5 de julho de 2018

Terceira Chance

      Tive a primeira e a segunda oportunidade de me perdoar. Repare que nunca temos apenas uma certeza. As nuvens encobriram meu céu fazendo sombra fresca, e aqui choveu mais uma vez depois do último vendaval, há muito tempo atrás. Permanecia contente, embora encharcado, considerei apenas os tempos quentes e as ruas áridas. Considerei o calor do vazio, momento em que bebemos mais, que suamos mais, nos entregamos ao asfalto em lugar do sofá. Misturamos cerveja com vinho e nada faz mais diferença. Era só disso que quis me lembrar, para dar valor ao que talvez pudesse esquecer. Nada deu certo, como planejado, fiz lágrimas ao invés de bombons. Apanhei, bati, confiei, retrocedi. Arrependimento foi a última palavra antes dos prazeres. É como sorrir em meio a guerra, é se embriagar para amortecer os problemas, é tentar dormir para não acordar, é gozar com o sofrimento. Perguntei a ela o que significava tudo isso e acabei tendo que ouvir mais outra de suas histórias. Pior que amar é amar demais. Arrastar gerações pelos vínculos desse amor. Pior que tapas e sangue seria a bolsa estourando e o feto caindo. Os acidentes são sentimentos, fortes sentimentos de amor refletem o desconhecido. Entre mistérios sempre há barbaridades. A terceira chance é viver para contar histórias.