25 de junho de 2022

E depois que tudo acabou?

O que eu faço se depois que me tornar religioso, cair em doença ou extrema miséria?

R: Comece a vender todas as suas coisas para comprar remédios para se curar ou comida para sobreviver.

E depois que tudo acabou?

R: Não haverá outra escolha a não ser virar pedinte ou medingante. 

Mas tenho vergonha de pedir, então o que eu faço?

R: Posso te responder de duas formas: prática e filosófica. Qual você escolhe primeiro?

A prática.

R: Se você está doente ou em extrema miséria e seu corpo físico, junto com sua mente, não lhe trás nem oferece saídas ou soluções, conscientemente você não é obrigado a sofrer por conta dele, já que é por conta dele que você está doente ou em extrema miséria, oras, pois se não fosse pelo corpo, você não estaria assim, nem precisaria comer, beber ou vestir. Então, a melhor saída é renuncia-lo abandonando-o. Essa prática se chama Tyaga, ou Vyutsarga, e os métodos se chamam Prayopavesa, ou Sallekhana, que referente-se a um forma de cortejar a morte piedosa voluntária, abandonando desapaixonadamente o próprio corpo.

E a filosófica?

R: Se você tem vergonha ou não tem coragem de pedir ajuda ou esmolas, então você tem orgulho, pois não é justo que os seres advinhem que você está sofrendo e venha espontaneamente lhe oferecer favores. Primeiro as pessoas precisam saber da sua situação para assim poderem ajudar. Se o seu orgulho lhe impõe vergonha e não o deixa pedir, então você não sofrerá à toa, já que é por conta dele que você está sofrendo. O maior orgulho que uma pessoa pode ter é o de não querer pedir e apesar de parecer que pedir seja incoveniente, primeiro você precisa experimentar para ter certeza, e se depois que você começar a pedir, perceber hostilidades como consequências dessa ação, aí sim você terá motivos para não ter mais coragem, porém, ter vergonha é ter orgulho. O seu corpo está sofrendo inúmeras misérias e você por orgulho não pede ajuda. Esse orgulho é caracterizado pelo fato de que o seu corpo é apenas uma matéria mortal ou apenas um veículo para seu Espírito. Você só precisa sustenta-lo para aprender a ser imortal e assim, por essa razão, não há motivos para se envergonhar em pedir, pois o seu corpo não sofre por ser humilhado. Só o fato dele ser mortal, em si é a própria vergonha. Só o fato do corpo envelhecer, adoecer e morrer, é a maior de todas a humilhações. Então pedir não é vergonhoso e ser humilhado não é sofrimento. Vergonha e humilhação é nascer para envelhecer, adoecer, morrer e reencarnar para novamente envelhecer, adoecer e morrer. 

Mas se eu amo meu corpo e não gostaria de renunciar a ele. Às vezes penso em roubar. Seria justo? O que eu faço?

R: De fato ninguém dá as boas-vindas à morte. Por exemplo, o comerciante engajado na venda, compra e armazenamento de várias mercadorias não aceita a destruição de seu armazém. Se surgir algum motivo para sua destruição, ele tenta o seu melhor para protege-lo. Mas se sua destruição é iminente, ele tenta salvar da ruína pelo menos as mercadorias. Da mesma forma, você, empenhado em adquirir as felicidades com seu corpo físico não deseja a ruína desse receptáculo de virtudes da sua alma, a saber, o corpo. Mas quando o corpo enfrenta perigo, você deve tenta evitá-lo de maneira justa, sem violar as leis, pois se estando livre pela Terra já é difícil, imagina correr o risco de ser preso numa cadeia ou num inferno? Caso não seja possível evitar os perigos para o corpo, faz sentido que você tente pelo menos salvaguardar sua dignidade e seu destino. Como pode tal esforço ser pior do que roubar? Mas se você realmente quiser fazer isso, o livre arbítrio é seu.