Quando começo a namorar sempre tiro fotos dela distraída. Coleciono seu lado mais íntimo nas pastas da criatividade. Arquivo a memória dos seus mistérios na mídia mais fina da minha percepção. Eu catálogo cada detalhe dos descuidos da sua beleza. O momento mais bonito da mulher é quando o corpo quer estar belo, mas em raros momentos escorrega na convicção. Gosto do final da maquiagem, hora em que o lápis dá os últimos contornos da majestade que se olhará no espelho. Momento curto, de extrema atenção e toque clássico, dança balé com os dedos. Eu sou cuidadoso com a imagem, capturo exatamente as que não me interessam, nossos caminhos são diferentes. Quero o que ela quer. Quero os olhos que nela brilham. Quero o ângulo da sua beleza. Quero que ela se surpreenda e diga nossa como estou estranha. Quero que ela se sinta sempre melhor que a luz do passado, mas deseje essa luz para revelar algo de novo agora. Quero a maior qualidade do seu rosto confuso. Quero a expressão aleatória das suas dúvidas. Quero o sorriso mais triste e os olhos mais baixos. Quero a beleza mais pura. Quero o encanto mais oculto dela mesma. Quero a formosura dela que ela ainda não descobriu. Quero a venustidade mais rara daquele dia mais quente, o sol a cortejará em laranja com dourado. Quero a oportunidade exclusiva de fotografar sem ela perceber a superfície mais suave da sua pele. Quero que ela se morda de raiva em saber que detenho o monopólio de seu glamour. Que tenho as fases mais neutras do seu charme. Que tenho guardado os encantos que ela nunca percebeu. Quero disponibilizar aos poucos essas riquezas. Quero fazer suspense com o brilho de cada momento. Quero ver a curiosidade dela no olhar e quem sabe fazer desse anseio a obra de arte com sabor e cheiro, azedo e doce, respectivamente. Quero extrair da sua fúria a essência mais gloriosa do seu poder feminino. Quero todo o seu pé, prateado de talento e destreza, a manicure faz sem sofrer o que eu me esforço até desmaiar. Quero mais que sua beleza, quero sua verdade.