20 de abril de 2017

Treino de queda

Todas as primeiras vezes são traumáticas. Exemplo é quando somos informados sobre a paternidade ou quando nos levam bens em decorrência de assalto a mão armada. Isso se dá geralmente pela ilusão de que como nunca aconteceu, talvez nunca acontecerá. Vejo pessoas encherem o peito pra falar que nunca foram roubadas em São Paulo, insinuando que o ato só ocorre àqueles mais despreparados ou desatentos. Vejo amigos comentarem sobre as noitadas, que prevenção é necessário apenas àqueles que não sabem avaliar suas pretendentes e para quem sabe, como eles, se exaltar pela qualidade de perito entre o mulheril. Quando de repente chega a notícia. Quando de repente vem a surpresa. Quando de repente o azar se fantasia de desgraça. Vai chorar e se arrepender. Vai dizer que ainda tinha sido avisado. Vai procurar uma palavra amiga, um consolo, um abraço. Passamos por isso no amor. Nas fases em que estamos com a perfeita auto estima, pisamos em corações como se juntos formassem um tapete vermelho. Por capricho, destruímos esperanças. As variedades e oportunidades engordam nossa certeza de que outro amor nunca faltará. De que ao certo não é bem amor que demandamos. Ao certo é que não sabemos. Aproveitamos as chances da impossibilidade. Em quando tiver vamos gastando. Em quando nada acontecer não percebemos. Geramos sofrimento pelo descaminho, às vezes pela pura ingenuidade, às vezes pela pura falta de caráter. Mas, de repente, sempre de repente, haverá mais ninguém depois do último relacionamento. O celular não vibrará e as sextas-feiras tomaram o lugar vermelho no calendário. A primeira reação será lembrar do passado, será recuperar o carinho, será reconquistar a atenção e ainda assim nada estará pedido. As possibilidades serão duas: ou chorar ou engolir o choro.