As cenas de um casamento são as cenas da barbaridade criadas pelas expectativas individuais dentro do relacionamento. Inicialmente, são episódios que retratam alegrias, transitivas à paulatina infelicidade. A princípio em momentos de aparente bem estar, evoluem para o inevitável declínio da relação. Depositamos a crença e segurança no que construímos até aqui: a fé que surge após anos de convivência. As aparências se mantêm com pequenos - porém sucessivos - desentendimentos. Mas o trama tende a explodir quando o encantamento some, o interesse esvai e as exigências deixam de ser atendidas. Em meio ao transtorno, somos quase incapazes de dissecar o doloroso processo de separação e de se convencer que o que era “ideal” no fundo tratava-se de uma ilusão. Não se tem de maneira seca e sutil o empoderamento de raciocinar sobre os erros da esperança, para além da tentativa egoísta de resgatar o que se foi ou recriar o que se queria. O resultado incomoda, mas é absurdamente belo, tudo por se tratar de uma vontade humana que nos submetemos e que de alguma forma somos obrigados sobressair à compensação de não sofrer. Em diálogos agressivos, nos deixamos aflorar os mais ocultos ressentimentos e amarguras; tudo em plena sintonia com a média natureza psicológica de um moderno convívio líquido, oposto às facetas patriarcais da condição humana.