Claro que é preciso disfarçar um pouco o sofrimento, talvez tirando fotos, talvez se maquiando ou então bebendo um pouco(para criar coragem), mas a insatisfação às vezes fica clara no vermelho do batom, no esmalte descascado, no cabelo natural, na independência adquirida, na consciência fina como um pó: se sente constrangida diante de tantos homens sozinhos e desesperados. Vai ficar mais constrangida ainda quando estiver envolvida, nessa época em que a satisfação individual é tão marcante. Vai reparar nas amigas solteiras, curtindo e reclamando, mas raramente com a mesma pessoa. Notará nas ordens, incomodada ficará com os gritos, paralisada ficará com a vigilância, sentir-se-á saturada da oferta de um amor banal. Será natural a troca rápida frente a tantas (decepções)opções. A paciência diluí-se no descarte: a rotina da mesma conversa vulgar, o ritual das mesmas frases esdrúxulas, o hábito das preciosas perguntinhas das mais inconvenientes que se possa imaginar, do repertório quando não chulo, superficial, quando não exagerado, fugaz, quando não poético, grotesco, do papo invasivo, do comportamento machista, que antes era sinônimo de virilidade. O constrangimento de ser feliz a dois vigora nos desejos líquidos mais profundos das pessoas, especialmente no da mulher que agora enxerga nitidamente o homem de debater nas ruínas dos seus próprios ossos.