Cara, não entendo a cabeça das pessoas. Nunca se importou com o parente. Nunca deu o merecido valor, às vezes porque o parente nunca mereceu. Nesses casos, fazia era muito pouco caso. Não se preocupava e só procurava saber em especial se a situação geral da pessoa estava melhor ou pior que a sua própria. De repente o parente se hospitaliza, fica em coma, se interna, em estado grave, quem sabe de choque, correndo risco de vida. Então a pessoa se rebela. Faz baixaria na porta do hospital. Atrapalha a dedicação dos parentes mais próximos, ou dos amigos, que seriam muito mais efetivos que ela própria, que nada significou senão um ser inconveniente a vida toda. Não sai da sala de espera. Não para de incomodar, ligando no meio da madruga. Chora, faz escândalo, diz que sonhou e teve um pesadelo. Depois faz corrente nas redes sociais, pública qualquer novidade, sem ao menos dar o cuidado de verificar se a informação é verdadeira. Isso deixa todos da rede confusos e aflitos. Quando não fica sabendo primeiro de algo, vai tirar satisfação, discute com os médicos, só com os médicos porque com a assistente social da muita preguiça. Bate-boca com quem não é da família, faz inimizades, depois toma uma comida de rabo do avô ou do pai e se explica dizendo que só queria ajudar, que está muito abalada e não sabe o que fazer porque doí demais. Ai volta a chorar, fica toda vermelha, com o rosto inchado, passa mal, entra em depressão, briga com o namorado alegando que o miserável não teve a coragem de em nenhum momento a acompanhar. Ou se for homem o parente da vítima, enche o saco da namorada para ir junto, a namorada vai e o cara invés de dar assistência fica namorando atrás do hospital. Se for acidente de trânsito o cara quer ir de represaria, pesquisa placa, endereço, processo civil, criminal, advogado, quer que quer indenização. Procura os primos, os tios, os irmão. Pega o 38 velho na caixa de sapato e checa para ver se ainda tem bala. A namorada diz que não há necessidade para tanto e ele reponde que não tem nada a perder. Agora se o parente tem herança a figura muda. O contexto é outro e se caso o parente morre, coitado, espera-se que depois da morte o que tiver que acontecer aconteça em outro lugar porque seria constrangedor ver como a família se reage diante da morte. Literalmente uma guerra. Filho da puta se o parente não tenha deixado o testamento pronto, porque ai a dor de cabeça é maior aos familiares. É necessário entrar com processo de direito das sucessões. Burocracia pura. Os irmãos, que antes eram amiguinhos uns dos outros, se tornam eternos inimigos, ao ponto da discórdia fazê-los se esfaquearem. Uns encher a cara da cachaça e vão desaforar na porta do outro. Mandam indiretas, fazem ameaças e caluniam. O pobre do falecido? ah, esse ai é sempre um desgraçado que até depois da morte ainda traz problemas. Vai entender as pessoas.