Quando somos deixados a ideia de que não podemos fazer absolutamente nada faz-nos mergulhar num estado de sufoco mas, ao mesmo tempo, essa ideia nos tranquiliza com a sensação de alguma liberdade à frente. Por que então não confiar nesse alívio já que ninguém obrigou o sujeito a tomar a decisão de partir? Nem sempre precisamos ficar com os olhos fixos no muro do prédio, na parede do quarto, no espaço lá fora ou na tela do celular grudado nas mãos. Nem sempre é preciso ficarmos nos indagando se queríamos ou não conviver juntos. As pessoas decidem tudo por conta própria. Só que nem sempre percebemos isso, muito pelo contrário, olhamos para trás com fascínio, com remorso, quando deveríamos dizer que nosso caso não poderia ter terminado melhor. Se fosse inventado, não teria sido possível acabar de outra maneira. Um dia, a pessoa chegou em nossa vida sem ser convidada. Um dia, a pessoa parti da mesma maneira. Chegará com uma pesada mala. Com uma pesada mala partirá de volta. Pagará a conta, sairá do restaurante e irá dar uma volta pelas ruas, cheio de uma melancolia cada vez mais radiosa. Você será responsável? Atrás de si vários anos de vida com quem justo agora sente que não poderá sobreviver longe um dia se quer e exatamente agora perceberá que esses anos estão mais belos na lembrança do que no momento em que tinham sido vividos. O amor entre você e o sujeito era belo mas doloroso essa é a questão: era preciso sempre esconder alguma coisa, dissimular, fingir, retificar o que dizia, levantar-lhe a moral, consolá-la, provar continuamente que o amava, suportar as reclamações de seus ciúmes, de seu sofrimento, de seus sonhos, sentir-se culpado, justificar-se e desculpar-se. Agora, o esforço desapareceu, e só ficará a beleza.