Por favor, não pense que é exagero ou engano. Acredite em mim. Não faço por mal, nem por orgulho, não faço pensado, nem retraído. Não brinco de amar, não coleciono paixões. Tudo o que falei para você foi por que acreditei que fosse verdade: acreditei em seu perfume diário, no resto dele em meu rosto. Acreditei em seu sorriso, na beleza dele pelas manhãs. Acreditei em seus convites, guardanapos do seu cheiro. Acreditei em seu olhar, na ingenuidade e ponderamento, observando meus erros com as lentes do perdão. Pensei que fosse possível alcançar seu corpo, misturar-se, fazendo da cor bege ícone da nossa paixão. Mas eu não me entreguei, não me convenci, não raciocinei, não desisti. Eu nem comecei, não vou terminar. Não sei o que fiz, não quero o que quero. Você me chamou e me iludiu. Agora não sei, nem quero saber. Só não olhe para mim como me olhava. Só não me peça como me pede. Só não seja romântica perto de mim. Não me castigue com sua simpatia. Quero que me olhe feio. Quero que me exclua da intimidade e me adicione na lembrança. Não é machismo, não é frustração, não é vergonha, não é desalento, é você, apenas você. Todos os dias ali, todos os dias a me explicar, a me ensinar, a me contradizer só com o olhar. Todos os dias ali, quieta, de poucos movimentos, de muita paciência, de fina educação. Todos os dias ali, procurada, desejada, consciente, decidida. Todos os dias ali, revolucionando, resolvendo, deduzindo, tolerando. Todos os dias ali, tocada, apreensiva, por isso indiferente. Pensa que estou jogando sujo, pensa que não faz sentido, pensa que não há propósito. Você está errada, mas também não vou te provar, você é independente demais para isso. Elimine minhas raízes, descarte minhas brincadeiras, ignore meu humor, envenene as esperanças, seja assim, mas não permita continuar como está. Não é revolta, não é desculpa, não é insensibilidade, é medo. Medo de me apaixonar em vão.