Quando estou em sala de aula, a lousa já preenchida me aguarda ansiosa para ser contemplada. Os olhos fixos da galera transcrevem parágrafo por parágrafo, cada palavra que serão um dia relidas por alguns, mas por outros esquecida no caderno, logo abandonado nos fundos mais escuros da casa. Eu nunca anotei muita coisa. Quase não tive tantas folhas preenchidas. Hoje, nem perco meu tempo e praticamente descarto as anotações. Aliás, nem sei como aprendi, nem sei como lembrei, não sei como acontece. Eu vejo o gráfico e gravo na memória. Eu me arisco com as lembranças. Eu não registro nada do que serei obrigado a lembrar. Eu só registro o que sinto vontade. O que quero que vire história. Assim, me empenho, me esforço, trabalho as ideias junto às emoções. Pinto os detalhes com as palavras. Sutilmente desenho seus olhos com as letras. Escrevo sobre você para me lembrar de você. Escrevo para você para que saiba que você foi quem eu não quis me esquecer. Escrevo seu nome todos os dias nas linhas dos meus sentimentos para no inconsciente afundar e nos meus sonhos sempre te ter. Escrevo sobre você, escrevo sobre a gente, escrevo, contorno, dou cor, dou toque, dou afeto a cada frase porque assim vejo necessário, assim altero o tempo, assim salvo o passado sacrificando o futuro. Lá, salvarei novamente com novas palavras. Não faço nada disso para agradar. Nossas lições não são nossos entretenimentos. Nossos deveres não são nossas distrações. Nossas atividades nem sempre são nossas alegrias. Os exercícios, os problemas, os trabalhos, toda a matéria embutida num pequeno espaço insignificante, num curto tempo irrefutável, são obrigações perante nossa paz. Nossa singularidade está aqui. Minha paixão está aqui. Este é o monumento da minha alegria. Escrever sobre você é a forma mais genuína de expressar o quanto quero nossa felicidade.