5 de julho de 2018

O amor é uma troca

        Estive ao lado dele inúmeras vezes sem saber quem ele era. Bicha para lá, bicha para cá, ficava horas ao seu lado sentado ouvindo suas historias hilarias e seus cometários voluptuosos. Foi o primeiro a me ensinar a andar de patins e só postumamente descobri que era ele quem tinha ensinado uma quantidade enorme de pessoas, umas que conheço e outras que convivo entre centenas de roles e encontros por ai. Já brigamos e ficamos sem nos falar. Era implicante comigo por não querer sair do parque, não tentar aprender a andar de costas, não descer a 23 e não fazer nada senão jogar conversa fora. Criticava os meus patins, o meu jeito e eu fiquei aborrecido até sumir do parque. Mas num belo dia, véspera de natal, ele me chamou no wts e perguntou se eu iria patinar no domingo. Me levou para rua pela primeira vez e no maior sofrimento voltei do Mc aterrorizado. Foi uma viajem infernal. O que eu não sabia era que ele foi o fundador dos Pombas Noturnas Pombas Noturnas HIA HIA HIA. O fundador de um grupo de amizades entre patinadores bonito e recheados de boas historias. Estava ao lado de um sujeito adorável e que talvez eu não tivesse percebido a magnitude do seu caráter e da troca que ali estávamos exercendo. Dava giros intermináveis na Marquise - Parque Ibirapuera e eu pasmo observava e pensava ser aquilo impossível. Em poucos anos,após seu falecimento, consegui fazer tudo do que ele tentou me instruir, pois dentro do grupo a troca permaneceu. Muitos caras bons, dedicados e instruídos repassam por puro prazer seus conhecimentos e assim era o Wilson Heller, um homem que ele e nem eu nos conhecíamos e, independente da falta de intimidade, trocávamos momentos e convivências e isso hoje me cabe como lição, pois não importa quem seja, NÃO IMPORTA se conheci hoje ou a 10 anos atrás, a morte é certa e o importante na vida é conviver, testemunhar e pelo menos deixar memórias.