26 de novembro de 2014

Reflexões do olhar


     No metrô, reparei na menina. Desde Itaquera até a estação Sé sem puxar o celular do bolso.

     Será que ela teria celular? O que sei é que ela tinha estilo. Cabelo marrom da cor das sobrancelhas.

     As unhas, mergulhadas no brilho da base, escondiam, como a superfície de um lago, inúmeros mistérios.

     A gargantilha de ouro amarrava a lembrança no corpo.

     Curioso, achei um dread caído no ombro.

     Cadê a tatuagem, interroguei meus pensamento. Trocou a mecha de rosto por um dente de leão no lado discreto do pescoço.

     Perfume, apostei que fosse o perfume do corpo. Talvez sabonete do banho de ontem.

     Se não fosse o receio, solicitaria um abraço. Abraços são confissões e também excelente forma de conhecer, os corações se cumprimentam.

     Imagino um quebra-cabeças, sentindo-se sozinha sem a menor ideia de como começar. 
Ninguém para compartilhar sua demência. Ninguém para desvirtuar seu olhar, paralisada pela luz da janela.

     Olhava para ela com a atenção de um analista. Olhava para ela com a criatividade de um fotógrafo. Olhava para ela com a mesma paixão de quem olha para lua.

     É reparando nas características dos outros que eu reparo a minha vida. Natural do ser humano.

     Ela não olhava para os lados. Tão concentrada no problema que não poderia soluçar.

     Provavelmente idealizando que bom seria acordar feliz. Queria tanto dizer pra ela que felicidade a gente não corre atrás, a gente carrega conosco, por vezes, todos os dias.

     Se ela soubesse que no amor não existem culpados, mas o que existe é falta de interesse e que precisamos aprender a levitar.

     Eu quase perguntei seu nome, foi quando ela me encarou e eu com meu livro, disfarcei. 😳

     Na mesma janela vi ela me olhar e descobri que o reflexo dela era o meu, estava me olhando primeiro sem eu perceber.

     Poderia ter me identificado como admirador ou talvez tivesse feito para si as mesmas perguntas ao me ver fixado na leitura do seu corpo, o que não me interessava mais que da sua alma.

     O moço deu lugar no assento do lado, a porta se abriu e já era a minha estação. O que ela tinha, ficará com ela, registrado na janela. 🚄 🍃 🌾

25 de novembro de 2014

Muita Sorte

    Sorte a sua de poder vê-la. Eu não tenho mais a probabilidade. Minha chance já foi dada. Toda a oportunidade eu tive. Sorte sua de ser sua vez. Sua sorte é grande. Sua sorte é sortuda. Eu é que fiquei com o azar de perder essa sorte.

    Sorte seu cobrador de ônibus. Sorte sua recepcionista. Sorte seu secretário. Sorte de seu amigo mais próximo que irá escutar seus pensamentos. Sorte até dos amigos de trabalho que gritaram bom dia com euforia.

    Eu é que não tenho mais essa sorte. Olhar teu rosto limpo e de te ver apaixonada me chamar de chato, depois ao me amar de irritante e deslumbrada, mudar para insuportável, como pedido de casamento.

    Uma mulher quando o chama de insuportável estará oferecendo o dedo. Uma mulher como você é uma sorte distante que perdi, que me separei. Agora parece proibido meu acesso. Não terei permissão de falar. Fui multado eternamente. Prestei serviços comunitários a saudade no interior da solidão. :(

    Que sorte da família. Todos autorizados a pular na cama e bagunçar o armário. Que sorte do cara do caixa, que perguntará CPF na nota? Que sorte do faxineiro, que perguntará se seu lixo está vazio. Que sorte de quem te liga e mantem você na linha assim como por horas eu mantinha.

    Sorte de qualquer contato, de qualquer cumprimento. Se as pessoas soubessem a sorte que é te conhecer não desperdiçariam teu sorriso ou tua indignação. Foi entre uma e outra que tive a sorte de não te entender.

    Nunca irei de entender, essa é a maior sorte do nosso amor.

    Sorte de quem poder te mandar uma mensagem. Sorte mesmo é se eu pudesse mais vezes te dar sustos pela surpresa da pontualidade. Andarmos como pinguim e te assediar na minha garagem. A maior sorte desse mundo seria se eu pudesse te ver acordar com um beijo nas espinhas do seu rosto. :)

24 de novembro de 2014

Fantasmas do amor

      No local onde eu trabalho há um monte de mulheres solteiras. Na sala da faculdade, também. A maioria entre elas tem sempre o mesmo discurso sobre o amor: que não compensa se apaixonar.

      O mais curioso é que todas elas gostariam ansiosamente de serem felizes ao lado de um homem ou uma companhia.

      Uma diz que tudo o que quer é paz; a outra, que não liga para romance e sim para fidelidade. Algumas que seja rico; outras, depois da conformidade, valorizam coisas especificas como não beber ou não ter filhos de outro casamento. 

      Incrível essa dicotomia. Querer não querendo. Fantasiar. Iludir-se com a imaginação. O pior ainda não contei: ouvir dizer que não entendem por que não encontram alguém, por que não mudam de vida. 

      Acho que não é muito difícil responder essa pergunta se eu fosse falar das revoluções sexuais, mas acredito que não traria solução. 

      Sobre o sentimento da mulher: minha opinião é que ela não abandonou o passado. 

      Enquanto espera o príncipe, o homem dos seus sonhos, se entretêm com paixões antigas. Mantem contato com ex indiferente, ou aquele sujeito maravilhoso que não assumirá o compromisso. 

      Qualquer pessoa nova que surgi será motivo de suspeita e dependendo do que disser, motivo de espanto. 

      Seu rosto já não brilha. Não se sentirá mais bonita se não for maquiada. Não se sentirá mais segura se não for bêbada. Já não se sentirá mais tranquila se não for com a aparição de um velho amor. 

      Ela mendiga retorno. Ela rejeita o presente. Não quer criar história, quer dar continuidade nas deixas para trás. Parece que vale mais a pena se frustrar duas vezes com a mesma coisa do que arriscar ser feliz com coisa nova. 

      Desculpa a má notícia, mas homem percebe isso. Enxerga os rolos travados. Sente o cheiro da encrenca. Às vezes, até interpreta como sendo mais um da sua lista, eai, vai querer te comer de graça. 

      Infelizmente não aparecerá ninguém para espantar os corvos do passado e te abraçar como sua mãe te perdoa, te amar como você já amou. 

      Ninguém terá coragem de tomar desse liquido calhado. Ninguém a levará a sério te achando suspeita, ao vê-la com o celular nas mãos ansiosa por notícias, esperando mensagens. 

      Se não abandonar o motel não encontrar o quarto. Se não se arrepender não encontra seu namoro, seu casamento, sua paz. É preciso ressuscitar promessas e vislumbrar amores. É preciso voltar a ser menina. O alimento mais rico para o amor é a gentileza. 

      Nenhuma mulher será completa se se contentar com os pedaços do seu coração. Nenhuma mulher será intacta se manter romances quebrados. 

      Será uma mulher com pendências. Será uma mulher magoada. Será uma mulher distraída. Será uma mulher confusa. Quando acompanhada, será por um homem que não vai e tampouco fica. Entenda que não é possível amar sem querer ser amada.


21 de novembro de 2014

Continuarei achando...

Eu poderia repetir o que especialista dizem por ai. Eu poderia falar com a convicção de um pastor que prega testemunho na igreja em cima do altar. Eu poderia escrever aqui e depois quem sabe fazer dessas palavras um livro de auto ajudar. Eu poderia dizer que não é legal julgar alguém. Mas não. Não vou parafrasear esse clichê. Eu mesmo já não suporto o óbvio de tantas verdades. Depois de me ver superar sozinho tantos problemas não dou credito a quem me superestima, mas não abro mão da amizade. Entendi que as pessoas detêm virtudes, mas se enganam sem perceber. Entendi que não existe mal, o que existe é insensatez. Deus não criou o universo de caso pensando e nem deixou definido seus adjetivos, tudo é apenas mais uma obra de arte criada por um grande talento. Não é culpa das pessoas, é culpa da composição cerebral das pessoas. Não é fácil, eu sei que não é, de entender a capacidade de alguém comparando-a com a nossa. Infelizmente o ser humano é assim, sobrevivi por analogias, sobrevive pela busca de prazer, sem jamais se contentar e admitir definitivamente suas limitações. 
Eu resisti a tanta coisa. Eu resisti na infância a violência de uma baba.
Eu resisti na infância a dois atropelamentos. 
Eu resisti a me chamarem de zoio de bomba e nariz de tucano no fundamental. 
Eu resisti a uma briga feia de rua. 
Resisti as notas baixas na escola.
Resisti ainda menino sair de casa e em um mês a humilhação de pôr condições ser obrigado a voltar.
Resisti a traição de alguns amigos. 
Resisti ao distanciamento dos meus dois irmãos.
Resisti a indiferença do meu pai. 
Resisti aos lamentos da minha mãe
Resisti a três assaltos a mão armada. 
Resisti a uma dolorosa separação. 
Resisti a tentação do álcool e do cigarro. 
Resisti a várias demissões. 
Resisti ao terrível desemprego. Quando vejo alguém desconfiar de algo que digo que irei resistir ou conquistar sinto um passo à frente. A vida é muito simples, mas o problema é que ninguém acredita, e as vezes, nem eu. Às vezes acho que nunca terei dinheiro e lembro que era antes que eu realmente não tinha. Às vezes acho que nunca serei pai e lembro que se não fosse o medo era para eu ser de dois. Às vezes acho que nunca irei me casar e lembro que antes o que me faltava era uma aliança. Às vezes achava que nunca faria uma faculdade e hoje vou começar a segunda. Às vezes achava que nunca conseguiria sair de casa e morar sozinho e hoje completará um ano que não dependo mais dos meus pais. Às vezes achava que iria morrer e hoje descobri que a morte é apenas uma forma de nascer de novo. Hoje, contrario meu comportamento e recuso as mesmices da nossa natureza. Hoje, adverso meu pensamento e contamino a minha biologia para não desacreditar de ninguém. Exceto do acomodado. Não há bom senso para preguiçoso. Hoje, continuo achando que não vou conseguir um tanto de coisas, mas continuo achando, continuo pensando... parece que é na incerteza que descobrimos a coragem.


19 de novembro de 2014

Quem termina é relativo

             Minutos antes do fim de uma relação é os minutos antes de uma intransigência. É quando não se tem mais pulso. É quando não se tem mais sangue. Não se tem mais fôlego. Não se tem mais vontade. É quando a percepção se assenta na tranquilidade do nada a perder. É quando entregamos nossa admiração a sorte, ou a decisão de mais ninguém. É ariscar no susto do outro. É esperar uma recusa, um imploro, um desespero, para terminar batendo a porta na cara. Talvez você verá revolução, talvez você verá grave, talvez verá pratos quebrados, múrmuros nos ombros das paredes, gritos nos ouvidos das portas, na vanglória derradeira de não permitir que abandone seu abraço. Mas pode ser que tudo se encaixe e o seu desgosto aperte a mão do outro fazendo bons negócios. Pode ser que seja a assinatura de sucesso, pacto firmado visando a quebra do contrato onde já foi analisado que só haverá vantagens, ou, menos prejuízos. Ai a casa cai. A firma encerra. A esperança morre. O que a gente quer, o que a gente mais quer é que nasça esperança na derrota assim como nascem flores no asfalto. Até mesmo depois das conclusões, que haja ainda questionamentos para fortalecer a certeza de que não ficamos loucos. Se só houver silêncio, não restará dúvida do engano. Se não houve súplicas de perdão, não haverá certeza da última vez. É na recaída que se cria estima. É no reencontro que se obtém confiança. E ainda assim, restará suspeita. É por isso que eu sempre digo que sou eu quem termino. Porque faço questão de implorar pela paciência. Faço questão de sentar no sofá e ficar até o fim. Exijo ternura. Relembro momentos. Reiterou princípios. Aviso promessa. Requisito perícia. Apresento lado completo. Trago todo o material de prova. Quero ver celular, em troca do meu. Quero sentir o cheiro, em troca do meu. Quero olhar nos olhos, em troca dos meus. Quero constranger para oferecer certeza. E se ela terminar, foi eu quem terminei. Se ela terminar, pelo menos entreguei meu cartão postal. Se ela terminar, sentirá a sensação de carregar uma história pela metade. Se ela terminar, terá consciência que abandonou a leitura, que não terminou o romance e abriu mão de criar o final. Ninguém a contará. A imaginação fracassará com a palavra preguiça na página do meio, não na do fim. Sentirá que antecipou o final antes do arremate da inspiração. Sentirá que terminou a relação antes do fim do amor. Sentirá cortando os pulsos. Sentirá a dor do osso na pele. Sentirá a saudade batendo no estomago. E parecerá que nenhuma próxima história será tão interessante quando essa sem desfecho. Parecerá frio chamar pelo nome. Não mais amor, ou subtrair metade das letras do nome, para chamar pelo nome completo, como se fosse um estranho. Feliz aquele que pediu desculpa. Feliz aquele que pediu clemência. Feliz aquele que se explicou. Feliz aquele que não agiu com imprudência. É esse que sempre oferecerá uma despedida e procurará um último abraço. É esse que trancará a porta e jogará a chave pela janela. É esse que amará mais. É esse que a gente não esquece.

18 de novembro de 2014

Entre a piada e o silêncio

           Sinceramente, não sei por que ainda frequento academia. Treino desde meus 16 anos, que somam 8 no total. Nesse tempo, acho que não fiquei mais que 3 meses sem comparecer regulamente. Já mudei dezenas de vezes, entre as mais caras e completas como a Bio Ritmo e seus programas Face2Face até as mais simples e batatinhas como a Energy Performance e as piadinhas manjadas do instrutor, administrador, dono, mecânicos, eletricista, personal trainer, tudo em um só. Ai, pergunto-me, para quê? Cheguei a 89 quilos e hoje morrer com paralisados 74. Pareço um frango definido. Depois que me tornei lutador e estudei sobre xenobióticos abandonei as suplementações alimentares e nunca mais meu corpo cedeu sua forma adolescente de ser magro. Mas até que não estou tão mal. Aguento correr 8 quilômetros sem diminuir o ritmo. Suporto combates com até dois tempos de 5 minutos e não perco o folego em treinos de futsal noites de quinta e manhas de domingo. Mas ficar grande que é bom, NADA! Algumas meninas falam que pareço um desnutrido. Vai se fode! Revolts. E não importa o que eu faça. Não passo disso. Claro, meu corpo até que está sendo generoso com meu animo de levantar todos os dias as 7:20h, chagar as 7:35h, sair no máximo as 7:55h. Foi o tempo que perdia 2 horas preciosas do meu dia com esses estabelecimentos. A preguiça tomou conta da minha concepção sobre levantar peso. Na realidade, todos nós. Vai tomar no cu para aquele que falar que vai para academia por que gosta de atividade física. É a mesma coisa que vir me dizer que gosta de fazer regime. Conversa fiada. A academia guarda todo um segredo motivacional. Repare que o instrutor é sempre simpático, amigo, firmeza, conceituado, dominador dos assuntos em voga, comediante! Te ganha pelo sorriso na conversa, isso senão contratar uma cavala para servir de santo graal dos tarados de plantão. Na academia, as melhores coisas são tudo menos levantar peso. Parece muito mais legal ficar no celular, ouvir as musicas eletrônicas, analisar o rosto no espelho claro, viajar sentado no Leg Press e participar das atividades aeróbica nas salinhas de vidro. Meter um de atleta no alongamento, ou se enturmar com as menininhas da Step; as bundudinhas do PowerJump, as estranhas do Yoga e as tonadas do Pilates. Se existem coisas que ainda me motivam a pagar as mensalidades são duas: resenhar com amigos; coisa boa é falar mal e cuidar da vida alheia. Muita mulher desconfia, mas nesses 8 anos já vi muito cara fofocar mais que cabeleireira. Falar mal do novato, criticar o fedido, zombar do esquisito. A segunda coisa é paquerar as menininhas, as vezes se matriculam umas que não dá para perdoar a resistência. Maldita calça Legging socada entre as pernas. A partir do shortinho, a tatuagem da coxa a bater no Top é pecado. É fazer homem passar constrangimento na cueca. Daí, a casa cai quando aparece um bodybuilder. Conquistador de olhares discretos. Vai cortejar a mais gata da ginástica. Coitado. KKKKKK Não descobriu que mulher pode até gozar pela sua aparência, mas vai se apaixonar pelo amigo que te faz rir. Todas as pessoas se cativam com gentilezas e se sente solitárias com o descaso. Faça um teste. Presentei alguém com simpatia e depois desapareça sem dar satisfação. Aposto uma caixa de chocolates que vai te procurar e quem sabe até exigir explicação. Fiz isso com o marombado que chegou abalando dias atrás. De cara pensei, preciso fazer amizade. É interessante, parece uma criança que tomou massa. Nem passou da catraca e já grita meu nome. Eu falo e ele ri. As meninas olham para ele e pensam em mim. As vezes vejo ele no parque São Jorge de domingo, cumprimento e saio de fininho. Na academia, questiona a pressa do final de semana. KKKKKK O que acontece é que as mulheres não estão erradas quanto chegam a conclusão de que cara marombado tem celebro de minhoca. A mulher vai perder o foco quando descobrir quem é que faz ele sorrir. Toda a mulher deseja um bobo da corte que planeje roubar o trono. Ela, na posição de rainha, vai salvar teu pescoço em nome dessa esperança e dar credito pelo teu encantado bom humor. É a diferença entre a piada e o silencio. Nenhuma mulher quer para si a mudez autoritária de um rei. Prefere muito mais a simpatia e a coragem de um plebeu. A pegada de um Robin Hood magrelo que só aparece na academia para despertar curiosidade.


14 de novembro de 2014

Todas as mentiras

        É mentira que não consegue mais amar devido frustrações. É mentira que desaprendeu e que diferente de quando era jovem hoje não sabe se entregar. O que lhe falta é apenas encontrar na cruzada da incerteza pelo prazer a paixão. É mentira que não teve tempo. É mentira que hoje não quer transar por que está com dor de cabeça. O que lhe falta é coragem de assumir seu desgosto pelos seus caprichos. É mentira que poderei ser sincero sem assumir responsabilidade. Sua represaria estar armada. Se eu disser a verdade já terei de pronto todas as consequências. 

        É mentira que poderei confiar em ti. Seu amor é sua satisfação. Seu amor é seu interesse. É mentira que culpado disso foi seu passado e ainda que fosse seria mentira sua condição de empatia, essa virtude que um dia se declarou por ti. É mentira que quer se matricular em uma academia. É mentira que quer perder peso. É mentira que quer viajar ano que vem para Paris. É mentira as suas mentiras. É quase tudo mentira que sai da sua boca. Porque querer é fazer, e quem quer e não faz não quer, mas apenas tem vontade. Se te tranquiliza dizer: igual a você existem muitos. O raciocínio das pessoas é desejar para sobreviver. Fazer planos que sabem que não conseguiram cumprir. Almejar coisas que sabem que não iram conseguir. 

        Há algo mais inerente ao ser humano do que isso? Sonhar! Sonhar com o inalcançável. Mentir para viver sua verdade. Mentir para criar seu mundo. Mentir para ser particular. Mentir para ser exclusivo. Mentir para ser importante. Mentir para mascarar o fracasso. Mentir para disfarçar a derrota. É mentira que você queria mudar. É mentira que você queria não ser assim. Mentir te faz melhor. Mentir te alivia do compromisso. Mentir te faz acreditar que não ser indelicada pela falsidade talvez te isente da culpa. 

        É mentira que você não acessa com frequência seu facebook. É mentira que você não gosta de perder tempo com virtualidade. O que te falta é inspiração. Sua criatividade se foi assim como sua vergonha na cara.  Seu antigo discurso ético-amoroso, que nem você sabe informar em que parte da velha gaveta moral-romântica escondeu. É mentira sua vontade de dar carinho. É mentira sua vontade de amar sem recompensa. É mentira que o que você mais quer é paz. É mentira que o que te faz feliz é compreender. Compreende te enjoa. Compreender te limita, te envergonha, te coloca de frente com a realidade que você não quer aceitar por luxo da sua vaidade. 

        É mentira que não acredita no amor. O que te falta é tropeçar nele mais uma vez. Ou ainda vai continuar mentindo que amar não é estar com fome e sem querer cair de cara no chão de frutas doces? Vai dizer que amar não é uma pedra dentro de uma caixa de penas que um dia você chutou e conseguiu abrir uma ferida enorme no dedão carnudo do seu coração? Vai dizer que amar não é andar de salto e terminar com o pé e ele quebrados nas mãos? Seria mentira se me disser que não gosta de salto. Seria mentira se me dissesse que a dias sem comer não ficaria contente de esfregar o rosto em lindos pedaços de manga, ou de pêssego. Vai me dizer que se encontrasse seu amor não saberia amar? E quem disse que para amar precisa saber? Quem te disse que disposição para negar voz é mal estar abdominal? Quem te disse que para dizer a verdade precisa mentir? 

        Vai mentir outra vez? Que te sufoco, que meu excesso de atenção não te agrada. O que te falta é querer. Querer me amar, querer ficar junto, querer reconhecer minha dedicação e minha paixão exacerbar por você. O que te falta é parar de mentir que não quer namorar, casar e ter filhos. Pois é mentira sua falta ambição familiar, sua falta de tempo, de quem sabe assar um bolo ou levar as crianças no parque. É mentira sua obrigação absoluta de estudar em semana de prova. É mentira sua indisponibilidade durante a noite, nas manhas de sábado, nas tardes de domingo. É mentira teu luto. É mentira tua tristeza. O que te falta é enxergar companhia, que nos salva e nos fortalece e se sacrifica. 

        É mentira que não pode sair por ordens expressas de seu pai. O que te falta é parar de responsabilizar sua família pelas suas privações. Se eles soubessem, ou tivessem contato, do seu histórico sexual, na certa te deserdariam de tanto desgosto pela putaria e desobediência. Pare de ser estupida. O que te falta é esquecer os nomes dos seus pais e lembrar dos nossos. O que te falta é parar de mentir, que já virou paranoia, mentir pra si mesma, que não quer compromisso, que não quer se relacionar, que quer se manter sozinha e que quer se manter presa aos seus objetivos. O que te falta é parar de chorar em noites de discussão com os familiares. O que te falta é parar de olhar para o horizonte com esperança. 

        O que te falta é assumir sua miséria de quanto está solteira inventar distração, se entreter com aquela amiga encalhada numa festa cheia de lobo mal sem criatividade financeira e afetiva de estar em um lugar mais inteligível. O que te falta é parar de se sentir mal, sofrer consigo mesma, infeliz por se culpar de suas necessidades e de seu azar. Parar de reclamar da sorte e fazer valer todas as suas mentiras que te glorificam, que te concedem vantagens, dar valor, valorizar pelo menos quem você não é, mas se esforça para fingir ser. Aprenda a mentir direito porque a vida não é cinema onde você dá play e começa de onde parou. A vida é uma representação dramática, uma peça de teatro, trágica ou comédia, não se pode fazer duas apresentações idênticas, é impossível, mentir a mesma coisa duas vezes igual. 

        O que te falta é se investir, se inventar, criar o agora e parar de planejar o futuro porque nele o que te restará é querer se queixa de não ter se importado com o passado, o passado da sua beleza, o passado das suas mentiras, desse papo de homem do "sonho" de toda a mulher, desse papo de que familia é a base, de passo de que amigos são essenciais, todo esse papo hipócrita que demonstra simples vontades. O que te falta, na realidade, é "adormecer". É mentira que não poderá vir. É mentira que não poderá ficar, que não pode sair, que não poderá, definitivamente. O que te falto foi chegar atrasada. Animo de investir na mulher que pode ser. Força de encarar as ruínas da imaginação. O desgaste da alegria de querer sonhar junto. A fatiga de compartilhar sorrisos. O tédio de amar quem não se ama e não amar quem ama a gente. De querer o que não se quer não querendo o que se quis.

        É mentira o teu amor, que é sincero e diz a verdade. É mentira seu quer, mas é verdade sua vontade. Vontade de ter me amado, de ter sido feliz ao lado. É mentira que é necessário confiar. Você nunca vai confiar! Esse seu jogo de convencimento e persuasão que termina invariavelmente em desconfiança. Sua pergunta é sempre uma suspeita. Para depois julgar e tacar na cara. Você procura o pior, para depois gritar que já sabia. Se não liguei ou demorei para chegar sua imaginação se torna fértil, intuitiva, vidente, adivinha, tudo, tudo menos fracassada. Admitir nosso fracasso por já saber o pior é muita verdade para nosso orgulho. É mais fácil mentir.

10 de novembro de 2014

Que desnecessário forjar desculpas

           Não sei se é coisa da minha imaginação, mas percebo que todo mundo que começa a namorar não sabe ao certo que namora. O início é tão confuso. Tão reservado. Tão avarento. Cheio de medo. Já faz um tempo que não me martirizo dessa mal. Detectei a palhaçada. No primeiro encontro já ando de mão dada. Roubo a intimidade. Olho nos olhos e falo a verdade do primeiro defeito que percebi. Não me intimido com represaria de no outro dia esquecer de mim. Já deixo claro meu carisma por um dia e a formosura de toda primeira vez. Encantador. Pra mim, quando vira a esquerda não tem mais volta. Mas os casais demoram a oficializar o que já é a público. Quanta besteira, quanto receio, por achar que gera inveja ou, vergonha, de uma escolha mal feita. Ridículo é adulto indeciso. Disfarçar ser criança, na loucura de contar, mas temer da fofoca. Preservam o convívio para não cair em tentação. QUE DESNECESSÁRIO FORJAR DESCULPAS! Que paixão sartreano é essa que muitos teimam iniciar? Risonho ardil.  Principalmente quando um dos dois telefona para falar nada. Oh vida pirandelliana! No meio do serviço ela liga. 📞 Por ansiedade você atente no primeiro toque. Quanta dedicação. Bacana mesmo é se fosse para sempre. A espera por um Oi sentindo frio estomacal. Mas não. Daria tempo de ir ao toalete estourar uma espinha no espelho até surgir uma par de vogais. Não ligou para contar novidade, dar algum recado ou convidar para um encontro. Ela quis apenas suspirar aliviada, por um sufoco desconhecido. Ela quer que a entenda e, em sua parceria, testemunhe o que está sentindo, como uma criança que coloca o fone em direção ao mar e jura que os pais alcançam o barulho das ondas. 🌊 É a correspondência da saudade, perguntando como você está... 😋 Pior que a gente sempre reponde que está meio estranho. Kkk A outra pessoa não faz diferente na reposta; eu também. Mas é um estranho bom. Confortante. Um silencio. Apaixonante. Misto de fragilidade e pudor. Uma conversa rica de harmonia e equilíbrio. Qualquer gracejo é simpatia. Até mesmo meditar sobre o vazio faz o coração bater. 💓 Uma conversa exemplar e inédita em que os dois somente escutam. Respiros... Sussurros... Espere ai, um minutinho, por favor!? 😳 Assim como ela ligou sem motivo, o pior vem depois, não dá para desligar sem ofender. 😱 É por isso que meço minha felicidade pela conta do telefone. Quando ela me liga, não demoro muito para mais tarde retornar. Não faço pouco caso da coragem, cheia de pequenas covardias. 😏 💔


szzZZ

      Nunca imaginei que um dia receberia um pedido assim. A suplica por socorro a luz do desespero. 

      — Posso morar com você?

      Que audácia. Uma afronta a minha privacidade. É muito simples dizer não, mas não é fácil possuir essa coragem. Vai que fosse um teste a experimentar da minha higiene. Vai que fosse um convite irresistivelmente sadomasoquista. Vai que fosse uma violenta embosca sexual. Se eu digo não, teria duplo sentido? Vai que ela fosse, em sua injuria pela recusa, me caluniar. Falar mal da minha prontidão. Mulher rejeitada sabe dar o troco. Mas o fato é que não se tratava de negar o improviso. Era se socorrer a minha vergonha. Meu quarto pequeno e minha cama espaçosa. Jogaria roupas no chão pra ela dormir, ou que fosse no hipermercado comprar teu colchão. Sou mesquinho em tudo que envolver repouso. Quando me casar teremos duas camas. Quem sabe até dois quartos. Dormir pra mim é um rito egocêntrico de extrema deleção. Meu egoísmo de sonhar sozinho :3 Divido minha vida, mas não divido meu edredom. A liberdade de babar sem ser discriminado e se roncar, mesmo que eu não tenha essa moléstia, não sofrer ressentimentos. Mas uma coisa não nego, ser interessante ver uma linda mulher roncar. Nunca fiz juras de conchinha eterna. Sempre acreditei que isso fosse ideal pra depois do café da tarde. Agarradinho na cama é coisa pros tempos nublados. Sem maldade! Mas aceito se pular de lá pra cá todas as manhãs. É depois do despertar que melhor se faz volúpia. Oh coisa feia transar de madrugada. Conversa fiada de que ficou a noite toda. Pergunto-me onde foram parar as olheiras, a cara de papel ameaçado? Na luz do nascer do sol eu não desacredito. Quem chega atrasado no serviço e pousar o bem humorado já ganhou minha convicção caso me conte uma erótica história. Todo o resto, historinha de filme pornô. Nem pensei para desarmar sua jogada: 

      — Sim, mas só por essa noite, e traga o seu colchão! 

      — Ah Gui, então deixa! 

      A sem-teto agora não pode me difama. Uma noite eu não recusei, embora não fosse de fato uma noite, mas sim uma manhã. szzZZ


6 de novembro de 2014

Como dominar um homem

       Perguntaram-me agora atarde o que uma mulher precisa fazer para definitivamente dominar um homem. Eu lá saberia dizer... Nunca precisei ser dominado para que o amor se despertasse em mim. Pode ser que meu amor seja o resultado de sua dominação. Como não saber... Não me interessa... Não interessa a nenhum homem. Particularmente, entendo que quem quer dominar quer nada mais que ter certeza. Infelizmente, as pessoas valorizam mais o que parece incerto. As pessoas querem o inalcançável. Querem, justamente, dominar o intransigível. Esse esforço é o que nos cativa. O que nos alimenta. O que nos proporciona esperança e vontade de lutar. O quanto é curioso imaginar o nosso amor se perder pelas vias de sua própria paixão por nós. Enquanto num dia ouço aquela pergunta, em outros, meus amigos a reclamar da perseguição de suas namoradas. Lamentam o barraco do ciúme, a insistência dos telefonemas para falarem praticamente nada, o cerceamento dos horários. Para eles, eu me faço de surdo. Fico com vontade de pedir emprestado a chave desse sofrimento. Sempre admirei o controle. Eu repudio a indiferença. Que coisa falsa e descomunal é bater no peito dizendo ser independente. Mas a menina tonou a perguntar. Como? Eu poderia responder como gostaria. Querer uma mulher possessiva, que me ligue, como ela faz, de meia em meia hora. A contar nem que seja uma nova besteira para não gastar seu dinheiro. Que seu ciúme seja ardente por antecipação. Amante do barrado ao escândalo das brigas, amaldiçoando-me, caso a abandone. Que brigue quando disser que estou ocupado e que no seu inexplicável desespero me beije chorando. Poderia dizer a ela que a mulher que ninguém quer, eu quero. Mas muita coisa poderia ali se confundir. As construções das minhas palavras mudam o tom da soma do seu próprio significado. Eu não queria descosturar o seu amor e nem permitir que ela me fechasse ao se ausentar. Eu só queria dizer o quando me apaixono pelo seu contraditório, sua incoerência e seu descabimento. Que me envergonhe para respeitá-la. Mas não poderia me embaraçar nesse inquérito. Dizer o quanto não recusaria abrir as contas, grampeado meu celular e cheirando minha camisa. Depois, por engano doentio, pedir desculpa por não conseguir dormir sem fazer as pazes. Pelas manhas, entender menos e precisar mais. Como diz um grande escritor brasileiro, o parafrasearia para ela que quem aspira ao conforto que se conserve solteiro. Por ela, recordaria do varal quando começasse a chover, decoraria uma música para surpreendê-la, sublinharia uma frase para guardá-la. De que interessa todo o tempo nosso se a eternidade alguém nos quiser dividir. Abri os olhos, respirei fundo e respondi: é isso mesmo que você quer? 

      — Sim. Como?
      — Ignore-o que você o terá aos seus domínios.

5 de novembro de 2014

A beleza de uma mulher

        A Beleza de uma mulher dura um dia porque a mulher quando acorda sempre acorda se sentindo feia. Sempre acorda incompleta. Acabada. Desvarada. Incongruente consigo mesma. Não se aceita ao olhar no espelho. O homem? Não liga para nada dessas coisas. Ele levanta e o simples fato de levantar já justifica sua prontidão. O homem já levanta pronto! Servido. Destemido. Arrumado. Com a roupa do corpo. Com o cabelo da cabeça, naturalmente, como está. A mulher, vocês, todas vocês, precisam de metade de um dia para se preparem. Exagero? Não! Há meninas que levantam, abrem a geladeira, pegam o Danone com o pé porque as mãos estão absolutamente ocupadas por secador, chapinha, maquiagem e modelos de roupas. Gastam horas e horas da manhã neste ritual matinal e como se não bastasse, acertam os detalhes na condução, a caminho do trabalho ou escola, e no meio dia, sempre reparam no retoque. Metade de um dia. Para quando ao cair da noite, depois do demaquilante, se derramarem aos lenções, exausta, inegavelmente se sentirem como do início. Um maracujá. Uma vergonha velada. Um descuido intimo seu, debaixo dos edredons. A beleza de uma mulher dura um dia porque a mulher sempre se renova, nunca é a mesma. Mudam-se os perfumes. Mudam-se os sapatos. Mudam-se as sombras. Que as vezes não precisa combinar com a roupa. Mas o esfumado sempre será o mais versátil. Mudam as cores das unhas. Os variados esmaltes, diferentes em cada mão. Para mulher, uma mão não é somente uma mão. É uma história. E cada cor tem o seu nome. Beijo. Sono. Areia do Deserto. Rebu. Malicia. Volúpia. Estrela-do-Mar. Samba. Jabuticaba. Açaí. Ameixa. Uva.... Tem toda uma maestria de fazer com que Gabriela conheça Paris, que Dara ganhe um Rubi, que Stephanie seja amiga de Glória de Lilian de Isabela de Eliana de Maria, e que todas sejam atacadas pelo Cupido no meio da Festa. São tudo nome, cores, coisas que duram um dia. E no outro, começa tudo de novo. Essa beleza passageira. Que demanda todo um cuidado. Toda uma descoberta de como se redescobrir, a cada amanhecer.


4 de novembro de 2014

De repente eu te amei III

                 Não confio em você. Já me trocou uma vez. Já me fez de gato, de sapato, de chinelo, de prego, para se prender, e se juntar, se arrestando como um qualquer. Não confio em você. Já me disse coisas das quais não conseguiu sustentar. Já me exigiu atitudes que nem você teve competência de agir. Tomar ação que fosse parecida com seus princípios. Não confio em você pelas suas verdades. Que fossem mentiras, deslavadas. Que fosse falsas promessas em teu olhar. Mas nem me prometer conseguiu. Transmitiu aquela imagem orgulhosa de que não tem nada de errado e que é os outros sujeitos ao erro de te enganar. Ninguém nunca te enganou a não ser você mesma. De achar que seria fácil. Alguém disposto a dizer o que você nunca ouviu. Hipocrisia é o seu sobrenome. Que o mundo te fez assim. Por isso não julgo ser sua culpa. A intransigência do seu humor é fruto de uma revolta social. Das relações entre os outros e os seus fracassos. Da vergonha de se sentir enganada sem um mínimo de empatia. Baita frieza essa vida a castigou. Sobre todos os amores sentidos uma marca de derrota. Restará ressentimentos, mais que recordações. Logica doentia e inexplicável da natureza. Existir mais tristeza do que prazeres. Mas a felicidade continua, só muda de foco. Você vai seguir nessa vida, mas vai levar essa outra, essa mais uma, entre tantas, marcas. Vai carregar contigo essas palavras. De que a verdade é sempre a nossa verdade e o amor, o amor é a mesma coisa. O amor é sempre o nosso amor. O que temos a oferecer. Sem exigir recompensa. Eu vou lavar teu coração. Mesmo não confiando em você, por que você traiu a minha estima. Eu vou te reconhecer e te desejar o melhor. Porque você fez tudo com o maior cuidado. Porque você embora não me amasse, tentou da melhor maneira possível me dizer isso, e eu é que não quis aceitar. Talvez nem você aceite. Talvez você se case e depois de anos se pergunte, por quê? Por que não foi com ele? Simples. Por que não tinha que ser. Por que o que é é o que foi. Sempre assim. Nunca mudará. Nosso amor um pelo outro será um segredo cruel. Um desejo como qualquer outro que temos: difícil de se realizar. Vontade não faltou. Força não faltou. Oportunidade eram varias. Mas quem planta, colhe, lindos frutos. A tua beleza e o teu sorriso. A minha conversa e o meu humor. A minha carecia e os meus cuidados e os seus desleixos e caprichos. Todo meu ódio pelas suas indiferenças se convertiam aos seus olhos em enumeras chatices. Te irritou. Te sufocou. Sei que queria me mandar a puta que pariu. Sei que queria fazer pior, do simples desligar na minha cara, coisa que a gente faz a gente esquece... De recusar minhas ligações e de me ignorar a cada deslize, por pura vaidade. Sinto muito mas não consegui ser diferente. Nem melhor, nem pior. Azar é o seu que me perdeu. Engano achar que sou só mais um que passou em sua vida. Não tenho destaque e nem fui banhado a ouro, mas sei uma coisa que quase nenhum homem tem competência para descobrir. Não vou te revelar, até por que saber não supre meus outros defeitos, inclusive o de não conseguir fazer o que sei, aquilo que com o tempo aprendi e não saberia exercer. Mas você sabe do que estou falando. Você sabe qual é o maior egoísmo... Já te contei. Já te mostrei minha disposição e não só de falar, mas de agir. Tudo que eu queria era dividir a minha vida com você. Aceitar sua loucura de me ligar de 15 em 15 minutos. Amava suas ninharias. Eu te amava aos bocados. Eu vou sentir sua falta. Quer dizer, vou sentir falta de te incomodar. De querer saber o que estava pensando. Vou sentir sua falta por que gosto de você e a gente sempre gosta mais de quem não gosta da gente. O não gostar é uma afronta. Um mistério. Nos faz de capacho. Nós mata de ansiedade. De desgosto. Você alimentou o meu amor com descaço. Mas, da minha recuperação nascerá a sua admiração por mim. Você vai se lembrar desse amor como mais um, especial, na gaveta do peluda do seu coração.