19 de novembro de 2014

Quem termina é relativo

             Minutos antes do fim de uma relação é os minutos antes de uma intransigência. É quando não se tem mais pulso. É quando não se tem mais sangue. Não se tem mais fôlego. Não se tem mais vontade. É quando a percepção se assenta na tranquilidade do nada a perder. É quando entregamos nossa admiração a sorte, ou a decisão de mais ninguém. É ariscar no susto do outro. É esperar uma recusa, um imploro, um desespero, para terminar batendo a porta na cara. Talvez você verá revolução, talvez você verá grave, talvez verá pratos quebrados, múrmuros nos ombros das paredes, gritos nos ouvidos das portas, na vanglória derradeira de não permitir que abandone seu abraço. Mas pode ser que tudo se encaixe e o seu desgosto aperte a mão do outro fazendo bons negócios. Pode ser que seja a assinatura de sucesso, pacto firmado visando a quebra do contrato onde já foi analisado que só haverá vantagens, ou, menos prejuízos. Ai a casa cai. A firma encerra. A esperança morre. O que a gente quer, o que a gente mais quer é que nasça esperança na derrota assim como nascem flores no asfalto. Até mesmo depois das conclusões, que haja ainda questionamentos para fortalecer a certeza de que não ficamos loucos. Se só houver silêncio, não restará dúvida do engano. Se não houve súplicas de perdão, não haverá certeza da última vez. É na recaída que se cria estima. É no reencontro que se obtém confiança. E ainda assim, restará suspeita. É por isso que eu sempre digo que sou eu quem termino. Porque faço questão de implorar pela paciência. Faço questão de sentar no sofá e ficar até o fim. Exijo ternura. Relembro momentos. Reiterou princípios. Aviso promessa. Requisito perícia. Apresento lado completo. Trago todo o material de prova. Quero ver celular, em troca do meu. Quero sentir o cheiro, em troca do meu. Quero olhar nos olhos, em troca dos meus. Quero constranger para oferecer certeza. E se ela terminar, foi eu quem terminei. Se ela terminar, pelo menos entreguei meu cartão postal. Se ela terminar, sentirá a sensação de carregar uma história pela metade. Se ela terminar, terá consciência que abandonou a leitura, que não terminou o romance e abriu mão de criar o final. Ninguém a contará. A imaginação fracassará com a palavra preguiça na página do meio, não na do fim. Sentirá que antecipou o final antes do arremate da inspiração. Sentirá que terminou a relação antes do fim do amor. Sentirá cortando os pulsos. Sentirá a dor do osso na pele. Sentirá a saudade batendo no estomago. E parecerá que nenhuma próxima história será tão interessante quando essa sem desfecho. Parecerá frio chamar pelo nome. Não mais amor, ou subtrair metade das letras do nome, para chamar pelo nome completo, como se fosse um estranho. Feliz aquele que pediu desculpa. Feliz aquele que pediu clemência. Feliz aquele que se explicou. Feliz aquele que não agiu com imprudência. É esse que sempre oferecerá uma despedida e procurará um último abraço. É esse que trancará a porta e jogará a chave pela janela. É esse que amará mais. É esse que a gente não esquece.