter a oportunidade. Queria além de tudo ser mais do que fui. Queria ter aberto os potes de conservas. Queria ter jogado o lixo lá fora. Queria ter trocado a lâmpada da cozinha e a resistência do chuveiro. Eu queria ter te amado mais, mais do que eu poderia. Mesmo que isso se configurasse a maior das humilhações. Eu queria. Eu queria ter sido mais escandaloso do que indiferente. Eu queria me arrepender rápido das grosserias e ser perdoado sem querer. Eu queria ter dividido as longas viagens pela estrada contigo. Ter tido mais paciência em explicar como se caminha, ter tido paciente de te ouvir dizer: eu já sei caminhar. Além disso, eu queria como queria abrir meu livro e encontrar um bilhetinho de papel rosado seu. Eu queria, em um jantar entre amigos, disputar para ver quem conta primeiro como nós nos conhecemos. Eu queria, voltando a mim, nunca ter abandonado a conversa, mesmo quando não tivesse mais nada a falar. Eu queria, voltando a você, que me corrigisse ao repetir a roupa na mesma semana. Eu queria ter conferido se a porta estava fechada mais vezes. Eu queria que tivesse me lembrado da cafeteira ligada. Eu queria ter comprado uma cafeteira. Isso que é foda. Eu queria. Eu ainda quero alguém que não se irrite com minhas sinceridades. Que não se fruste com meu amor apenas por reparar nas suas sobrancelhas borradas. Que arrume ingressos para um show de repente. Que me pergunte ao menos uma vez: o que vamos fazer final de semana? Eu queria que se importasse com meu cheiro e lamentasse sentir saudades de um dia, aflição de dois dias, paranoia de três dias, surto de dezesseis ligações e um bilhete de baixo da porta me amaldiçoando no caso praticamente de morte ou sequestro de uma semana. Eu queria que não largasse minha mão nem para coçar o rosto. Que me olhe paralisada em nirvana a me ver distraído. Que narrasse o seu dia, detalhadamente, mas claro, jogando Ben 10 Omniverse sem me dar tapas pela apelação. Eu queria que tivesse pressa de mim, que entrasse em desespero, ao chegar em casa contando notícias. Eu queria ter chamado para dormir, dado um beijo para acordar e responder com o maior carinho que me dispor sobre o tempo, antes que se levantasse para vê-lo pela janela. Eu queria ter sorrido mais, mesmo que me saísse o perfeito palhaço, mas um palhaço de suas palhaçadas. Eu queria ter sido necessário. Podemos ser se quisermos, sabemos que só basta querer, ou ter a oportunidade.


Peripécias na autoconfiança


Calma! Existem peripécias na autoconfiança. Orgulho não é apenas soberba, aliás, se o orgulho dependesse dela não existiria. É tudo falta de interesse. Não precisar, entende? Mas nem sempre conseguimos nos completar. Pode ser que trabalhemos ao máximo para isso, até de forma independente. É uma verdadeira luta conseguir acreditar em você mesmo, ainda pior se for pela sua própria validação. Há quem se socializa apenas para ser identificado nesse marasmo. Segundas intenções é definidamente humilhação. Porque o coração puro é a festa do acaso. Conheço pessoas que nunca tomaram conhecimento do seu ridículo. A maioria das vezes o problemas está dentro das ideias que temos sobre o eu. Ainda não existem remédios eficazes em apagar memórias, tratamentos para tornamos autossuficientes. Como em uma academia de musculação, meios práticos de fortalecer e definir nossa coragem. Emoções são extremamente particulares e intangíveis aos cuidados da mesma consciência. Mudanças e adaptações dependem de processos, alguns dramáticos, outros eufóricos. Uns se compreendem mais rápidos, outros nunca conseguiram. De fato ainda não é possível parar no meio da calçada e dizer: calma! Espere ai, não me preocuparei mais com isso daqui por diante enquanto viver. Que bom seria ser orgulhoso por ser orgulhoso mesmo, sem esforço mental ou adquirir por experiências traumáticas. Um app para mente de controle de todas as expectativas. Como isso ainda não existe, todo o cuidado é pouco sobre o que achamos que somos. n smile

Ela queria poder vê-lo

          Incrível a moça disse. Respondi que nem tanto a paixão, mas o inesperado. Fato marcante da vida é a incerteza sobre o que há adiante, mesmo sobre nossas emoções, coisa que é nossa, como a saúde, tudo pode acontecer. Mulher linda e apaixonante; trabalhou durante dois anos perto de um homem mais velho; ele uns 40 e tantos anos... Diretor de uma multinacional, simpático, irresistível... Ela com 21, bonita, inteligente, simplesmente se interessou, alimentou muito este sentimento e virou fissura. Ele foi recíproco, desde o começo. Tanto que ela não tomaria a iniciativa de flertar com um homem tão ocupado e financeiramente estável, MUITO estável, se é que você me entende. Como ele deu esperanças, ela abraçou e investiu e assim se passou 1 ano. Olhou daqui, ele de lá, sempre medindo, tinham uma linguagem própria, olhares que se perdiam em minutos que pareciam horas... A paixão! Aquela ao ponto de algumas pessoas perceberem. Com certeza neste momento ela já estava completamente certa de que poderia acontecer algo. O que impediria uma menina de conquistar um homem? Sendo que ele já se mostrava muito interessado? O problema é que embora ele demonstrasse com todos os gestos sentir algo, mesmo que fosse apenas desejo, ele nunca tomou uma iniciativa. Foi quando ela se resolveu e não obteve um resultado satisfatório, infelizmente. Nem parecia aquele mesmo homem. Óbvio que depois disso se desculpou pelo equívoco e se distanciou. Logo em seguida os caminhos se bifurcaram porque ela saiu da empresa por outros motivos e na sequência a empresa dele se mudou do prédio onde ela ficava. Nunca mais se viram, nunca mais se ouviram... De repente, eis que depois de 5 meses, ela sonha com ele quase todas as noites e consequentemente não para de pensar no homem, personagem principal da sua imaginação lúdica. Queria poder vê-lo, ter a chance de tentar conquistá-lo como se deve mesmo. Pensou no decote ausente, a falta do perfume marcante e gestos menos apaixonados e mais sensuais, se culpou... Sei lá, quem sabe ser mais mulher e menos menina, mais objetiva e menos apaixonada. Pensou no que poderia ter feito e não fez. Pensou no que foi sem ser, sucumbido no passado desconhecido. Seguindo a lógica de que era uma mulher e ele um homem e já que tiveram um engajamento, não seria impossível, se soubesse entrar na hora certa e lugar certo. A pergunta que me fez foi por que um homem ilude uma menina sem dó? Já que ele sabia que não levaria adiante? O que poderia fazer para conquistá-lo na sua situação atual? Como provocar um encontro sem ser taxativa? Eu olhei bem para ela e fiquei com dó rir. O mundo da voltas querida, mas não serei eu a te dizer isso e nem a te explicar, já que naturalmente não tem consciência da sua igualdade entre as indiferenças. Fora que o tamanho de desafio já me desanima. Massssss, não há o que fazer se não tentar. Ligue para ele e convide-o para UMMMMM JANTARRRRR MARAVILHOOOO!!


Maldito vestido

Faltando duas semana para sua formatura a garota ainda não se conformava. Era o momento mais especial da sua vida segundo seu julgamento tão acabado. Sentimento herdado da genética horrível do seu corpo. Isso era sua opinião, a opinião da sua imagem, na porta idiota do seu guarda roupa. O maldito vestido que não cobria seu medo. O maldito sapato que não combinava com os olhos. O maldito colar que não combinava com a pele. O rosto inchado não, não combinava com as esperanças esdrúxulas. A princesa da festa. Reluzente demais. Faltando duas semanas. Faltando apenas isso. Isso era o que faltava. O lapso da sua vergonha com o mundo que o mundo a deu. Era o vácuo entre o desastre da sua baixa estima diante da beleza que não sorteou ao nascer. Não poder se entender com o próprio corpo. Não falar com as banhas macias nem ouvir estalar as doloridas estrias. Qual o sentindo de várias estrias? E por que não compreender que depois delas vem a consciência. Por que não perdoar as axilas escuras nem os pés nos calos. Ainda que nova no contar dos números, era velha na experiência do choro. As lágrimas de duas semanas mancharam os lençóis da memória. A aparência do lado oposto da alegria, mas unidos ao deboche dos colegas. Todos iram rir de mim, o lema de sua experiência. Todos iram zombar da minha cara, sua frase tatuada no coração. Destino humilhante. Mal posso respirar de tanta gordura. As pessoas me odeiam, eu não me suporto. Se ninguém gostar de mim não serei complacente com minha vida. Se ninguém me abençoou então me responsabilizarei. Se ninguém me amar eu amarei minha tristeza, e sozinha irei chorar até me sentir linda. Até me sentir magra.


preguiça preguiça preguiça

De todas as facetas do comportamento, a coisa que eu acho mais engraçada é ver gente preguiçosa entrar em conflito emocional consigo mesma diante das necessidades da sua vida. Basicamente a pessoa se entristece em detrimento da posição de fracasso que se dispõe e da aparente impossibilidade de se livrar dos maus costumes. Eu poderia até expor uma solução, mas pensar nessa gente me da preguiça demais e me coloca em desvantagem rsrsrs

A maior tristeza de um rico

Acordo todas as manhãs certo que tenho educação. Certo de que tenho etiqueta e certo de que tenho postura. Acordo todas as manhãs convicto de que um dia serei ainda melhor. Acordo convicto de que a única coisa que me falta é poder. Mas depois de falhar sobre minhas certezas, percebo que não sou o único a ter a pobreza como problema. Percebo que isso não é exclusividade dos meus pensamentos. Que não sou sozinho nessa miséria. Que não tenho privilégios de se frustrar além dos demais. A vida não é fácil para grande maioria da população humana. Como a vida é triste.  Ser obrigado a sentar-se debaixo do sol, segurar uma placa de empreendimentos por 8h e receber como recompensa cem vezes menos que os donos do negócio. Ser noticiado de que a filha foi roubada e não ter a menor condição de dar resposta. Não ter grana para contratar um assassino profissional e reaver o prejuízo patrimonial e psicológico causado a quem você tanto preza. Mas ir a feira no momento chave em que os preços cai, justamente porque as frutas que restaram não são da melhor qualidade, porém, ainda comestível. Sujeitar-se a pedir dinheiro emprestado, sem saber quando poderá acetar a dívida. Ou não ter como pagar nem a condução de procurar um emprego, imprimir um currículo, menos ainda, fazer um lanche nesse percurso e dormir mal de tanta dor na cabeça. Envergonhar-se pela falta de uma bala, uma bala, que podeira adoçar o beijo que saiu horroroso. Então eliminar o estresse correndo no parque, já que não consegue se matricular numa academia. Nem poder dizer adeus com sofisticação, o medo da necessidade extingue qualquer soberba e o orgulho morre bem antes que a dignidade. A pobreza é uma doença que todos lutam para encontrar a cura; uns com violência, outros com conhecimento, até os preguiçosos, se esforçam com a imaginação. Como é difícil ser alguém. Para ser alguém é preciso ter dinheiro. Está ai a grande dificuldade. É errôneo pensar que dinheiro não compra felicidade. O dinheiro é a felicidade que não subtraí as tristezas. Compra as humilhações da família. Compra a lealdade no seu casamento. Compra o sigilo da sua insatisfação. Compra a atenção sincera dos amigos. Compra a saudade. Compra o alívio das dores. Mata sem você sofrer. O mundo também tem um preço e a tristeza sempre vai existir misturada entre as alegrias, independente do quanto você tiver para gastar. A maior alegria de um pobre seria poder pagar por tudo o que o mundo possa oferecer.  A maior tristeza de um rico seria perder todo o seu dinheiro. 💸

ninguém é de ninguém

        Na academia ela aventava a beleza do relacionamento: ir de bicicleta para adiantar as pernas. Não era isso o fruto do desentendimento. Eu não poderia saber, falavam mais baixo que o coração. Não era o estilo deles levantar suspeita. Quem me disse foram as cores em desenhos nas pernas, para trocar com os braços. Nele um tribal sério, nela um céu desorganizado por pássaros. Se eu pudesse ao menos interrompê-los para dizer que ninguém é de ninguém. Se eu pudesse avisar que toda a alegria é a alegria de viver. Se eu pudesse, antes mesmo que um deles almejasse sair sem dizer tchau.

        O amor cuspiu em mim a verdade que a vida inteira procurei. Como doía meus olhos ver a dor de suas mãos. Tremulas, já não tinha mais vontade de se definir. O peso era sobrenatural que seu corpo pudesse sustentar. Por isso ele parou como uma estátua em frente ao a puxador. Agora detalhista, nunca tinha reparado que um lado da corda era menor. Nunca tinha atendido que o terceiro peso da máquina estava trincado. Sem palavras. Sem reação. Ela se foi. Sem ao menos dar tchau. Abandonou a dieta. Abandonou a malhação. Quem há de negar queria o melhor para si?

        Vai saber se não era ele quem mais exigia. Vai saber se não era ela quem mais se despreocupava. Na cabeça de ambos o amor então me disse... faço histórias e crio esperanças, comigo tudo é divertido como um jogo. O amor é assim. Só estabelece interesse. Que seja bonita, que seja dedicado, que seja atenciosa, que seja carinhoso. O amor é assim. Parece com a sorte. Mesmo que tudo esteja bem. Mesmo que os veja hoje disputando a esteira, pensarei: cuidado, isso é perigoso!

        -mas só estamos brincando.

        -toda brincadeira é um jogo.