11 de setembro de 2014

Do deserto do nada ao teatro de prazeres

     Cá estou mais uma vez em meio ao vazio da minha estupidez. Debruçado na varanda da tristeza eu me encerro e os olhos do nada acompanham a frenética dúvida. Uma alma como a minha é uma alma deficiente que manca, como por uma estrada de pó e todas as noites arrasta-se pelo deserto seco que é a vida. Na mochila carrego o ultimo alimento no qual me sustento: um livro. Um livro qualquer, para qualquer desgraçado que vive a se perguntar: quem sou eu perante o mundo? Pergunto-me. Quem sou eu perante eu? Perguntam-me. Parece serem duvidas inúteis, tanto quanto a curiosidade humana. Mas no escuro do meu céu, com a pequena luz que me cabe neste silêncio, leio... Leio para encontrar resposta assim como caminho. Assim como facas fincadas em meu crânio, às dúvidas sangram meu raciocínio e a areia engole cada gota dessa experiência... Que pensar de mim, penso eu. Poderia levantar-me e desentortar as pernas tortas da minha alma endireitando-as. Puxar às facas fúteis da minha mente e aliviar meu raciocínio. Sei, meio que continuaria a correr pelo deserto do nada, mas quem sabe não encontraria um poço de água. Pareceria sorte? Pois na imaginação da vida o calor é forte. Negativo. A imaginação é fértil. Em outro aspecto, estar aqui é estar caído em uma vala escura. Desesperadamente pedindo socorro... Traz-me a sensação de esperança... No momento em que levando a cabeça é quando vejo a substancia tradicional da história sendo destruída pela forma tecnológica de viver. Daí, sinto-me sempre idiota em gritar assim, em quanto posso apenas ligar, mandar uma mensagem, conversar com qualquer um. O sentido da minha agonia se degrada tanto quanto o meio ambiente que se torna máquina. A fé que se animava no meu coração não mais encontra linguagem eficaz para expressar-se, e aos poucos, enquanto tornando-se vazia as dimensões da minha alma, o mundo em mim não se faz mais aquele deserto, mas apenas um triste teatro de prazeres. Onde o universo em mim se relaciona através da história, e onde tudo cria forma e significado, ainda que mais grotesco. Expandindo continuamente os limites do meu conhecimento. Assim... como se eu me perdesse no infinito das realidades cósmicas e, às vezes, tropeçasse em miragens de poços de água da história. Face a vida adquiro consciência do passageiro e insignificante caráter de minha existência. O universo se cala diante de mim. Pois minha busca leva-me para o mais silencioso lado do mundo. Uma busca de sentido na aparência por meio da essência. Que me confirma uma única conclusão que tenho ao olhar tristemente para vida. Que a morte a reconhece como um gesto sincero de prazer.