Eu sei um segredo. Eu sei uma verdade. Eu sei de algo que posso provar. Sou parte desse delito. Fui cúmplice da quele vício. Mas a última coisa que eu queria era expor essa informação. A última coisa que eu queria era usar da minha sinceridade para algo tão delicado, algo tão sensível, algo tão secreto. Eu causaria problemas se contasse isso, e acabei causando, porque acabei contando. Não foi de propósito eu não juro, não quero jurar mais nada porque não fará diferença qualquer juramento, qualquer conceito de valor: por revelar esse segredo perdi o meu valor. Precisei me tranquilizar para realizar um procedimento médico no olho e depois de realizado, sob os efeitos psicóticos do remédio eu me transbordei. Disse o que não deveria dizer para a pessoa que não deveria saber. Eu falhei nos cuidados com a palavra. Eu falhei com a minha própria confiança. Eu me julguei mal, me senti capaz, me sentir cadeado, me senti cofre, mas não passei de uma caixinha de bombons. O dono do segredo me perdoou pela traição. Ele reconheceu que eu só falei porque estava dopado. Mas o problema é que ninguém acreditou em mim. Quando disse para quem não deveria dizer, essa foi dissimulada, no fundo, pensou que eu estivesse mentindo para prejudicar o dono do segredo. Daí outras pessoas muito queridas por mim também seguiram nessa linha de pensamento. O dono do segredo, de que também faço parte, é o único que sabe a verdade, o único que confirmaria a minha pureza, que me livraria da má interpretação, que me libertária da prisão moral e injusta, da crucificação, da caveira que fazem de mim, pois se errei em dizer o que não deveria dizer, errei por conta disso e jamais deveria ser julgado como errado por além de dizer, mentir. Eu não menti! O dono do segredo sabe disso. Dei a sugestão da gente se entregar e contar toda a verdade, mas ele não quis. Disse que eu quem abri a boca e ele não quer se prejudicar com as pessoas queridas, nem ficar com a reputação queimada. Para ele o segredo é um vexame e aos queridos também é encarando com opressão. Então serei taxado como mentiroso, maldoso, cruel, salafrário, louco, diabólico, demoníaco, impertinente, insuportável, asqueroso, repugnante e ele uma vítima. O pior é que eu guardo um enorme sentimento de apego pelas pessoas queridas. Amo-as, talvez não todas, mas para eu seria importante manter a ordem, a harmônia, no mínimo o silêncio. O pior ainda é que o dono do segredo, pessoa que tanto prezo, tanto estimo, foi proibido moralmente de falar comigo no sentido de tentar ao máximo se afastar da minha companhia considerada traiçoeira, maligna, perniciosa, nefasta, mal-intencionada. Foi censurado. Foi oprimido. Diz que gosta de mim mas também gosta dos demais. Diz que agora para mantermos contato só fora de vista, oculto, só encoberto, só sigiloso, só escondido, só clandestino, na madrugada da mentira ou na penumbra da verdade, o dia não iluminará nossos olhares, o sol não bronzeará nossas conversas, talvez só os morcegos, a lua e as corujas observaram e nos faram companhia. Sinceramente, fico imaginando onde está a esperança? Essa senhora que tanto falam. Fico pensando que além da tragédia que é minha vida há outras pessoas com problemas ainda piores, vivendo coisas ainda mais cruéis e horrendas entre amigos, entre família, entre parentes, entre vizinhos... E algumas totalmente cristãs, ou budistas, ou candoblecistas, ou judias, ou pagãs... Com suas fés, suas convicções, suas esperanças lançadas em forças que sinceramente não as vejo. A quem recorrer? Ou, por que desistir de ser materialista, de querer poder, para escolher pessoas ou abandona-las quando quiser. Como não odiar? Como não sofrer? Como não chorar e chorar ao se ver não apenas sozinho, mas condenado. No fundo nunca quis ser sozinho. No fundo sempre amei e quis ser amado. Mas aí diante desses impasses como não desejar a solidão já que ela nos é forçada. Eu não optei por se excluir, e muitas pessoas também não fizeram disso a sua escolha, é que simplesmente por necessidade temos que aprender a vivermos sozinhos.