Faltando duas semana para sua formatura a garota ainda não se conformava. Era o momento mais especial da sua vida segundo seu julgamento tão acabado. Sentimento herdado da genética horrível do seu corpo. Isso era sua opinião, a opinião da sua imagem, na porta idiota do seu guarda roupa. O maldito vestido que não cobria seu medo. O maldito sapato que não combinava com os olhos. O maldito colar que não combinava com a pele. O rosto inchado não, não combinava com as esperanças esdrúxulas. A princesa da festa. Reluzente demais. Faltando duas semanas. Faltando apenas isso. Isso era o que faltava. O lapso da sua vergonha com o mundo que o mundo a deu. Era o vácuo entre o desastre da sua baixa estima diante da beleza que não sorteou ao nascer. Não poder se entender com o próprio corpo. Não falar com as banhas macias nem ouvir estalar as doloridas estrias. Qual o sentindo de várias estrias? E por que não compreender que depois delas vem a consciência. Por que não perdoar as axilas escuras nem os pés nos calos. Ainda que nova no contar dos números, era velha na experiência do choro. As lágrimas de duas semanas mancharam os lençóis da memória. A aparência do lado oposto da alegria, mas unidos ao deboche dos colegas. Todos iram rir de mim, o lema de sua experiência. Todos iram zombar da minha cara, sua frase tatuada no coração. Destino humilhante. Mal posso respirar de tanta gordura. As pessoas me odeiam, eu não me suporto. Se ninguém gostar de mim não serei complacente com minha vida. Se ninguém me abençoou então me responsabilizarei. Se ninguém me amar eu amarei minha tristeza, e sozinha irei chorar até me sentir linda. Até me sentir magra.