9 de janeiro de 2017

Quando tudo se encaixa

    Parece uma necessidade sufocante desvendar os mistérios da indiferença no relacionamento amoroso, ainda mais nos momentos mais enigmáticos, quando temos o silêncio aparentemente como única resposta.

    O fim da relação chegou, mas a reconciliação não, e você não sabe o por quê. O reencontro foi possível, mas o beijo por dentro não, e você não entende a razão. O abraço está a um passo, mas a mão está numa outra dimensão que você não alcança.

    Embora se sinta culpado, o julgamento não é claro, as palavras não parecem sinceras, já não há mais paciência e o diálogo termina sempre em solidão.

    Você quer dizer sim, mas, muito antes de falar, engole chorando um não como resposta. É uma saudade inimiga. É uma briga sem voz. É um castigo sem fim.

    Acreditar que tudo faça parte de uma vingança seria banalizar o sofrimento! Acreditar que todo o medo nos olhos do outro seja reflexo do ódio vagando pelas sombras da amargura seria o arrependimento batendo em sua porta!

    Então, sugiro que converse com o tempo e se distraia com as nuvens.

    Confesso que não será possível sozinho adivinhar os acontecimentos. Confesso que pela mera percepção não será possível desvendar os reais motivos da distância e do frio que há entre vocês. Confesso, realmente confesso, que não será fácil obter tais informações sigilosas, ocultas pela alma da vergonha.

    Mas uma esperança é condigna: uma hora tudo se encaixa! A verdade surgir com uma espada gloriosa, que lhe dará o triunfo de se reconhecer novamente. O sorriso é bobo, porque a dúvida fica, se você com tudo venceu, ou perdeu, ao ser largado sozinho no campo minado da rejeição.

    É aí que você se deita e volta a respirar pela primeira vezes fora dos aparelhos do entretenimento. Você larga o vício. Cancela a balada. Abraça sua mãe (ou alguém íntimo) como convite para uma boa fofoca.

    A sensação é semelhante a liberdade depois da detenção. Parece um xarope doce que cai em sua boca seca e escorre pela garganta inflamada.

    Mas quem não se modificada ao obter respostas? Mas como não se perturbar diante da luz? E quem não se altera vendo um jogo finalmente acabar revelando o resultado?

    Pois é assim, quando tudo se encaixa você percebe que não vinha de você o problema, mas sim de outra pessoa. Quando tudo se encaixa você nota que do baralho você é a carta que ficou de fora, mas guardada para ser chamada numa próxima rodada.

    Você é a peça que foi tirada do tabuleiro, a bola removida da mesa, o dado que não foi lançado.

    Quando a vida do outro seguiu, mas estagnados permanecemos aqui.

    Essas coisas raramente acontecem sem motivo alheio a nossa convencida criatividade.

    É por que muitas vezes nos convencemos que o problema é nosso, quando na verdade o problema se quer passou pela nossas mãos. O problema já está nas mãos de outra(o) a tempos. O problema já faz parte de uma história diferente em que você não é personagem. O problema já é outro jogo e está num nível muito além do que poderia imaginar.

    Entretanto, é importante saber que ser descartado não significa ser esquecido.