Nossa música favorita desperta alegria, mesmo que com a lembrança sobre algo que se foi. Somos românticos apesar do sofrimento cotidiano. A impetuosidade da vida é a que justamente nos encanta, porque é com ela que deslumbramos o que poderia ser diferente. Surge na esperança a beleza de tentar viver. Quando há dias sem receber uma mensagem é que pensamos quão importante foi cada uma agora excluída. É possível ser bom agora. É possível chorar agora. É possível descobrir definitivamente o que é alegria. É ser aceito. É ser procurado. É ser entendido. É ser lembrando. É ser desejado. É ser alguém para alguém. É estar inserido. É estar junto e não sozinho. Mas nosso corpo não se regenera apenas na carne, os sentimentos também criam suas couraças, e aos poucos nos condicionamos a seguir como a vida nos ensinou. Aceitamos nossa condição cada vez menos dolorosa e esquecemos de aproveitar essa experiência, fazendo da infeliz solidão pretexto para duras brutalidades. É que não damos mais prestígio aos caprichos de ninguém. Não toleramos ver ninguém satisfeito só por que fomos e somos até então incompletos. Tratamos os outros como fomos tratados, matando a atitude gentil que nossa emoção ainda guarda na caixinha murcha dentro do peito. Não nos questionamos se em algum momento também fomos acariciados pela rara gratidão. É difícil perceber, mas a grosseria é deselegante, suja como a violência. O descuidado com a palavra é a estupidez cega e ingênua. Não percebemos o lodo acumulado nos cantos das nossas ações. Não estará visível aos nossos olhos que o que fazemos é reflexo do revidamento e da auto compensação. Esquecemos a paciência como se esquece um aquário, acumulado ódio em suas paredes, apodrecendo a paisagem e contaminando quem entra. Que surpreendente seria receber desculpas de alguém que se ausentou, mas agora aparece com intenção de ficar. Mas que surpreendente, tanto quanto, é procurar aquele que a gente esqueceu, mas nos perdoou pelo abandonou com um abraço. Que lindo seria receber flores agora! Mas que lindo, tanto quanto, é dar flores para alguém em qualquer momento. O problema da beleza é que ela vive recuada e quando aparece, exige o seu valor. Da mesma forma como gostaríamos de receber o “carinho” de um buquê de flores, deveríamos dar a nossa "valiosa" companhia.