20 de abril de 2017

        Não muito diferente dos momentos em que estamos recheados por problemas, as oportunidades repentinas de sermos felizes​ nos torturam por exigir que tomemos decisões rápidas, que quando não são nossos braços e pernas, é nossa moral que não acompanha a velocidade das surpresas e os encantos dos mistérios. Confundimos paz com tristeza depois do desgaste e da cobrança. Preferimos nos isolar, desaparecer e procurar se reorganizar para que tudo finalmente volte ao normal da solidão. Até para aqueles que odeiam viver sozinhos, está aí uma ocasião depressiva, de se autossabotar, livrando-se da culpa por sozinho conseguir entender os problemas. Diante da felicidade somos desafiados a fazer o insustentável. Você estará num quarto com várias mulheres dispostas a transar, mas por algum motivo, embora toda a situação tenha sido fruto de alguma fantasia sua, não conseguir dá conta de nenhuma, se desestimular ao vê-las competindo entre si, não querer ofender essa ou privilegiar aquela em prejuízo de outra ou da harmonia que se gostaria de ter com todas. Mas suas ponderações e carinho ali infelizmente não são consideradas e você acaba sendo zombado pela fragilidade ou criticado pela impotência. De repente, ficamos ricos, detentores de uma enorme quantidade de bens e recursos financeiros, mas não demora muito para sermos assaltados e postos pela ingenuidade a beira do sufoco, o desespero de ser ameaçado, de ser coagido e ter a vida em jogo por conta daquilo que tanto desejou. Ser obrigado a se proteger, a vigiar, a não dormir, rodeado por sensores e sirenes, câmeras e vigias, precisando se afastar do bairro, precisando usar óculos escuros, usar bonés aba curva, blindar o carro, contratar seguros, quanto antes melhor. Pequenos detalhes, comer demais numa festa, aproveitando do sabor e da fartura, para mais tarde inevitavelmente passar mal, ou na roda de amigos se drogar, atingindo o ápice da criatividade e do bem estar, para mais tarde se quer lembrar das inimizades que provocou, dos estranhamentos, dos bens perdidos, do reencontro consigo mesmo, refletindo amargamente os resultados do excesso de euforia. Aprender a lidar com a solidão é conquistar o diploma do cursinho preparatório para felicidade.