20 de abril de 2017

Intimidade

     Por que essa demora atual de nos casarmos? Depois, essa rapidez em assinar o divórcio? Haveria mais de uma resposta? Posso dizer que há dois anos dedico-me arduamente ao futebol de salão e antes desse esforço, considere que eu fosse um deficiente. Não tinha condição de se quer chutar uma bola parada, também não tinha passe, não tinha toque, não tinha drible. Sem velocidade, sem resistência, sem força, minha criatividade mancava pelas quadras fazendo jogo contra. Mas eu sempre amei futebol e nunca desanimei, nunca aceitei esta vergonha. Se é o que eu gosto, por que não me debruçar, não estudar, não aprender, me perguntei. Foi assim que larguei tudo, fui de graça em busca de uma felicidade banal. A troco de nada material, por vontade própria e sozinho, empenhei-me. Perdi alguns amigos, terminei um bom namoro, parei de estudar, troquei momentos em família por uma bola e mais 9 desconhecidos. Arrumei inúmeras confusões, fui espancado, fui intimidado, fui expulso, agi com violência, me machuquei, mas hoje tudo mudou. O casamento também é assim. No começo parece uma brincadeira gostosa, suave, descontraída, mas o tempo vai passando e as cobranças vão crescendo. O nível muda, as dificuldades aparecem, cercadas pelas exigências do amor. Como compreender e aceitar o que não imaginávamos antes das alianças? O casamento só é duradouro quando se vive por uma questão de prazer, de necessidade, de paixão. Parece difícil de prever se tudo terá um final feliz, se essa magia jamais acabará, se essa realidade não é no fundo um sonho que logo chegará ao seu fim. Os anos passam, brigas são esquecidas, discussões são evitadas, já antecipamos o comportamento do outro, os momentos sensíveis ao outro, os momentos decisivos ao outro, os momentos que exigem calma e os que exigem empoderamento contra o outro. Criamos habilidades dentro do relacionamento por não desistirmos. Observamos nossa companhia, nos especializamos em cada defeito, nos aperfeiçoamos em cada virtude. O domínio é preciso, o chute é certeiro, sempre em busca do melhor ângulo para jamais se arrepender. Entra-se em quadra com tudo planejado, sendo assim, livre de motivos para se estressar. Começamos e saímos satisfeitos, por que tocamos quando poderia tocar, damos a pancada porque o espaço estava livre, silenciamos quando nada mais deveria ser dito, discutirmos quando deveria discutir, gritamos quando foi preciso gritar e graças a essa intimidade é que conseguirmos terminar vitoriosos, recomeçando sem nunca mais perder. O casamento só deve continuar se for por dedicação, todos os dias são dias de treino, para que um dia finalmente tudo volte a ser brincadeira. Chegará o momento que nada mais abala, nada mais confunde. Já conhecemos e amamos tanto o outro que independente do que aconteça sempre será diversão, porque não existirá mais nada e ninguém capaz de competir.