24 de junho de 2022

Por que me tornei miserável

Tudo começa quando não aceitamos mais trabalhar. O trabalho é a primeira maldição da Terra e depois as dores de parto. Caim não é o responsável por trazer a morte para esse planeta. Quem começou a matar foi o próprio Criador quando precisou vestir Adão e Eva com pele de cordeiro. Mas caim também foi vacilão por querer se vingar de Abel só por que gostava de fazer churrasco com os animais. Todos os animais são folgados, por isso os açougues estão cheios e por isso Deus não perdoou e usou eles como primeiro sacrifício. Os animais são irracionais. Na selva eles não tem piedade. Não há ética nem filosofia numa mata selvagem. O que há é muito barulho, desordem e agressividade. Nenhum ser humano, por mais santo, puro, humilde, honesto, bondoso, consegue escapar de um leão faminto, de um crocodilo astuto, de uma cobra venenosa. Mas isso não justifica comermos a carne de animais para sobreviver. Então, quando não queremos mais trabalhar, começamos a procurar entender todas essas questões problemáticas da criação. Como hoje em dia não existe mais lugar seguro para viver e não encontramos mais comida fácil nas árvores, tentamos buscar algum entendimento vindo das escrituras e de Deus para se libertar da raiz de todas estas necessidades. Não leva nem 1 ano de estudo para compreendermos que a única forma de se livrar é com uma morte consciente, pois o espírito que vive dentro do corpo se alimenta apenas de luz solar e não de comida. A partir do momento que adquirimos tal conhecimento, começamos a cair numa miséria profunda por que segundo as escrituras sobre a anatomia do corpo, para que o espírito saia dele é necessário começarmos a praticar a atenção plena na respiração, já que o espírito é a consciência em forma de um átomo de ar preso na cabeça dentro da glândula pineal. No topo da cabeça, há um ponto conhecido como Brahmarandhra. Quando uma criança nasce, neste ponto sensível, é onde o osso não se forma até que a criança atinja uma certa idade. Randhra é uma palavra sânscrita, mas também é de uso comum em outras línguas indianas. Randhra significa uma passagem, como um pequeno buraco ou um túnel. Este é o espaço no corpo através do qual a vida e o espírito desce para o feto. O processo vital tem a consciência de manter em aberto suas opções sobre se esse corpo é capaz de sustentá-lo ou não. Assim, ele mantém esse alçapão aberto por um certo período para que, caso encontre o corpo inadequado para sua existência, ele saia – e não quer sair de nenhuma outra passagem do corpo; ele quer sair do jeito que veio. Um bom convidado sempre entra pela porta da frente e sai pela porta da frente. Se ele entrar pela porta da frente e sair pelos fundos, isso significa que sua casa foi varrida! Mesmo quando você sair um dia, se você sair conscientemente por qualquer parte do corpo, está tudo bem. Mas se você pode sair através do Brahmarandhra, é a melhor maneira de sair. Até conseguirmos fazer esta consciência em forma de um átomo sair do corpo, vamos sofrendo as necessidades do corpo. Para chegar nessa compreensão leva mais ou menos 3 anos de investigação da realidade, estudo intenso e enquanto isso, se tivermos sorte de termos coisas matérias para ir vendendo e sobreviver maravilha, senão temos que começar a pedir esmolas. Quando a compreensão total chega, porém, em alguns casos como no meu, todos os bens materiais também se esgotam. Se você não tiver uma família, corre o risco de ter que se prostituir, ou virar pedinte, ou se entregar a fome. Se entregar a fome é o que muitos sábios fazem. Karmicamente é uma maneira segura de morrer, mas perigosa por que se você não tiver um local físico adequado para cair morto de fome, você pode ser atacado pela irracionalidade de animais predadores e até mesmo de alguns seres humanos. Há sempre uma forte chance de morrermos ao dormir, já que todo nosso corpo reduz suas atividades vitais quase ao ponto de morte. Buda, por exemplo, abandonou o corpo meditando na respiração. Mas enfim, libertar o espírito é muito difícil, difícil para todos. Para voltarmos a trabalhar, desistindo da morte e tentando levar uma vida física normal é quase impossível. O karma não permite que você volte ao trabalho. Eu digo isso por experiência própria. Estou a mais de 3 anos desempregado e mesmo procurando não encontro nada nem na área da limpeza que é a mais desvalorizada. Essa dificuldade e miséria acontece por que todos os seres estão em sofrimento e quando temos compressão da realidade, sabemos o que é melhor para nós. Sabemos que com dinheiro podemos ir para lugares mais tranquilos, talvez levar uma pessoa, viver um romance e concluir os estudos. Fora do pensamento linear, isto se chama Hieros Gamos. Pois sabemos que o melhor é não ter corpo, mas também sabemos que ter um corpo com dinheiro não é ruim, pois com dinheiro temos a chance de nos isolar do mundo para praticar o abandono do corpo com mais calma e eficiência. Podemos encontrar uma companhia e nessa fase da vida realmente nossa companhia passa a ser nossa alma gêmea. Com dinheiro podemos nos afastar para morrer juntos num lugar seguro. Porém, Deus não gosta do mundo nem das coisas materiais, então para ele é mais vantagem fazer com que o estudante fique pobre e seja forçado a conviver sem recurso, porém em sociedade, para que o estudante, em sua insatisfação com o sofrimento, transmita tudo o que aprendeu sobre ele, o corpo e a morte, ajudando outros a desvendar os nós e laços do nascimento. O mesmo que acontece com a maioria dos sábios, religiosos e o mesmo que aconteceu com os Apóstolos. É por isso que me tornei miserável, para estar aqui escrevendo isso para você, por que se eu tivesse dinheiro já não estaria mais vivo e esse conhecimento não chegaria nem para você nem para humanidade.