20 de abril de 2017

Desgosto Selvagem

      Pedi para ela não se depilar. Pedi para ela não se maquiar. Pedi para não se pentear. Mas só se ela quisesse, nem que fosse para experimentar, eu pedi. Pedi também que não fizessem as unhas, que não lixasse os pés, que só tomasse banho sem passar perfume, que fosse ela aquela não dos fins de semana, mas dos meios da semana, que fosse ela aquela não ao meio dia, mas a do dia todo, que fosse ela não a comprometida do shopping, mas a solteira na padaria, não queria salto, poderia ser chinelo, não queria cheiro, poderia ser odor, não queria liso, poderia ser áspero, não queria macio, poderia ser duro, poderia ser seco, poderia ser natural, eu não queria batom, poderia ser o brilho do cuspe. Respondeu que ficaria estranha, algo como das cavernas. Então a encarei ainda mais curioso, fiquei ainda mais instigado. Imaginei ela pelada no mato, assustada, selvagem, no cio, pronta para acasalar. Fêmea devassa, feroz, no seu estado fisiológico cíclico mais intenso. Uma mamífera maravilhosa, toda alterada, preparada e favorável à fecundação. Não seria algo a ser controlado, a ser discutido, a ser ponderado, a precisar de acessórios, a ser enfeitado, seria só vontade de dar, seria só vontade de comer, de um jeito real, sem tempero para desfaçar as vergonhas. Quando ela chegou, reparei nas unhas enormes, mas sem tinta, e de minissaia, notei a perna peluda, por isso mais grossa. Estava volumosa, cheia, com carinha de sedenta e talvez refletindo: se ele me comer assim vou gozar várias vezes. Talvez estivesse ansiosa, desesperada para ver se aquilo era verdade, embora estivesse se achando esquisita, quando sentiu minhas mãos sobre sua pele e minha língua chupando seus cabelos, percebeu que não era fetiche, mas admiração, percebeu que não era ilusão, mas real, percebeu que não era curiosidade, mas prazer. Olhava-me com satisfação, empolgada dominou meu corpo, não quis sair da posição, descontrolada foi arrasando as mobílias, mudando os objetos de lugar. Parou por que o joelho estava ardendo devido o atrito, ficou arreganhada na cama, com a calcinha de lado, teve uma surpresa, eu não aguentei. Numa outra vez que nós vimos, tomei um susto, estava toda produzida. Foi aí que suspeitei por que mulher raramente atendente todos os pedidos sexuais: porque senão ela nunca aproveita. (risos)