6 de novembro de 2014

Como dominar um homem

       Perguntaram-me agora atarde o que uma mulher precisa fazer para definitivamente dominar um homem. Eu lá saberia dizer... Nunca precisei ser dominado para que o amor se despertasse em mim. Pode ser que meu amor seja o resultado de sua dominação. Como não saber... Não me interessa... Não interessa a nenhum homem. Particularmente, entendo que quem quer dominar quer nada mais que ter certeza. Infelizmente, as pessoas valorizam mais o que parece incerto. As pessoas querem o inalcançável. Querem, justamente, dominar o intransigível. Esse esforço é o que nos cativa. O que nos alimenta. O que nos proporciona esperança e vontade de lutar. O quanto é curioso imaginar o nosso amor se perder pelas vias de sua própria paixão por nós. Enquanto num dia ouço aquela pergunta, em outros, meus amigos a reclamar da perseguição de suas namoradas. Lamentam o barraco do ciúme, a insistência dos telefonemas para falarem praticamente nada, o cerceamento dos horários. Para eles, eu me faço de surdo. Fico com vontade de pedir emprestado a chave desse sofrimento. Sempre admirei o controle. Eu repudio a indiferença. Que coisa falsa e descomunal é bater no peito dizendo ser independente. Mas a menina tonou a perguntar. Como? Eu poderia responder como gostaria. Querer uma mulher possessiva, que me ligue, como ela faz, de meia em meia hora. A contar nem que seja uma nova besteira para não gastar seu dinheiro. Que seu ciúme seja ardente por antecipação. Amante do barrado ao escândalo das brigas, amaldiçoando-me, caso a abandone. Que brigue quando disser que estou ocupado e que no seu inexplicável desespero me beije chorando. Poderia dizer a ela que a mulher que ninguém quer, eu quero. Mas muita coisa poderia ali se confundir. As construções das minhas palavras mudam o tom da soma do seu próprio significado. Eu não queria descosturar o seu amor e nem permitir que ela me fechasse ao se ausentar. Eu só queria dizer o quando me apaixono pelo seu contraditório, sua incoerência e seu descabimento. Que me envergonhe para respeitá-la. Mas não poderia me embaraçar nesse inquérito. Dizer o quanto não recusaria abrir as contas, grampeado meu celular e cheirando minha camisa. Depois, por engano doentio, pedir desculpa por não conseguir dormir sem fazer as pazes. Pelas manhas, entender menos e precisar mais. Como diz um grande escritor brasileiro, o parafrasearia para ela que quem aspira ao conforto que se conserve solteiro. Por ela, recordaria do varal quando começasse a chover, decoraria uma música para surpreendê-la, sublinharia uma frase para guardá-la. De que interessa todo o tempo nosso se a eternidade alguém nos quiser dividir. Abri os olhos, respirei fundo e respondi: é isso mesmo que você quer? 

      — Sim. Como?
      — Ignore-o que você o terá aos seus domínios.