29 de novembro de 2016

Cólera de Mártir

    Segure sua dor, esse órgão que pulsa em suas mãos.
    Segure sua raiva forte, sua ira reprimida e seu impulso violento.
    Segure essa incitação contra aquele ou aquilo que nos ofende ou indigna.
    Segure seu comportamento de ferocidade, de irritação contra quem te agride.
    Sinta seu ódio, espere borbulhar no canto da boca, experimente seu sabor.
    Aprecie o amargo desgosto escorrer dos seus ouvidos quase insensíveis, incapazes de captar algo bom, túnel para entrar e sair.
    Dê prestigio ao que seus olhos vêm com tanta precisão.
    Não seja tão modesto com sua percepção da realidade: boa parte das pessoas estão pouco se fodendo sim umas para as outras.
    Mas, por favor, não seja coitado, mesmo que seja verdade que no final das contas a vida sempre fracassa.
    Perca tempo.
    Deixe o medo.
    Errar não é humano?
    Eu faço amizade com a dor.
    Como um mendigo que recusa o albergue e se acomoda no chão da calçada.
    Como um soldado que obrigado aprendeu a desviar de tiros.
    Esquivo das flechas da morte como se estivesse bêbado jogando sinuca. Já jogou sinuca?
    Não se sinta intimidado nem apreensivo. Você já se acostumou com tanta coisa.
    Nos acostumamos a comer no mesmo horário, a usar determinado tipo de roupa, a pagar as contas no mesmo banco.
    Estude mais. Observe melhor as pessoas. Esqueça a velha publicidade vendendo vidas que não existem.
    Fazer o que se somos medíocres na natureza? Vamos sofrer em resolver isso buscando uma vida estética, pelas sensações? Uma vida sedutora: sexo, bebida, jogos, comida, viagens: uma opção boa, mas dificilmente acessível e jamais duradoura.
    Repito caminhos para não esquecer quem sou.
    Já não ligo para o cheiro desagradável da sala, fiquei trancado aqui por algumas horas, não sinto mais sua presença.
    É uma adaptação do meu próprio organismo para não sentir o incômodo do elemento desagradável que foi você em minha vida.
    E da mesma forma acontece no campo emocional. Nós nos acostumamos a usar com mais frequência determinados tipos de emoção.
    Algumas pessoas trabalham muito com a culpa. Estão sempre condenando alguém ou alguma coisa.
    Outros trabalham com a crítica. Pode ver tudo arrumado, mas se ver uma vassoura no canto da sala, o olho bate logo lá.
    Outros se acostumam com a baixa-estima. Já se acostumaram a se enxergar sempre de uma forma negativa.
    Eu me acostumei com o sofrimento. Isso é muito comum em pessoas que tiveram um passado muito sofrido. O tempo passou. Está em outra época mas continua se lembrando do tempo em que carregava cana na cabeça. São pessoas que não aprenderam a lidar e a lutar pela felicidade. Muitas pessoas não sabem oque fazer com a felicidade. Não sabem simplesmente senti-la. Outros não querem nem sentir com medo de um dia perdê-la.
    Mas no amor há uma vantagem que nem todos percebem, trocamos os órgãos.
    Muito cuidado, quando eu amar, saberei exatamente a dor que terei em minhas mãos.

25 de novembro de 2016

Histórias de Amor

           Qual história de amor não é uma "longa" história? Perguntar como foi, como começou, como terminou, como está. Respostas curtas serão respostas suspeitas ou cômodas demais. Mas que novidades haveriam nas longas? Que história de amor não é amor e ódio juntos em alguma medida? Que história de amor não é por fim um trecho da biografia de uma busca por conforto, presença, companhia, aceitação, entrosamento. Que história de amor não é hoje uma história de prazeres e vinganças, a luz do aconchego e das suspeitas, margens da transitividade, beira rasa da alegria, oceano fundo da indiferença, qual a promessa de que um amor jamais se tornará um constante mal estar? Que história de amor hoje tem final feliz? Que história de amor hoje tem final triste? Que história de amor hoje tem final definido? Que história de amor hoje tem conclusão? Que história de amor hoje tem moral? Que história de amor hoje tem amor sem ter frustração e que história de amor hoje tem frustração sem ter amor?

           Se foi uma história, foi um amor e quem ama sempre se desespera. De todos os jeitos, não encontra posição para dormir ou para escrever ou para viver ou para sorrir. Que história de amor hoje não te deixa cada vez mais surpreendido, cada vez mais frio, cada vez mais assustado, cada vez mais exigente, cada vez mais seletivo. Que história de amor hoje não te faria lembrar da impossibilidade de lidar com a separação como se fosse apenas uma indisposição, não te faz lembrar que será mais uma vez caso de paixão ou morte. Que história de amor não te coloca a mercê do acaso de ou sofrer ou não sofrer, ou inventar novas armas ou não estar em guerra por alguém. Que história de amor não nos coloca na rua, nos transforma em mendigos. Perdemos bens, a noção da realidade, a razão, e buscamos o perdão e a reconquista insanamente. Que história de amor não nos torna pedintes. São terra arrasada, são reincidentes, são torvelinhos, são redemoinhos, são furacões, são volúveis, são instáveis, são frágeis, são febris. Que história de amor não nos deixa calados e distantes, abandonando por meses atualizações nas redes sociais. Que história de amor não nos faz pensar na barbaridade de quem nos virou as costas aparentemente sem sofrer. Não existe nenhuma aparência escondendo seu pesar. É frieza mesmo. É indiferença mesmo. É pouco caso mesmo. Que história de amor não alucina. Não deixa trabalha mais, não deixa conversa mais, de não conseguir sair para se divertir, a vida para e ou esquecemos os amigos ou reencontramos todos num ato brutal da solidão. Quem não explode em suas histórias de amor? Promete esquecer e dois minutos depois está revirando tudo em busca de notícias. Promete não tocar mais no nome e vasculha as antigas conversas à procura de uma palavra esperançosa. É isso amigo leitor. As histórias de amor hoje são histórias frágeis, instáveis, que não dizem nada, sai um entra outro, goza aqui, faz gozar ali, para um tempo, mantêm-se sozinho, com os olhos aguados sem entender porra nenhuma.


24 de novembro de 2016

Quero você

      Quando começo a namorar sempre tiro fotos dela distraída. Coleciono seu lado mais íntimo nas pastas da criatividade. Arquivo a memória dos seus mistérios na mídia mais fina da minha percepção. Eu catálogo cada detalhe dos descuidos da sua beleza. O momento mais bonito da mulher é quando o corpo quer estar belo, mas em raros momentos escorrega na convicção. Gosto do final da maquiagem, hora em que o lápis dá os últimos contornos da majestade que se olhará no espelho. Momento curto, de extrema atenção e toque clássico, dança balé com os dedos. Eu sou cuidadoso com a imagem, capturo exatamente as que não me interessam, nossos caminhos são diferentes. Quero o que ela quer. Quero os olhos que nela brilham. Quero o ângulo da sua beleza. Quero que ela se surpreenda e diga nossa como estou estranha. Quero que ela se sinta sempre melhor que a luz do passado, mas deseje essa luz para revelar algo de novo agora. Quero a maior qualidade do seu rosto confuso. Quero a expressão aleatória das suas dúvidas. Quero o sorriso mais triste e os olhos mais baixos. Quero a beleza mais pura. Quero o encanto mais oculto dela mesma. Quero a formosura dela que ela ainda não descobriu. Quero a venustidade mais rara daquele dia mais quente, o sol a cortejará em laranja com dourado. Quero a oportunidade exclusiva de fotografar sem ela perceber a superfície mais suave da sua pele. Quero que ela se morda de raiva em saber que detenho o monopólio de seu glamour. Que tenho as fases mais neutras do seu charme. Que tenho guardado os encantos que ela nunca percebeu. Quero disponibilizar aos poucos essas riquezas. Quero fazer suspense com o brilho de cada momento. Quero ver a curiosidade dela no olhar e quem sabe fazer desse anseio a obra de arte com sabor e cheiro, azedo e doce, respectivamente. Quero extrair da sua fúria a essência mais gloriosa do seu poder feminino. Quero todo o seu pé, prateado de talento e destreza, a manicure faz sem sofrer o que eu me esforço até desmaiar. Quero mais que sua beleza, quero sua verdade.


Criançada

       Claro que é preciso disfarçar um pouco o sofrimento, talvez tirando fotos, talvez se maquiando ou então bebendo um pouco(para criar coragem), mas a insatisfação às vezes fica clara no vermelho do batom, no esmalte descascado, no cabelo natural, na independência adquirida, na consciência fina como um pó: se sente constrangida diante de tantos homens sozinhos e desesperados. Vai ficar mais constrangida ainda quando estiver envolvida, nessa época em que a satisfação individual é tão marcante. Vai reparar nas amigas solteiras, curtindo e reclamando, mas raramente com a mesma pessoa. Notará nas ordens, incomodada ficará com os gritos, paralisada ficará com a vigilância, sentir-se-á saturada da oferta de um amor banal. Será natural a troca rápida frente a tantas (decepções)opções. A paciência diluí-se no descarte: a rotina da mesma conversa vulgar, o ritual das mesmas frases esdrúxulas, o hábito das preciosas perguntinhas das mais inconvenientes que se possa imaginar, do repertório quando não chulo, superficial, quando não exagerado, fugaz, quando não poético, grotesco, do papo invasivo, do comportamento machista, que antes era sinônimo de virilidade. O constrangimento de ser feliz a dois vigora nos desejos líquidos mais profundos das pessoas, especialmente no da mulher que agora enxerga nitidamente o homem de debater nas ruínas dos seus próprios ossos.

Quando a conheci

      Mulher, pequena que cabe em meu abraço mais apertado. Grande, que diminui a minha confiança mais exagerada. Simpática, que não beija com a boca, faz massagem com os lábios, acalmando os ossos da nuca.

      Mulher, que organizar pensamentos que aparecem depois somem. Que desestabiliza as bobagens de ser homem.

      Seu jeito de sentar encanta, sempre bonita como as nuvens e as pernas cruzadas como de uma ginasta.

      Seus pés que você cuida como se fosse seu rosto. Suas mãos que você cuida como se fosse seus pés. Ao caminhar, segura o chão.

      Mulher, que nega despedidas, que não confia em finais, que acumula inícios.

      Mulher, que admira passagens como uma mariposa admira o lustre.

      Mulher, que abraça os cobertores como um bebe se arruma no ventre.

      Mulher, aproveita o barulho da chuva, lavando-se de olhos fechados.

      Não me encantei só pela sua beleza, mas por você valorizar coisas incríveis como um cabide.

      Não me encantei só pela sua inteligência, mas por me fazer perceber minha arrogância.

      Não me encantei só pelo silêncio do seu sorriso, mas pelo barulho da sua paciência. Estou certo de que não economiza talheres no café da manhã.

      Eu só queria saber o que há dentro das caixinhas da sua residência. Como tem dividido as riquezas da sua história.

      Eu só queria saber o tem desenhado no seu caderninho do curso de arquitetura dos seus pensamentos. Ou as fotos dos porta-retratos que guardam significados de talismã.

      Eu só queria te ver provocar ciúmes no mar ao tomar banho de sol.

      Eu só queria o carinho que você inventou com as pontas dos dedos.

      Eu só queria acordar vendo você me olhar como o céu olha você acordar vendo as estrelas brilhar.

      Eu só queria sua paixão de turista, ansiosa para cruzar todos os dedos das minhas mãos.

      Eu só queria seu amor generoso, quando toma banho perfuma a casa inteira.

      Eu só queria sua sinceridade de me olhar nos olhos, pois quando não olhar já saberei que o amor acabou.

O que se esquece

          Parei para olhar suas fotos e deduzi trechos do seu maravilhoso passado. Seria equívoco generalizar sua vida por algumas imagens perdidas em sua memória. Seria errado reduzir sua história a restos de tinta esquecidos no porão da sua alma. Seria inconveniente acender as luzes para voltar a brilhar esse jardim abandonado. Eu queria acertar qual a sua flor favorita, qual o pedaço de mato que seu olfato insistente não esquecer. Que cores combinam mais com o teu rosto. Se é o cinza das paredes dessa cidade , se é o verde da árvore frente ao portão da sua casa, se é o amarelo do sol que te ilumina quando você só quer sorrir sem saber por quê. Explica essa trilha sonora das fotografias que cantam o seu perfil, esse som tranquilo, parado como uma imagem. Que luz desenhou melhor a sua alegria, aquela que veio do azul do céu ou aquela que veio de uma festa inesquecível. Que luz desenhou melhor a sua melancolia, aquela que veio do vermelho do seu quarto ou a roxa do bar que você girou amizades. Seu amor, que luz fez molhar a sua pele suada ou fez borrar seu batom já quase ressecado. Quem salvou o seu melhor lado?

          Diante do flashback, eu me pus a comparar o que fui com o que sou. Todos, quando pequenos, sofrem com separações, com desavenças, com conflitos, indicativo de trauma, término da idealização e receio de parar num orfanato. E todos, quando maduros, consideram a separação e o individualismo necessário e natural. É impressionante o quanto nos esforçamos para manter os pais juntos, as amizades unidas, sem a preocupação com o registro do fato, a exaltação do momento, o disfarce de um sorriso abalado, de uma consciência real sobre a dificuldade da vida, e não realizamos quase nada pelo nosso conforto afetivo na vida adulta. A câmera frontal aliviou nosso orgulho ferido. Jamais deveríamos nos esquecer daqueles que capturaram nosso melhor ângulo. Jamais deveríamos nos esquecer de quem coloriu nossa euforia. Que cor sua vida teria no porta-retrato do meu coração? Pior que me esquecer no fundo do baú será me excluir na lixeira do seu passado...

Tanto faz?

Não escreverei para você entender.

Escreverei para não enfartar. Meus motivos são diferentes do seus e isso é o que compõe nossas diferenças: conhecer as inspirações. E daí se a barriga dela é fora de forma e eu me sentir atraído por todas a gorduras que ela esbanjar? E daí se o amigo que me acompanha vive em situação de rua e eu me sentir feliz pela sua presença? E daí se por a caso beijar um homem que desejava meu corpo nu em cima do dele? E daí se quando eu estiver noivo descobrir que ela fez em algum momento da vida dupla penetração? E daí se em quanto você amava seu companheiro dormia com outra na sua cama sagrada? E daí se por a caso em algum lugar da sua vida você se deparou com alguém que te instigou embora casada? E daí se você apensar da família e da figura de pai sentir prazer por alguém do mesmo sexo travestido naquilo que mais o excita? E daí se estiver numa balada e ver quem você acabou de beijar, beijar outro , e outro , e outra , ? E daí se você decidir ficar em casa deitado lendo um livro ou assistido um filme em pleno final se semana? E daí se você se masturba para não se lançar de cara no asfalto? E daí se você já não aguentar mais trepar com a mesma pessoa? Já experimentou dizer isso a ela ? Ela é importante demais para sua sinceridade miserável? A sinceridade está a quantos degraus da necessidade? Mentir para se manter de pé é a sina? Já voltou a fumar novamente? Já voltou com seu ex mais uma vez? Já voltou a roubar apensar das consequências ? Já volto a jogar apesar do azar, apesar da sorte, ? E daí se você decidir sair e se drogar, perder todos os seus bens e fazer seus pais levantarem da cama em meio a madrugada para lhe resgatar? Será que faz de você alguém melhor ou pior, em relação ao quê ? E daí quanto às relações ? Se você quer hoje estudar e amanhã ver TV ? Confusa sua vida ? Se você quer hoje trabalhar e amanhã inventar atestado ? Confusa sua vida ? Se você quer seguir às diretrizes pelos padrões de sua família e amanhã ser você em sua rebeldia extremada por carência de justiça quanto à realização de suas vontades pessoais ? Se você por anos tratou bem seu namorado(a) mas hoje não quis e justifica com palavras vazias, de uma carência imbuída ? Bipolar sua vida ? Querer mais, exigir mais, falar gritado, omitir a verdade, ficar em silêncio, chorar de amor, odiar por prazer, querer o fim de alguém, vingar-se com as unhas... E daí se você descobrir que você é o que é? Objetivo, pessimista, malvado, gentil, individual, hipócrita, lerdo, fingido, metódico, assassino, curioso, moralista... o que você é e onde você está ? Quanto você precisa beber para ter coragem de começar a beijar ? Quais suas vontades? Quais seus desejos? Por que ainda não mudou? Aliás, é preciso mudar? Preciso desistir de você?

Se você tem alguma certeza é por que não pensou até o fim!

Estrela de um Céu Nublado

      Impossível prever o que virá, controlar o que se vem; suportar o que já veio, esquecer o que se foi. Vinga-se com cuspe forte no chão ou sujando imprudentemente a via de rua.

      Faça o que for melhor que adoce o seu desgosto. Faça o que for melhor que umedeça a sua tragédia. Mas as palavras estarão prontas quando não quiser fazer nada. Na falta de opção a poesia poderá ser uma. Na falta de opção a música poderá ser uma. Na falta de opção pedir desculpas poderá ser uma. Na falta de opção voltar a trás é ter uma. Só não diga que não tem opção.

      Quem lhe amou esteve pronto para secar suas lagrimas ou limpar a sua demência no canto da boca. Quem lhe amou esteve pronto para capturar os passarinhos destreinados do seu estomago ferido. Não tenha medo de chorar no copo das mãos de quem um dia lhe acariciou. Não tenha medo de mostrar a alegria de sua tristeza. Não seja covarde em dizer não não há opção: gritar no vazio ainda é gritar.

      A infelicidade de um casamento destruído, de um namoro encerrado, de um emprego perdido. E nada muda, apesar da prisão, e nada muda, apensar dos lamentos, e nada muda, a mesma comida, o mesmo trajeto.

      Você dorme e nada muda porque os filhos ainda estão pequenos. Você dorme e nada muda porque agora os filhos estão crescidos. Você dorme e nada muda porque os filhos agora vão se casar e você dorme e durante o sono se esquece, mas nada muda porque ao acordar a ferroada arde, você perceber algo, como ter vivido à toa.

      A preocupação de se desperdiçar mais um dia de esperança e se ver sem opção. E o corpo lembra uma janela suja que todo o dia quer se animar em limpar, mas não limpa. Obscurece a luz que vem de dentro, a cor cinza aumenta, a vontade de levantar diminui. O cheiro do desinfetante é o cheiro do vômito que não curou a dor de barriga. É a vontade de ir ao banheiro com a cabeça pensando em diversos problemas. É deitar na cama velha depois do banho tomada, o som antigo dos rangidos lembra que nada mudou. Os buracos do chão se estendem como mapas da sua historia. As lascas do armário velho traçam as rusgas finas em seu novo rosto. Se limpa as gavetas para apagar vestígios da sua inexistência.

      Quando é impossível confiar em mais alguém. Quando é impossível acreditar mais em você. Quando se calar para não brigar. Quando concordar com a família para encerrar logo o assunto. Você ainda tem opção. Sorrir ou ficar serio. Ler ou aguardar a morte. Ignorar ou tentar ser gentil. Lembrar dos outros ou pensar só em você. Viajar ou pular nas nuvens. Deitar ou correr no mar.

      Sobrevivo mendigando o amor. 
      Pedir esmola ainda é uma opção.
        O que estou fazendo aqui? Parei para te olhar e me afoguei de silêncio. O que estou fazendo aqui? Pegando fogo de tanto te lembrar. Meu tempo ficou lento acompanhando seu sorriso. Sorrisinho falso como a de uma professora que elogia. Nunca estarei à altura dos seus seios. Nunca sujarei seu rosto de prazer. Por que vem me encantar sem perceber? Por que me embriagar com sua boca tão distante. O que está fazendo aqui? Adoecendo minha saúde, de saudade de esquecer.

O não ridículo

         Por que NÃO ser a favor da venda e do porte de arma? Por que NÃO ser a favor da liberalização do consumo da maconha, mas sempre confundir com o universo químico de entorpecentes? Por que NÃO ser a favor do abordo? Por que NÃO ser a favor da pena de morte? Por que descriminar a eutanásia? Por que NÃO ser a favor de moleque assassino ir para cadeia? Só não sei as razões do abandono de investimento dos sistemas prisionais: falta de dinheiro ou de caráter? Por que NÃO ser a favor da união de pessoas do mesmo sexo? Por que SER a favor de ensino religioso obrigatório em escolas públicas? Por que SER religioso, eis a questão. Por que NÃO querer um estado mais de esquerda, mas, se um dia ficar rico, preferir sim por melhorias nos sistemas privados e capitalistas, sem perder o reconhecimento pelo papel importante do estado no controle econômico e continuar pensando em políticas públicas, no acesso à cultura, ao lazer, à saúde, à educação, de forma pública ou abruptamente fiscalizada. Por que ter que fiscalizar? Olha que ridículo! Por que permanecer pensando em equilíbrio e meio termo só quando houver vantagem própria? Por que NÃO adorar namorar uma feminista, quando ela realmente é recíproca com suas opiniões. Por que NÃO adorar namorar um machista, quando também for recíproco, quando sempre bancar toda a sua disposição. Por que NÃO ser recíproco? Por que se incomodar em pagar as contas, quando não somos controlados e nem criticados. Por que NÃO ser a favor das cotas para negros em universidades e concursos? Por que NÃO ser a favor do enem? Por que querer sair sempre vencedor em um discurso, mas nunca se esforçar apenas para encontrar a pura verdade? Por que NÃO se questionar, mas afirmar o tempo todo? Suas respostas são verdadeiras ou fazem parte apenas da sua opinião atualmente mais vantajosa?

O Valor do Querer

       Não sou aquele que por ser romântico (normalmente vem de brinde a intolerância) facilmente cativa as mulheres com sua maquiavélica cordialidade.

       Aquele homem rico, em regra prepotente, que domina rapidamente as meninas, ostentando sua capacidade financeira de comprar alegrias.

       Aquele cara fingido, geralmente um coitado, que persuade elas de tal forma tão eficiente, mas tão ineficaz ao final.

       Até gostaria, mas não sou aquele garoto inteligentíssimo, de gênio forte, que simpatiza e encanta exatamente quem ele se quer imaginava que fosse a que tanto queria: menino de sorte!

       Não sou aquele homem completamente astucioso, quase sempre egocêntrico, que se debruçar nos detalhes da balada ou da festa no intuito fugaz de beijar todas ou as mais difíceis e se angariar diante dos demais.

       Aquele rapaz másculo de acadêmia, quase sempre um narcisista de batata doce, que excita e umedece os corações das moças por aí.

       Também não sou aquele moço belo, às vezes de caráter simples, que estimula a imaginação fértil das garotas por onde passa.

       Aquela figura bem apessoado, de um exuberante estilo e majestoso visual, que mexe com a criatividade delas e as fazem imaginar o que há por trás de tanto bom gosto.

       Também não sou pragmático, bitolado em meu trajeto certo de vida, que seduz qualquer uma que encontra a mudar de vida segundo seus próprios caminhos.

       Talvez o meu excesso seja saber exatamente quem sou. Aquele que não conquista alguém por exacerbação de especialidade.

       A conquista é semelhante a uma obra de arte. Você simplesmente faz sem se importar com as críticas e rejeições ou com os aplausos e homenagens. Você faz por que é a sua vida. Seu sentido de viver nela.

       Você se entrega como um pássaro que se joga na tinta azul do céu e rasga as nuvens, como dentes que puxam pedaços de algodão doce ao prazer do céu da boca.

       Você da importância a ela como um árbitro da a um final de campeonato. Percorrerá próximo a todos os lances sem nenhum escapar da sua aguçada responsabilidade. Andará de tanto cansaço, mas jamais sentará.

       Você a quer como um vaso quer o chão. Como um aquário quer os peixes, senão estará sozinho e esquecido como um tupperware velho.

       Você se esforça como uma joia que por milhares de anos se lustrou na terra.

       Você a deseja como um beija-flor faminto, dançando no ar.

       Você a observa como um gavião do alto do inferno e sonha pela tranquilidade de seu paraíso.

       Quando eu me interessar por você e você por mim, saiba que o meu interesse será uma necessidade, não como a de um pulmão que não vive sem ar, mas como a de um livro que não existe sem uma história.

Sensações pósteras

      Eu sinto tanto. Dentro em breve amará outro ao ponto de copiar caminhos e frases à homenagem de suas histórias, do que viveu comigo, do que aprendeu comigo, do que não quer que fique para o esquecimento, pois o amor será por outro, mas a esperança continuará sendo a mesma.

      Eu sinto tanto. Irá esquecer do meu toque, mas não esquecerá da minha voz.

      Eu sinto tanto. Arrume teu quarto com a lembrança da minha alegria. Dobre suas roupas e sinta o meu perfume. Vá ao shopping e use um dos meus presentes. Abra um livro e se emocione com a nossa história.

      Eu sinto tanto. Não me terá para dividir a salada de frutas gigante que trazia todas as manhãs de domingo na cama. Não dividirá mais a cama de solteiro.

      Não terá mais o acaso de alguém que escolhia filmes épicos para noites de sexta, a te sensibilizar, a te tatuava por dentro.

      Não estarei contigo quando lembrar dos familiares falecidos. Não estarei contigo quando esquecer de estudar. Não estarei contigo quando parar no tempo. Não serei mais seu relógio nem seu calendário.

      Não terá quem te lembre de novos concursos. Não terá quem lhe ofereça ajuda para pagar as inscrições, que lhe ofereça ajuda para ensinar disciplinas, que lhe ofereça ajuda a caminhar por um mundo que ninguém nunca mostrou.

      Eu sinto tanto. Ninguém iria incentivar a patinar, a jogar bola, a fazer acadêmia, a correr no parque, a fazer dieta e comer besteiras, tudo ao mesmo tempo.

      Receberá convites automáticos. Será parte de programas pré-estabelecidos, forjados pela nova conquista, e o que antes era rotina logo será passado.

      Começará a pensar no que não fez. 
      Começará a fazer o que deveria.

      A taça de vinho estará vazia. A chuva será água com gás. A pizza de 4 queijos terá meu sobrenome. Os espetinhos de tulipa terão a minha cor de pele. A desgraça lembrá o sabor do meu beijo. As alegrias terão a saudade do meu sorriso.

      Não terá mais a minha mão para segura. Não ouvirá mais a minha voz estremecida por algum problema do qual necessitaria da sua opinião. Não receberá mais o meu bom dia ofegante pelas manhãs. Não precisará mais estender os pés para me alcançar. Não será mais esmagada pelo meu abraço forte. Não terá mais o meu peito como teu travesseiro.

      Eu sinto tanto. Não ganhará mais rosas de chocolate junto com sapatos, após uma intensa discussão. Não ouvirá minha leitura poética, e agora buscará talvez direito da fonte, mas sem o gosto da minha boca para explicar, sem o gosto da minha empolgação para lhe confundir.

      Eu sinto tanto. Irá esquecer dos seus defeitos, convencerá as amigas de que fui um babaca, que não prestava, que não fui fiel. Sentirá ódio por imaginar que não te amai, que não me esforcei, que fui grosso, que fui incompreensível.

      Eu sinto tanto. Irá esquecer do meu estilo de roupa, do número dos meus sapatos, do tamanho das minhas camisas. Não se importará mais com meu aniversário. Não abrirá mais o meu armário para ver o que eu ainda não tenho. Não dividirá mais a toalha, não roubará mais os meus bonés, não terá mais as paredes do meu quarto para decorar com fotos impressas no papel.

      Irá me procurar pelo perfil dos outros, ansiado por notícias. Tentará prever por onde ando, com quem estou e para quem tenho escrito.

      Eu sinto, sinto mesmo não ter sido diferente, porque pelo menos não restaria tanta coisa para sentir.
                Nunca imaginei que fosse desesperador descobrir que é lésbica a pessoa por quem se interessa. Surgi uma vontade impulsiva e ineficiente de convence-la do contrário. Quero explicar que isso não faz parte. Quero provar que é loucura. Quero lutar por uma conquista mesmo que contra a biologia da alma dela. Mesmo que fosse a transcender paradigmas dela, a refutar os desejos dela, a inibir os instintos dela. Pois você tinha certeza de vitória e não aceita esse oposto. Pensa que se for por conta de outro o orgulho supera, pensa que se for por dinheiro a humildade justifica, pensa que se for por beleza o passado disfarça, pensa que se for por incompatibilidades o tempo o faria esquecer as indiferenças, mas não, não é nenhum desses e não é nenhum outro, é tão somente algo que não lhe desce, que não se corresponde, não se encaixa na sua concepção cartesiana de olhar a vida, na sua visão egoísta de não se colocar no lugar e pensar apenas na sua satisfação medieval. Diante dessa rejeição, embora a experiência o faça saber que exitem outras possibilidades, você não se esquecerá que a troca não se deu por que talvez você não quis ou não conseguiu se esforçar, mas sim por que jamais você conseguirá competir.

              Que sorriso largo e encantador. Quem sabe não me confunda com outro alguém, que vive bem como pode. Dores e alegrias como condição. Mas se não me atrapalhar saberei quem sou. Um homem de coragem para fugir, ou você é convencido de que quem foge é covarde? Falta-te mais realidade para perceber que fugir é um ato solitário.

O Ser e o Nunca

          Depois que nasci, passou um tempo fui para escola. Na educação física aprendi a jogar futebol e tenho jogado deste então. Nunca fiquei com uma mulher que jogasse. Na adolescência pratiquei kung fu e agora meto um muay thai no período da noite. Nunca troquei socos com quem amasse, e na violência fosse possível o perdão pela consciência da recreatividade. Nunca namorei uma mulher fitness ou que ao menos conseguisse correr 2 km. Também gosto de magrelas, mas só me relacionei com gordinhas. Também gosto de salada, de dieta, de nutrição, mas só me envolvi com as que no máximo acreditavam que leite desnatado e pão integral fossem saudáveis. Também gosto de tênis importado, calça cara, camiseta de grife, mas só me entreguei a quem no máximo usava melissa e repetia a roupa pelo menos uma vez na semana por mero desalento. Mais tarde comecei a escrever e peguei amor pela coisa. Nunca troquei cartas com uma escritora romântica ou uma leitora ávida. Nunca trepei até o fim no papel. Até no whatsapp, todas foram precoces. Iniciei-me no superior em administração e na universidade fiquei com algumas garotas, mas depois de formado não me casei com uma que tivesse CRA. Não tive história romântica após a formatura que jamais me fizesse esquecer os dadashows, os slides, a TGA. Não me realizei amorosamente na profissão e me parece um tanto frustrante esse fato, talvez por isso não tenha encerrado minha carreira acadêmica e inconscientemente ainda tenha esperança de nas cadeiras das sala de aula estudar o meu amor. No meu primeiro ano de psicologia nada aconteceu. Li Freud, mas nunca consegui compartilhar às vontades do inconsciente. Nunca beijei uma estudante de psicologia, só de engenharia e educação física. Desisti trancando a matrícula, mas colocando a culpa na mensalidade. Comecei sozinho a ler Nietzsche e nunca tive a companhia de uma mulher para dividir a incompreensividade da razão. Comecei sozinho a ler Marx e nunca tive com quem revolucionar a alma, partilhando esperanças sociais ou caçoando da religião por ser o ópio do povo. Meu estilo musical preferido é r&b, mas ao lado do meu coração só vibrou sertanejo. Já fiz alguém feliz assistindo Mad Max, mas suspeito que nunca aceitaria ver uma peça como Hamlet de Shakespeare final de domingo. Estudei para concursos, mas sem a chance de rachar uma apostila, fortalecendo a união. Sei andar de patins e, enquanto ninguém esteve disposto a aprender, estive a ensinar. Não sei tocar violão e, enquanto ninguém apareceu para ensinar, sempre estive com o meu querendo aprender. Sei fazer cálculos matemáticos, mas não sei falar outro idioma e, enquanto ninguém apareceu para aprender ou ensinar, sempre estive buscando explicação. Não sei cantar nem dançar, mas sei nadar e cozinhar e, enquanto estive com vontade de ensinar e aprender, nunca ninguém surgiu disposta cantando com as pernas. Já me relacionei com grandes amores, mas nunca me relacionei com grandes iguais. Já tive maravilhosas companhias, mas nunca tive ideais semelhanças. Não sei se seria bom ou ruim, mas depois que nasci, na verdade, nunca me encontrei.

A Mentira de um Verdade

                       Eu sei um segredo. Eu sei uma verdade. Eu sei de algo que posso provar. Sou parte desse delito. Fui cúmplice da quele vício. Mas a última coisa que eu queria era expor essa informação. A última coisa que eu queria era usar da minha sinceridade para algo tão delicado, algo tão sensível, algo tão secreto. Eu causaria problemas se contasse isso, e acabei causando, porque acabei contando. Não foi de propósito eu não juro, não quero jurar mais nada porque não fará diferença qualquer juramento, qualquer conceito de valor: por revelar esse segredo perdi o meu valor. Precisei me tranquilizar para realizar um procedimento médico no olho e depois de realizado, sob os efeitos psicóticos do remédio eu me transbordei. Disse o que não deveria dizer para a pessoa que não deveria saber. Eu falhei nos cuidados com a palavra. Eu falhei com a minha própria confiança. Eu me julguei mal, me senti capaz, me sentir cadeado, me senti cofre, mas não passei de uma caixinha de bombons. O dono do segredo me perdoou pela traição. Ele reconheceu que eu só falei porque estava dopado. Mas o problema é que ninguém acreditou em mim. Quando disse para quem não deveria dizer, essa foi dissimulada, no fundo, pensou que eu estivesse mentindo para prejudicar o dono do segredo. Daí outras pessoas muito queridas por mim também seguiram nessa linha de pensamento. O dono do segredo, de que também faço parte, é o único que sabe a verdade, o único que confirmaria a minha pureza, que me livraria da má interpretação, que me libertária da prisão moral e injusta, da crucificação, da caveira que fazem de mim, pois se errei em dizer o que não deveria dizer, errei por conta disso e jamais deveria ser julgado como errado por além de dizer, mentir. Eu não menti! O dono do segredo sabe disso. Dei a sugestão da gente se entregar e contar toda a verdade, mas ele não quis. Disse que eu quem abri a boca e ele não quer se prejudicar com as pessoas queridas, nem ficar com a reputação queimada. Para ele o segredo é um vexame e aos queridos também é encarando com opressão. Então serei taxado como mentiroso, maldoso, cruel, salafrário, louco, diabólico, demoníaco, impertinente, insuportável, asqueroso, repugnante e ele uma vítima. O pior é que eu guardo um enorme sentimento de apego pelas pessoas queridas. Amo-as, talvez não todas, mas para eu seria importante manter a ordem, a harmônia, no mínimo o silêncio. O pior ainda é que o dono do segredo, pessoa que tanto prezo, tanto estimo, foi proibido moralmente de falar comigo no sentido de tentar ao máximo se afastar da minha companhia considerada traiçoeira, maligna, perniciosa, nefasta, mal-intencionada. Foi censurado. Foi oprimido. Diz que gosta de mim mas também gosta dos demais. Diz que agora para mantermos contato só fora de vista, oculto, só encoberto, só sigiloso, só escondido, só clandestino, na madrugada da mentira ou na penumbra da verdade, o dia não iluminará nossos olhares, o sol não bronzeará nossas conversas, talvez só os morcegos, a lua e as corujas observaram e nos faram companhia. Sinceramente, fico imaginando onde está a esperança? Essa senhora que tanto falam. Fico pensando que além da tragédia que é minha vida há outras pessoas com problemas ainda piores, vivendo coisas ainda mais cruéis e horrendas entre amigos, entre família, entre parentes, entre vizinhos... E algumas totalmente cristãs, ou budistas, ou candoblecistas, ou judias, ou pagãs... Com suas fés, suas convicções, suas esperanças lançadas em forças que sinceramente não as vejo. A quem recorrer? Ou, por que desistir de ser materialista, de querer poder, para escolher pessoas ou abandona-las quando quiser. Como não odiar? Como não sofrer? Como não chorar e chorar ao se ver não apenas sozinho, mas condenado. No fundo nunca quis ser sozinho. No fundo sempre amei e quis ser amado. Mas aí diante desses impasses como não desejar a solidão já que ela nos é forçada. Eu não optei por se excluir, e muitas pessoas também não fizeram disso a sua escolha, é que simplesmente por necessidade temos que aprender a vivermos sozinhos.

        Não entendo a desgraça da minha cabeça. Quando estou solteiro me sinto vago demais e desejo urgentemente namorar. Quando namoro me sinto ocupado demais e desejo imparcialmente me isolar. E fica assim a porra amorosa da minha vida.

Esquecer-se

Você está cansada é verdade. Você está exausto também, sabe-se.
A vontade é de abandonar o trabalho, não acordar mais, definhar abraçado ao travesseiro, encolher-se no canto e não erguer nem mais o braço para atender a porta e pedir ajuda.
Você se cansou e não foi à toa. Tem lutado todos os dias. Todos os dias uma luta nova.
O sofrimento parece não ter fim. Nada tem mais sentido, e ordem. A vontade é de não ter mais vontade.
Cadê a alegria? Ninguém mais em casa: os filhos cresceram.
Cadê a ansiedade? Ninguém mais a procura para beijar: a idade chegou.
Cadê a aventura? Os colegas amadureceram e a infância se foi.
Cadê a liberdade familiar de ficar furioso sem o medo de morrer: pais e irmãos agora estão distantes.
Você se cansou e com toda a razão.
Cansou de no momento do almoço ou na hora da pausa comer aquela marmita horrível ou aquele lanche barato.
Cansou de ver carros de luxo cruzarem seu caminho sempre andante e cabisbaixo.
Cansou de se olhar no espelho e ver traços, mas não ver vitórias.
Cansou de se envergonhar de sí mesmo, de se sentir menos, de se sentir pouco, de se sentir vão, de se sentir médio, de se sentir fútil, de se sentir leigo, de se sentir fraco.
Você se cansou e não é exagero.
Cansou de marcar encontros com as mentiras que conheceu na internet.
Cansou de se despedir, cansou de recomeçar, cansou de tantos fins, cansou de tanto se expor.
Você está só aos pedaços. No amor, quando alguém vai embora leva um pedaço da gente.
Eu entendo. Entendo o esforço para ser melhor ou o desânimo por não conseguir ser melhor.
Entendo o sentimento confuso e a vontade involuntária de chorar quando a casa está vazia, o corpo cheio e as torneiras dos olhos preste a explodir.
É impossível não se cansar. Claro, porque a gente também não se esquece...
Vou ler um livro por exemplo. Amo algo que possa ser meu, já que é difícil ser feliz, tento ser específico.
O meu risco é o de muitas vezes aparecer um desgraçado para me lembrar que tenho andado muito distraído. 🙄

Karamazov

       No livre arbítrio, Deus deu à humanidade uma grande responsabilidade, até mesmo um fardo. Todo mundo é livre para acreditar ou não em Deus, e fazer o bem ou não. Às vezes optamos pelo mal pensando num futuro perdão; às vezes escolhemos o mal por questões de sobrevivência; às vezes o mal parece ser o mais oportuno ou às vezes simplesmente nos convencemos de que não faz parte dos planos de Deus fornecer milagres convenientes que forcem os homens a acreditar no que duvidam ou para responder aos desafios da vida de determinadas maneiras. O livre arbítrio torna o caminho da humanidade mais difícil, doloroso e perigoso, mas é necessário se o homem quer evoluir para além do bem e do mal.