25 de setembro de 2014

Por que eu ainda não pensei algo assim?

                   


                                   De Frederico Mattos...


   "Você já ouviu alguém lhe confessar? “Eu gosto de fulano, mas ele não gosta mim, e aquele outro que gosta de mim eu não gosto!” Eu ouço isso o tempo todo na clínica.
   E durante anos esse assunto me intrigou “por que presamos quem nos despreza e desprezamos quem nos presa”.
   Durante um atendimento nessa semana consegui formular melhor meus pensamentos. Vou tentar colocar essas idéias que venho elaborando há anos…
   Noto que desejamos ser amados e importantes para alguém. Isso é até obvio. Mas porque exatamente no momento que somos amados algo dentro de nós nos paralisa? E por que gostamos de alguém no exato momento em que nos sintimos rejeitados e isso até intensifica o desejo?
   Bem, vamos por parte.
   Esse sentimento de amor interrompido é vivido pela primeira vez na relação com os pais. É o primeiro amor proibido e que nos é negado pela cultura, não podemos concretizar nossa intenção amorosa com os pais. A não ser no plano da idealização.
   Essa relação passa a configurar o primeiro triângulo amoroso da nossa vida. Aquele quem eu desejo não me deseja. A primeira desilusão amorosa e dor sentimental fica registrada em meu inconsciente.
   Em nossas peregrinações amorosas buscamos outra possibilidade de amor. Mas já carregamos essa primeira ferida.
Em torno da dor criamos barreiras e medos que nos assombram a cada vez que nos sentimos envolvidos pelo amor.
   Quando notamos alguém que nos ama aquele sinal de alerta inconsciente dispara “CUIDADO, você va se machucar, não se prenda a ninguém”.
   Esse temor de viver uma história concreta e não idealizada de amor nos congela a alma. Pois nos confere responsabilidade (“tu te torna eternamente responsável por aquele que cativas”) e esse sentimento nos apavora. O de não sermos bons o suficientes para preencher o amor dos outros. Diante do amor alheio nossa criança ferida recua e teme viver uma intimidade, o apego e a possibilidade do fracasso, rejieção e abandono.
   Já a posição de rejeitado é confortável, pois ficamos num eterno embate com um rival inimigo. Essa raiva misturada com desprezo nos coloca num vitimismo queixoso e paralisante. Ficamos estagnados no tempo e espaço à espera daquela pessoa amada. Perdemos a responsabilidade pela nossa vida e ficamos à mercê de outra pessoa. Dependo dela para ser feliz e não mais de mim.
   Do contrário, ser amado me confere uma responsabilidade para com o sentimento alheio que talvez não me sinto preparado. A realidade é sempre desconfortável se comparada com a idealização. E diante da realidade de alguém que me ama também sou colocado diante de meu ressentimento do passado, a sombra irrompe e diz: “Agora seria um bom momento para fazer essa pessoa experimentar um pouco do que eu sofri”.
   Nessa hora surge o nosso sentimento de desprezo pelo outro, achamos as demonstrações de afeto da pessoa bobas e melosas. O amor dela nos parece tolo e infantil e assumimos a posição dos nossos pais que nos proibiram o amor.
   Por isso que quando alguém que desprezávamos desiste e segue em outra direção passamos a valorizar aquela demonstração do passado, pois daí passamos à condição de vítima e já não somos mais responsáveis por corresponder à altura do sentimento alheio.
   Amar e ser rejeitado me coloca diante da raiva passiva.
   Ser amado me coloca diante da responsabilidade de uma realidade de amor.
   E disso dependeria minha felicidade.
   Mas no fundo preferimos a fantasia à realidade. A rejeição vitimizada ao amor maduro. Preferimos a infância à vida adulta.
   Amar me faz poderoso, ser amado me torna vulnerável. Dar me confere força moral, receber me expõe aos medos e inseguranças.
   Por isso é mais fácil amar do que ser amado!
   Se minha explicação ficou confusa, por favor perguntem pois quando brota algo assim prefiro escrever…"