Não muito diferente dos momentos em que estamos recheados por problemas, as oportunidades repentinas de sermos felizes nos torturam por exigir que tomemos decisões rápidas, que quando não são nossos braços e pernas, é nossa moral que não acompanha a velocidade das surpresas e os encantos dos mistérios. Confundimos paz com tristeza depois do desgaste e da cobrança. Preferimos nos isolar, desaparecer e procurar se reorganizar para que tudo finalmente volte ao normal da solidão. Até para aqueles que odeiam viver sozinhos, está aí uma ocasião depressiva, de se autossabotar, livrando-se da culpa por sozinho conseguir entender os problemas. Diante da felicidade somos desafiados a fazer o insustentável. Você estará num quarto com várias mulheres dispostas a transar, mas por algum motivo, embora toda a situação tenha sido fruto de alguma fantasia sua, não conseguir dá conta de nenhuma, se desestimular ao vê-las competindo entre si, não querer ofender essa ou privilegiar aquela em prejuízo de outra ou da harmonia que se gostaria de ter com todas. Mas suas ponderações e carinho ali infelizmente não são consideradas e você acaba sendo zombado pela fragilidade ou criticado pela impotência. De repente, ficamos ricos, detentores de uma enorme quantidade de bens e recursos financeiros, mas não demora muito para sermos assaltados e postos pela ingenuidade a beira do sufoco, o desespero de ser ameaçado, de ser coagido e ter a vida em jogo por conta daquilo que tanto desejou. Ser obrigado a se proteger, a vigiar, a não dormir, rodeado por sensores e sirenes, câmeras e vigias, precisando se afastar do bairro, precisando usar óculos escuros, usar bonés aba curva, blindar o carro, contratar seguros, quanto antes melhor. Pequenos detalhes, comer demais numa festa, aproveitando do sabor e da fartura, para mais tarde inevitavelmente passar mal, ou na roda de amigos se drogar, atingindo o ápice da criatividade e do bem estar, para mais tarde se quer lembrar das inimizades que provocou, dos estranhamentos, dos bens perdidos, do reencontro consigo mesmo, refletindo amargamente os resultados do excesso de euforia. Aprender a lidar com a solidão é conquistar o diploma do cursinho preparatório para felicidade.